A minha amostra é tão absolutamente aleatória que deve ter um alto valor científico. A avaliação baseia-se no mesmo número de obras por autor (uma, concretamente). O único género testado foi o romance. Comecei pelo Pérez-Reverte e estou a acabar no Montalbán, tendo entretanto passado pelo Falcones e pelo Zafón. Note-se que esta familiaridade (o Falcones para cá e o Zafón para lá) é a posteriori; até agora só sabia da existência dos outros dois, o Reverte e o Montalbán, e nunca tinha lido nada de nenhum.



Sem sair de Barcelona, passei para A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón. Este intrigou-me particularmente. Que vendeu não sei quantos milhões de exemplares em meia hora, que ganhou os prémios todos e mais alguns, que isto e aquilo e mais o outro... Esqueçam isso tudo. Façam como eu devia ter feito: vejam a foto da capa, que não é má de todo, atentem um bocadinho no título e sigam o instinto que vos diz que alguém capaz de escrever um livro de jeito também seria capaz de lhe arranjar um nome em condições. A Sombra do Vento... Sinceramente. Uma coisa tem que se reconhecer ao Zafón: com um título destes ninguém pode dizer que foi ao engano. A Sombra do Vento. Sem falar em tudo o resto, que é igualmente mau, confesso que fiquei siderado com o truque de ele e ela, os apaixonados até à morte, serem irmãos e não saberem. Julgava que havia uma espécie de acordo tácito entre escritores e leitores para não se voltar a usar esse número fora do domínio das telenovelas. O embuste é de tal ordem que lá para o fim, quando o narrador-protagonista diz que morreu daí a sete dias, a gente já nem se admira. Aliás, até dá algum sentido a tudo o resto, na medida em que dificilmente se podia exigir a um morto que escrevesse como deve ser. Claro que no finzinho mesmo o gajo afinal não morreu. Infelizmente, diga-se. Sempre seria uma pequena consolação para os desinfelizes de juízo que lêem aquela porcaria toda.

Conclusões e moral das histórias: pelo seguro, acho que me vou manter tão longe do Montalbán como do Zafón; vou dar uma segunda oportunidade ao Reverte; se me aparecer mais alguma coisa do Falcones marcha imediatamente, na plena consciência de que poderá não estar à altura da Catedral; 50% dos romances espanhóis não valem um calamar; na dúvida, como em quase tudo, é de evitar aqueles de que mais se fala. E olé.