"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

22.3.07

Tuguíadas I, 103/106 (é o fim!) (do Canto Primeiro...)


Nessa equipa, entretanto reforçada,
Gente nova e famosa refulgia,
Entre outra que ficou mais olvidada:
Rui Costa, pelo Fafe, quem diria!
Penafiel, de fraca nomeada,
O bicho Jorge Costa defendia;
Do Porto não faltava a mocidade
De azul e branco, cores da cidade:

Toni, Tulipa e Cao — trio marado!
Nelson, que do Salgueiros então era,
Capucho (Gil Vicente) e o mais dotado
Luís Figo, bandeira da cantera
De Alvalade, que tanto nos tem dado.
Rui Bento, Gil, Abel de Xaviera,
Que o Benfica inda não representara,
Paulo Torres, fortíssimo dispara!


Tó, do Famalicão, e seus amigos,
Luís Miguel, do Rio Ave o mais esperto,
João Oliveira Pinto, dos antigos
Operários do Atlético, mais perto.
Por grandes ou por graves, os castigos
Que a vida após lhes tenha descoberto,
Naquele dia a mais louca esperança
Sorriu-lhes, carregada de bonança!

Saíu por cima, enfim, o lusitano
Perfume da jogada mais corrida!
Sobre este Canto cai agora o pano
(Boas novas, ó gente aborrecida!).
Faltam nove, se não muito me engano,
Para que a versalhada concluída
Seja, assim fora eu capaz do pleno:
Acabar este feito despequeno!

(...)

Nota: Ontem, por respeito ao Dia da Poesia, decidi guardar isto para hoje e assinalar também, com ligeiro atraso, o Dia do Pai. Usei as palavras do meu, que tantas vezes tanta falta me fazem.

21.3.07

Os mortos perguntam

Nos rumos perdidos dos ventos trocados,
Todos os rumos,
Nos fundos das piras dos mortos cremados,
Todos os fumos
de todas as piras...

Nas iras dos mares
Que beberam sangue
Todas as iras...

Na ânsia enlutada de todos os lares
Vazios de esperança
Todas as ânsias
De todos os lares...

Nos sexos sangrentos das virgens violadas
Os farrapos
a sangrar
De todos os sonhos que homens sonharam
E homens violaram...

Em todas as dores dos vivos da terra
todas as dores dos mortos da guerra...

E os rumos perdidos
e os corpos ardidos,
e as iras inúteis,
e as ânsias caladas,
E os sonhos, sujos como vidas de virgens violadas,
E todas as dores
de todos os mortos que a guerra matou,
e todos os lutos
de todos os vivos
que a guerra enlutou,
Perguntam,
perguntam,
perguntam
a todos os ventos
a todos os mares
às roupas de luto de todos os lares,
Se valeu a pena...

... Os mortos perguntam...
Mas os ventos trocam-se,
o mar não serena,
as viúvas continuam a chorar,
e os mortos não páram de perguntar
se valeu a pena...

... Mas a esperança é longa
é bela de agarrar no fundo dos martírios...

Os mortos perguntam,
Os mortos protestam...
... Irmãos, os braços são magros,
mas longos,
Longos da ânsia de querer...
... A pergunta é grande e a força é pequena,
mas só nós podemos, Irmãos, responder,
Se valeu a pena...

António Neto, 1948

20.3.07

Underson


Então não é que um homem lá acaba por se decidir a ir à Reboleira e vem este indivíduo desassossegar os músculos cardíacos de toda a gente? Valeu o outro personagem, quem diria. Luisão: volta depressa que há um Luizinho à tua espera na zaga e um lugar no banco à espera do Underson. Adepto sofre...

18.3.07

O tempora, o mores

Alguém me conseguirá explicar o que faz este fulano (para não lhe chamar indivíduo)


no lugar que já foi deste Homem


e deste senhor?


De tempos que eu me lembre como gente (ou seja, de Zé Gato, e já muito vagamente, em diante), só encontro um possível termo de comparação com o fulano: esse mesmo, o Bossio. Qualquer irmã ou tia-avó do Silvino, do Neno, do Enke, do Moreira, do Quim ou do Nereu (com as devidas desculpas a algum que me esteja a faltar de momento), dava mais sossego ao adepto que este criaturo (para não lhe chamar energúmeno). A única hipótese que me ocorre tem a ver com isto passar-se numa liga patrocinada por uma casa de apostas (hipótese que se aplica por maioria de razão às competições europeias, entregues à máfia propriamente dita, sob a designação de UEFA).

E o que é que leva um homem a considerar a hipótese de ir à Reboleira com aquilo (para não lhe chamar isto) entre os postes? Nós, os adeptos, somos loucos.

15.3.07

Tuguíadas I, 101/102


Um alfinete a mais já não cabendo,
São milhares co’a vida por diante,
Dando luz às bancadas, e sofrendo,
Nas entranhas, até, em cada instante,
O empate ou resultado mais horrendo.
Foi d’ouro, a geração, ou diamante
(Que corta, como vidro, a outra gente
Costumada aos triunfos, longamente)?

A glória se viveu por mais um dia:
No rubro estádio a festa começava,
Pelas ruas e praças se estendia,
P’lo continente e Ilhas se espraiava.
Do Mundo todo a taça reerguia.
A turma que Queirós bem comandava,
Duas vezes seguidas vencedora,
E a segunda na Luz, que nos adora.

(...)

12.3.07

Oh Lord won't you buy me a Mercedes-Benz?


Hoje este senhor faz anos. Parabéns (especialmente aos lucky few que tenham um, caso em que, no entanto, os sentimentos da inveja se podem sobrepor aos parabéns). Caso Deus exista e esteja sem saber o que me dar nos anos, aqui fica a sugestão. Caso Deus, a existir, não se lembre já do que criou em 1952, aqui fica a referência: Mercedes 300 SL.

9.3.07

Tuguíadas I, 99/100


A semente, regada, bem germina,
E repete o que o povo agora pede.
A mesma geração, ‘inda menina,
Na Luz a lotação agora excede:
São cento e trinta mil, ao que imagina,
Quem contar já não pode, já não mede.
Na final o Brasil a taça clama
Perante a lusa mão qu’ela reclama.


Termina sem vitória nem derrota
A contenda, aos noventa, prolongada
Por mais trinta, mas sem digna de nota
Bola nas redes bem encafuada.
Pr’ós penáltis prepara a sua bota
Quem tal carga lhe vê ser confiada.
E enquanto que o Brasil só dois metia
C’o dobro Portugal os mataria.


(...)

Pérolas Vermelhas (X)



"Dzhh! Dzhh! Dzhh..." Terão sido estas as últimas palavras de Estaline, na sequência de um badagaio de índole cardíaca que o deixou prostrado durante horas sem que ninguém se atrevesse sequer a ir ver o que é que se passava.

Quando, passadas essas horas, alguém sentiu o medo de não ir ver sobrepor-se ao medo de ir ver, o que viu foi o Ti Zé no chão, em pijama bastante urinado, contorcendo-se a custo e dizendo, apenas, "Dzzhh! Dzhh...". Seguiram-se mais uma carrada de horas, durante as quais o círculo mais próximo do Grande e Estrebuchante Líder procurava decidir o que fazer, para além de pegar no Ti Zé e deitá-lo no sofá da sala onde se encontrava.

Aquilo que noutras circunstâncias e com outras pessoas seria uma acção automática — chamar um médico — foi um dilema muito difícil de ultrapassar. Naquela altura, estava em curso uma purga sistemática da classe médica. Os médicos reconhecidamente mais competentes estavam acusados, presos, degredados e por aí fora. E todos eles, pelo facto de serem médicos, estavam sob suspeita. Havia um certo receio entre os potentados de que o Ti Zé, a reagir, reagisse mal ao simples facto de ver um médico por perto.

Entre todas as versões possíveis e imaginárias, do envenenamento à passividade propositada, a que surge como mais plausível da leitura do Montefiore* é talvez a mais simples e a mais terrível: medo. Medo de Estaline, ainda que visivelmente nas últimas, medo uns dos outros, medo puro, desmedido e entranhado.

The End - Koniec - Dzhh

* Relembro que todas estas pérolas são retiradas de Estaline, A Corte do Czar Vermelho, de Simon Sebag Montefiore.

6.3.07

Hoje somos todos portugueses


E o nosso coração só tem uma cor: azul e branco.

Ausência

O Desinfeliz tem estado calado. Há uma razão para um longo, pesado, sentido e singelo minuto desse silêncio.