"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

27.12.06

Filosofia de ponta-de-lança


O senhor chamava-se Dario José dos Santos, mas o futebol consagrou-o como Dadá Maravilha. Exímio no jogo aéreo, não era menos desenvolto no discurso. "Só tem três coisas que páram no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha" e "Não tem gol feio, feio é não fazer o gol" são apenas dois exemplos do pensamento Dadaísta. Maravilha.

20.12.06

Segunda mudança de imagética no mesmo dia! E mais grátis ainda!

O Desinfeliz continua a percorrer, penosamente, os passos da Ordem dos Templates. Isto pode ser que acabe por assentar mais ou menos, com um aspecto razoável. Até lá, fica assim. No mais importante, o conteúdo, é que não há que temer melhoras.

Novo visual! Completamente grátis!

É isto que se vê. Um bocado à pressa, e tal, mas foi só para assinalar a entrada na fase beta, que afinal parece que já não é beta. A rever proximamamente, diria eu. Ou não. Não dá para garantir.

18.12.06

Mártires por ordem divina (e alfabética)


Espero não estar a incorrer em delito de qualidade nenhuma, relacionado com direitos de autor ou coisa que o valha. Já tenho uns sujeitos das Finanças à perna, que me acusam de lhes estar a dever 59 euros, e não me dava jeito nenhum ter também a SPA, a Editorial Caminho e quiçá o próprio Partido Comunista no encalço. O que se passa é que vou transcrever aqui, já de seguida, um excerto de um romance do Saramago.

Vem esta transcrição a propósito do tema recorrente, quando se fala de Saramago, da pontuação, ou da falta dela. Eu, que sou apreciador e admirador confesso da escrita do homem (tanto do estilo como da maior parte do conteúdo), costumo dar como exemplo de puro e simples virtuosismo a maneira como, volta e meia, o sacrista consegue apresentar um mero rol de coisas, uma singela enumeração, uma mísera lista, sem nada destes adjectivos que eu estou para aqui a usar, sem mais recurso (para além do talento) que a vírgula.

Se isto não é escrever bem, o que será?

(Só para situar um pouco: este extracto é d'O Evangelho segundo Jesus Cristo. Mas o maroto faz isto noutros livros, com uma aparente facilidade, que chega a dar uma certa raiva... Mas adiante, à citação (que é longuita e que se faz tarde). Neste caso, o que se passa é uma conversa a três, entre Jesus, Deus e o Diabo. Após grande insistência de Jesus, que quer saber quanto sangue será derramado em seu nome, Deus começa por lhe dar uma ideia do que vai acontecer aos apóstolos e outros próximos. Depois, atendendo a que Jesus não desiste e insiste em querer saber tudo, Deus vai por aí fora. Claro que é o tipo de coisa que exaspera os barbudos das sub-espécies dos ayatollahs, sousa laras e outros neandertais que tais, mesmo sem lerem. Para os outros, se os há por aí, cá vai disto.)

"Conta, quero saber tudo. Deus suspirou e, no tom monocórdico de quem preferiu adormecer a piedade e a misericórdia, começou a ladainha, por ordem alfabética para evitar melindres de precedências, Adalberto de Praga, morto com um espontão de sete pontas, Adriano, morto à martelada sobre uma bigorna, Afra de Ausburgo, morta na fogueira, Agapito de Preneste, morto na fogueira, pendurado pelos pés, Agrícola de Bolonha, morto crucificado e espetado com cravos, Águeda de Sicília, morta com os seios cortados, Alfégio de Cantuária, morto a golpes de osso de boi, Anastácio de Salona, morto na forca e decapitado, Anastásia de Sírmio, morta na fogueira e com os seios cortados, Ansano de Sena, morto por arrancamento das vísceras, Antonino de Pamiers, morto por esquartejamento, António de Rivoli, morto à pedrada e queimado, Apolinário de Ravena, morto a golpes de maça, Apolónia de Alexandria, morta na fogueira depois de lhe arrancarem os dentes, Augusta de Treviso, morta por depitação e queimada, Aura de Óstia, morta por afogamento com uma mó ao pescoço, Áurea de Síria, morta por dessangramento, sentada numa cadeira forrada de cravos, Auta, morta à frechada, Babilas de Antioquia, morto por decapitação, Bárbara de Nicomedia, morta por decapitação, Barnabé de Chipre, morto por lapidação e queimado, Beatriz de Roma, morta por estrangulamento, Benigno de Dijon, morto à lançada, Blandina de Lião, morta a cornadas de um touro bravo, Brás de Sebaste, morto por cardas de ferro, Calisto, morto com uma mó ao pescoço, Cassiano de Ímola, morto pelos seus alunos com um estilete, Castulo, morto por enterramento em vida, Catarina de Alexandria, morta por decapitação, Cecília de Roma, morta por degolamento, Cipriano de Cartago, morto por decapitação, Ciro de Tarso, morto, ainda criança, por um juiz que lhe bateu com a cabeça nas escadas do tribunal, Claro de Nantes, morto por decapitação, Claro de Viena, morto por decapitação, Clemente, morto por afogamento com uma âncora ao pescoço, Crispim e Crispiniano de Soissons, mortos por decapitação, Cristina de Bolsano, morta por tudo quanto se possa fazer com mó, roda, tenazes, flechas e serpentes, Cucufate de Barcelona, morto por esventramento, chegando ao fim da letra C, Deus disse, Para diante é tudo igual, ou quase, são já poucas as variações possíveis, excepto as do pormenor, que, pelo refinamento, levariam muito tempo a explicar, fiquemo-nos por aqui,"

(isto era Saramago a escrever, era Deus a falar, mas José, o Alfredo, atreve-se a introduzir um parágrafo que não existia, consciente do risco de José, o Saramago, o juntar à lista, indiferente aos protestos do Alfredo, que não sabia até onde vai a capacidade de parágrafo de um blog)

"Continua, disse Jesus, e Deus continuou, abreviando no que podia, Donato de Arezzo, decapitado, Elífio de Rampillon, cortaram-lhe a calote craniana, Emérita, queimada, Emílio de Trevi, decapitado, Esmerano de Ratisbona, amarraram-no a uma escada e aí o mataram, Engrácia de Saragoça, decapitada, Erasmo de Gaeta, também chamado Telmo, esticado por um cabrestante, Escubículo, decapitado, Ésquilo da Suécia, lapidado, Estêvão, lapidado, Eufémia da Calcedónia, enterraram-lhe uma espada, Eulália de Mérida, decapitada, Eutrópio de Saintes, cabeça cortada por uma acha-de-armas, Fabião, espada e cardas de ferro, Fé de Agen, degolada, Felicidade e os Sete Filhos, cabeças cortadas à espada, Félix e seu irmão Adaucto, idem, Ferreolo de Besançon, decapitado, Fiel de Sigmaringen, maça eriçada de puas, Filomena, flechas e âncora, Firmin de Pamplona, decapitado, Flávia Domitília, idem, Fortunato de Évora, talvez idem, Frutuoso de Tarragona, queimado, Gaudêncio de França, decapitado, Gelásio, idem mais cardas de ferro, Gengoulph de Borgonha, corno, assassinado pelo amante da mulher, Gerardo Sagredo de Budapeste, lança, Gereão de Colónia, decapitado, Gervásio e Protásio, gémeos, idem, Godeliva de Ghistelles, estrangulada, Goretti Maria, idem, Grato de Aosta, decapitado, Hermenegildo, machado, Hierão, espada, Hipólito, arrastado por um cavalo, Inácio de Azevedo, morto pelos calvinistas, estes não são católicos, Inês de Roma, esventrada, Januário de Nápoles, decapitado depois de ter sido lançado às feras e atirado para dentro de um forno, Joana d'Arc, queimada viva, João de Brito, degolado, João Fisher, decapitado, João Nepomuceno de Praga, afogado,"

(e aqui entraria José, o Alfredo, por reincidência no acrescento de parágrafos, na Lista de Saramago)

"Juan de Prado, apunhalado na cabeça, Júlia de Córsega, cortaram-lhe os seios e depois crucificaram-na, Juliana de Nicomedia, decapitada, Justa e Rufina de Sevilha, uma na roda, outra estrangulada, Justina da Antioquia, queimada com pez a ferver e decapitada, Justo e Pastor, mas não este que aqui temos, de Alcalá de Henares, decapitados,"

(José, o Alfredo, interrompe novamente, desta feita só para esclarecer que o Pastor a quem se alude, "este que aqui temos", é o Diabo)

"Killian de Würzburg, decapitado, Léger d'Autun, idem depois de lhe arrancarem os olhos e a língua, Leocádia de Toledo, fraguada do alto de um rochedo, Liévin de Gand, arrancaram-lhe a língua e decapitaram-no, Longuinhos, decapitado, Lourenço, queimado numa grelha, Ludmila de Praga, estrangulada, Luzia de Siracusa, degolada depois de lhe arrancarem os olhos, Magino de Tarragona, decapitado com uma foice serrilhada, Mamede de Capadócia, estripado, Manuel, Sabel e Ismael, o Manuel com um cravo de ferro espetado em cada lado do peito e um cravo atravessando-lhe a cabeça de ouvido a ouvido, todos degolados, Margarida de Antioquia, tocha e pente de ferro, Mário da Pérsia, espada, amputação das mãos, Martinha de Roma, decapitada, os mártires de Marrocos, Berardo de Cobio, Pedro de Gemianino, Otão, Adjuto e Acúrsio, degolados, os do Japão, vinte e seis crucificados, alanceados e queimados, Maurício de Agaune, espada, Meinrad de Einsiedeln, maça, Menas de Alexandria, espada, Mercúrio da Capadócia, decapitado, Moro Tomás, idem, Nicásio de Reims, idem, Odília de Huy, flechas, Pafnúcio, crucificado, Paio, esquartejado, Pancrácio, decapitado, Pantaleão de Nicomedia, idem, Pátrocles de Troyes e de Soest, idem, Paulo de Tarso, a quem deverás a tua primeira Igreja, idem, Pedro de Rates, espada, Pedro de Verona, cutelo na cabeça e punhal no peito, Perpétua e Felicidade de Cartago, a Felicidade era escrava da Perpétua, escorneadas por uma vaca furiosa, Piat de Tournai, cortaram-lhe o crânio, Policarpo, apunhalado e queimado, Prisca de Roma, comida pelos leões, Processo e Martiniano, a mesma morte, julgo eu, Quintino, pregos na cabeça e outras partes, Quirino de Ruão, crânio cortado em cima, Quitéria de Coimbra, decapitada pelo próprio pai, um horror, Renaud de Dortmund, maço de pedreiro, Reine de Alise, gládio, Restituta de Nápoles, fogueira, Rolando, espada, Romão de Antioquia, língua arrancada, estrangulamento, ainda não estás farto, perguntou Deus a Jesus,"

(e que falta é que faz aqui um ponto de interrogação, pergunta José, o Alfredo, vá-se lá saber a quem)

"e Jesus respondeu, Essa pergunta devias fazê-la a ti próprio, continua, e Deus continuou, Sabiniano de Sens, degolado, Sabino de Assis, lapidado, Saturnino de Toulouse, arrastado por um touro, Sebastião, flechas, Segismundo rei dos Burgúndios, atirado a um poço, Segundo de Ascati, decapitado, Servácio de Tongres e de Maastricht, morto à tamancada, por impossível que pareça, Severo de Barcelona, cravo espetado na cabeça, Sidwel de Exeter, decapitado, Sinforiano de Autun, idem, Sisto, idem, Tarcísio, lapidado, Tecla de Icónio, amputada e queimada, Teodoro, fogueira, Tibúrcio, decapitado, Timóteo de Éfeso, lapidado, Tirso, serrado, Tomás Becket de Cantuária, espada cravada no crânio, Torcato e os Vinte e Sete, mortos pelo general Muça às portas de Guimarães, Tropez de Pisa, decapitado, Urbano, idem, Valéria de Limoges, idem, Valeriano, idem, Venâncio de Camerino, degolado, Vicente de Saragoça, mó e grelha com puas, Virgílio de Trento, outro morto por tamancos, Vital de Ravena, lança, Vítor, decapitado, Vítor de Marselha, degolado, Vitória de Roma, morta depois de ter a língua arrancada, Wilgeforte, ou Liberata, ou Eutrópia, virgem, barbuda, crucificada, e outros, outros, outros, idem, idem, idem, basta."

E o Evangelho continua, mas apesar da insistência de Jesus a lista fica por aqui. E em que é que isto melhoraria com pontos finais e parágrafos, pergunta José, o Alfredo. E prontos, era só isto.

11.12.06

Menos um filho da puta à face da Terra!


Eu sei que o Benfica empatou na Figueira, que o Olhanense empatou em Olhão, que já não vale a pena ir à Caparica porque a praia vem até nós, mas mas mas... se não fôssemos tão ensimesmados como somos teríamos saído à rua, como se fez em tantos outros sítios, a festejar este belo episódio de Mais Vale Tarde Que Nunca. Que a terra lhe seja leve como o chumbo, que o seu eterno descanso nunca deixe de ser sobressaltado pelos ecos dos gritos dos torturados, que a sua campa nunca deixe de ser devidamente enfeitada com escarros. A luta continua, este filho da puta já não.

20.11.06

Pláciábeu?

Ontem à noite, pela primeira vez na minha vida, fui mandado parar por um táxi (livre, por sinal). Só isso já seria interessante, porque as trocas de papéis têm enormes potencialidades. É a velha história do homem que mordeu o cão. Mas a história não fica por aqui.

Ia eu a passear o cão e, simultaneamente, a tentar digerir o conceito de 'bomitar runhenhos de cavelos' que tinha acabado de conhecer numa espécie de magazine da RTP, quando sou chamado por um táxi. Claro que um táxi que quer chamar uma pessoa não pode, simplesmente, esticar o braço e o dedo. O táxi (com a preciosa ajuda do taxista, naturalmente) tem de buzinar e imobilizar-se na via à espera que a pessoa passe. A pessoa, neste caso eu, passa e vê o taxista a fazer gestos que convidam à aproximação.


Apesar de todas as notícias sobre as mais estranhas formas de criminalidade, um homem é um homem e, ainda para mais quando acompanhado por um pequeno mas temível Cavalier King Charles Spaniel, um homem que é mandado parar por um táxi livre tem uma certa curiosidade e aproxima-se. Neste caso, aproxima-se de um bom e velho Mercedes, e aguarda. Não sabe o quê, mas aguarda. Ao fim de um par de segundos em que nada acontece, à excepção de uns gestos estranhos por parte do taxista, um homem apercebe-se que o Mercedes ainda não é dos tempos dos vidros eléctricos. Esta súbita revelação permite, por sua vez, decifrar os estranhos gestos do taxista: é para abrir a porta.

Feito isto, aberta a porta, estabelece-se finalmente a comunicação oral. Eu sou tipo para ter dito "boa noite", ou "diga", ou coisa que o valha. Ele, por sua vez, disse qualquer coisa que me soou como "pláciábeu", ou 'placiabéu', com entoação nitidamente interrogativa. Descartei instantaneamente a hipótese de o homem me estar a perguntar "percebeu?", por duas razões, qual delas a mais óbvia: a primeira é que o homem ainda não tinha dito ou perguntado nada que eu pudesse ter percebido; a segunda é que o homem tinha aquilo a que começarei por chamar um defeito na fala, enquanto não me surge uma definição mais aproximada.

Defeito na fala é o que tem a Judite de Sousa, por exemplo. É o que nos pode fazer ficar na dúvida: a mulher está a falar do fado ou de Faro? Mas habitualmente o contexto encarrega-se de nos esclarecer. Digamos que, se a Judite de Sousa fosse taxista, seria um pormenor que facilmente passaria despercebido. Só notamos um bocadinho mais porque a senhora exerce funções no audiovisual... mas esqueçamos a Judite de Sousa, já que a RTP não o faz, e voltemos ao taxista, que é o que interessa.

O homem emitia sons, com um certo à-vontade nas vogais que nas consoantes lhe escapava completamente. "Pláciabeu?", insistia ele, "Desculpe?", desculpava-me eu. Com mais esforço lá lhe saíu um 'Plácidábeu!' que me levou a um esperançado 'Palácio de Abreu?'. Mas não, não era isso. 'Plácido!Lácido! Ábeu! Pioto!". Agora sim. Posso dizer que arrisquei, mas na realidade já era quase pela certa: "Plácido de Abreu?" Que sim, com a cabeça. "Rua Plácido de Abreu?", já agora, não fosse ser alguma avenida ou praça ou praceta. Que sim, que sim, que sim, com a cabeça. E o taxista ainda acrescentou, para que não restassem dúvidas: "Pioto!" Por esta altura a comunicação já não oferecia grandes dificuldades. "A Rua Piloto Plácido de Abreu?", "Im! Im! Unhece? Õ é?". Infelizmente, como tive que confessar ao esperançado taxista, mudei-me há muito pouco tempo para aquela zona. Sei o nome da minha rua e o de mais duas ou três, entre as quais não figura o Piloto Plácido de Abreu.

Esclarecida a questão, na medida do possível, lá fechei a porta ao homem e o Mercedes lá seguiu em busca da Rua Piloto Plácido de Abreu. No resto do passeio a que o Baggins, o canídeo anteriormente mencionado, tem direito, fui reparando nas placas das ruas. O mais parecido que encontrei foi um Brito Pais, Aviador, mas Plácido de Abreu, Piloto, nada. Uma breve pesquisa na net confirmou-me a existência, naquelas bandas, de uma artéria assim denominada. Aquele taxista, se dispusesse de um simples GPS, não teria mais dificuldades para se orientar do que, digamos, a Judite de Sousa.

Como digo, a pesquisa na net foi breve. Mas mesmo assim permitiu-me apurar que o Plácido de Abreu em questão, sem chegar a ser propriamente um 25 de Abril ou um Francisco Sá Carneiro, dá nome a muitas ruas por esse Portugal afora (mais habitualmente referido como Capitão). Encontramo-lo também na página dos Asas de Portugal, ligado aos primórdios da acrobacia aérea em Portugal. Uma madavilha, esta net, como didia a Judite.

15.11.06

Diz que é uma espécie de perseguição


O PSD queixa-se de que o Governo anda numa de perseguição ao Alberto João. Claro que o papel do PSD é queixar-se do que o Governo vai fazendo. Claro que seria ainda melhor que se queixasse também do que o Governo não vai fazendo e sugerisse alternativas e iniciativas, preferencialmente credíveis e exequíveis, mas isso talvez já fosse exigir demasiado. Agora esta... É como se alguém, para dizer mal do Bush, o acusasse de andar a perseguir o Bin Laden.

10.11.06

Desinutilidades gráficas

Recentemente, vá-se lá saber porquê e para quê, a palavra logotipo foi contemplada com um acento. Supostamente, passou a escrever-se 'logótipo'. Não faço ideia se também se pretende que seja pronunciada assim. Nunca experimentei e não faço tenções. Quanto à forma gráfica, confesso que me vejo obrigado, em certas e determinadas circunstâncias, a adoptar a nova forma. Mas evito o mais que posso. Para coisas esdrúxulas e proparoxítonas já basta a vida.

O que se segue, a propósito ou a despropósito, são três potenciais logotipos. Três formas diferentes de assinar (José, o Alfredo, neste caso). Todas by Tolkien, como é bom de ver. Runas de hobbit,


runas dos anões de Moria


e Tengwar, um cursivo desenvolvido pelo próprio Fëanor himself (o criador dos Silmarils, para quem eventualmente não esteja a par de todos os detalhes).

7.11.06

Tuguíadas I, 92/94 (Inclui Euro84 e Mundial86, tudo grátis)


Segue-se um par de décadas vazadas
De resultado algum que se comente,
Nas quais as lusas turmas encavadas
Se viam sempre mais que certamente,
Com algumas façanhas desgarradas
Mas sobre fundo escuro, deprimente.
Deixa de ser das quinas mais amiga
A gente a quem o jogo mais castiga.

Lá chega finalmente a tão esperada,
A tal, sempre adiada, a tal proeza,
De se ver outra vez qualificada
Numa final a turma portuguesa.
Deu-se na Eurocopa disputada
Nos terrenos da gente que é gaulesa.
Teríamos, quiçá, feito mais dano
Não fora Platini, grande magano!

Um par de anos apenas decorrido,
E estamos instalados numa terra
Cujo nome jamais será esquecido:
Saltillo, esse sinónimo de guerra.
Tudo o que mal podia ter corrido,
Correu, e fez ficar então na berra
A nossa equipa, não porque ganhava,
Mas sim porque por tudo refilava.

(...)

Breve olhadela ao Olhanense


Nem tanto ao rubro nem tanto ao negro, é o que se pode e deve dizer sobre o momento actual do Olhanense, esse autêntico porta-estandarte do orgulho algarvio. Claro que o 11º lugar não é, fundamentalmente, um lugar de tranquilidade. Mas (entrando declarada e despudoradamente no domínio do trocadilho fácil e gratuito) já nos deixámos de Balelas e pode ser que o dedo de Álvaro Magalhães, mais cedo ou mais tarde, se faça sentir. No ano passado, por esta altura, tudo ia bem e no fim foi o que se viu. Talvez seja melhor começar malzinho e acabar benzoca. Há que ver a coisa pela positiva: está-se com o dobro dos pontos do potencial primo-divisionário Gil Vicente, com mais de metade dos pontos do primeiro e, no que verdadeiramente conta, à frente do Portimonense.

Limpar as teias de aranha ao Desinfeliz (tentativa nº1)

Quando a workosfera interfere demasiado com a blogosfera quem se lixa é o desinfeliz do mexilhão.

Se alguma coisa a minha vida profissional me ensinou é que o 'é impossível fazer tudo ao mesmo tempo' não passa de uma miserável desculpa, ou, na melhor das hipóteses, de uma análise muito superficial da realidade. Claro que é possível fazer tudo ao mesmo tempo. É até possível fazer tudo ao mesmo tempo e ir dormir a casa todos os dias, ou quase. O que não é possível é incluir um blog, por mais aparvalhado que seja, no 'tudo'. Este, por exemplo, já continha links mortos.

Comecei por aí, por uma actualização dos links, porque tinha mesmo que começar por algum lado. Deixar o Olhanense para depois foi apenas uma opção, como tantas outras.

Lá iremos.

11.10.06

Tuguíadas I, 90/91


Logo aos trinta a baliza portuguesa
Abana, quando Charlton arremata;
Aos oitenta, de novo sem defesa
O Bobby chuta e quase o jogo mata;
Oitenta e dois: penálti! Com destreza
Reduz Eusébio, puto da cubata;
Tarde de mais, morria a ousadia,
No fim era o bretão quem mais se ria.

Resumindo: a Rússia derrotando
No derradeiro jogo, bem jogado,
Eusébio, Torres, dois golos marcando,
Malofeiev também, pelo seu lado,
Oitenta e sete mil presenciando
O luso, enfim, c’o bronze medalhado.
Da final o relato já não faço,
Que não merece o tempo nem o espaço.

(...)

27.9.06

Tuguíadas I, 88/89 (Ei-los de volta, ó desinfelizes)


Passa assim Portugal mais adiante
Na mira dessa copa desejada,
Sempre com grande fé no centro-avante
Que traz a malta toda deslumbrada
Co’a arte do pontapé, do mais pujante.
E vem aquela história mal contada:
Antes de defrontar a Inglaterra
‘Inda há que se apanhar o pouca-terra;

Para quem joga em casa tudo canta
E que se lixe a brava tugaria.
Chegada a Wembley já não se agiganta
Mais a rubra camisa que vestia
Esse homem qu’inda hoje nos encanta:
Eusébio, tanta falta nos fazia,
A falta que nos faz sentir o gozo
Nestes tempos de jogo tão merdoso!

(...)

18.9.06

Graças a Deus, eu cá sou ateu


Não sei a quem é que roubei este título, mas vem muito a propósito para os dias que correm. Se eu bem percebi, o Papa (que antes de o ser era o cardeal responsável por esse baluarte da paz e da tolerância que é a Congregação para a Doutrina da Fé, colectivo de artistas anteriormente conhecido como Inquisição) citou não sei quem que, não sei bem quando, disse não sei o quê sobre Maomé e/ou o Islamismo.

Sendo o quem e o quando da citação quase totalmente irrelevantes para efeitos práticos (na medida em que o que conta é que foi o Papa que falou e fê-lo agora), resta o quê. Ou seja: tirando todo o contexto, esquecendo quem é que disse, porquê, quando, a que propósito, e mais essas paneleirices todas que não interessam a ninguém (à excepção do Pacheco Pereira e mais dois ou três viciados em interessar-se por coisas), o que é que foi dito? Que tudo o que Maomé trouxe de novo (à religião) era "mau e desumano, tal como a sua ordem para espalhar a fé através da espada".

Claro que a resposta do chamado Mundo Muçulmano não foi unânime (os porta-vozes da comunidade islâmica em Portugal, para não ir mais longe, primaram pela contenção e pelas boas maneiras), mas não faltou quem prontamente incendiasse ou fizesse explodir a igreja mais próxima.

Pelo seu lado, a Al-Qaeda, por via de um tal Conselho Shura Mujahedin que opera (e de que maneira) no Iraque, fez saber que pretende “destruir a cruz e abrir as goelas daqueles que acreditam na cruz”. Dirigindo-se directamente ao Papa e a Roma, diz o seguinte: “Seus infiéis e déspotas: nós vamos prosseguir a nossa jihad e não iremos parar até Deus nos permitir cortar os vossos pescoços e erguer e fazer ondular a bandeira do monoteísmo quando a lei de Deus for estabelecida e governar todos os povos e nações”. O remate do comunicado, não menos edificante, dirige-se a todo o mundo não-muçulmano e reza, muito simplesmente: “conversão ao Islão ou morte pela espada”. Para rebater o argumento de que o Islão é violento, não é fácil fazer melhor.

Como dizia o outro (quiçá o mesmo a quem roubei o título) vou ali e já venho.

7.9.06

A velha história dos 2 pesos e das 2 medidas


Claro que a história é velha como o mundo. É ver o tratamento diferenciado que Deus providenciou para o Adão e para a Eva, para o Abel e para o Caim, para o Jacob e para o Esaú, para o José e para os seus irmãos (para já não falar da desgraçada da irmã) e por aí fora. Mas nem é preciso ir tão longe. Basta ir a Inglaterra, comer onças, beber pintas e no fim pagar em libras. Muitas libras, eu digo. Justos céus. Mas adiante.

Um dos exemplos mais flagrantes é a total discrepância na designação de seres, grupos, entidades ou instituições, no contexto das notícias e mesmo das aparentemente mais isentas. Exemplo: a propósito do chamado conflito do Médio Oriente, surgem sempre referenciados "o povo palestiniano" ou "os povos árabes", por um lado, e do outro nunca aparece "o povo israelita". A julgar pela esmagadora maioria das notícias, o conflito é entre Israel, um estado sem povo, uma entidade quase abstracta, e os árabes/os muçulmanos/os palestinianos, uma confusão desordenada de seres humanos sem governo(s) e sem governante(s).

O curioso é que isto não acontece (só) no Avante! ou em folhetos do Hamas. Isto acontece da mesma maneira no Diário de Notícias, no Público, no Expresso, na RTP, na SIC, na TVI, em toda a parte. É sem querer. Não é por mal. Mas lá que é revelador, é.

4.9.06

O Desinfeliz ainda mexe

Quem se acabou foi O Independente. E as putas das férias também.

17.8.06

Das profundas das gavetas para a veia poética

Mais para a veia do que para a poética, mas cá vai. Nem que seja para o Desinfeliz não se desactivar completamente. Isto é coisa para ter alguns oito ou dez anos (como se isto desculpasse fosse o que fosse). Se não quer perder o seu tempo com futilidades fuja para o amigo Designorado, por exemplo. Se vai continuar, console-se com a ideia de que a versalhada é curta. E não esqueça que, haja o que houver, audaces fortuna juvat.


Ainda nem bem haviam entrado,
já todos lá dentro se haviam calado.
Tal era o respeito por eles imposto
que alguns dos coitados taparam o rosto,
e quando das armas eles sacaram
alguns dois ou três até se cagaram.

Fez-se um silêncio, pesado mas breve,
pois não tardou a chegar o Mão-Leve,
deles amigo e fiel companheiro,
de todos sem dúvida o mais certeiro.
A mão ao coldre mui lesto levou
e eis o que de pronto falou:

"Isto é um assalto (não sei se repito
o que meus amigos já teriam dito).
Tarde cheguei, desculpem confrades,
e dêem cá tudo, vocês, seus cobardes".
Dizer quase escusado será
que aquela colheita foi um maná:

Relógios, dinheiro, botas, chapéus,
e até umas ceroulas, valha-me Deus.
Mão-Leve e os outros tudo levaram
(a conta, claro, não a pagaram).
E rumo a oeste lá vão cavalgando
Enquanto lá dentro se ficam borrando.

2.8.06

Marxismo no seu melhor


Outside of a dog, a book is a man's best friend. Inside of a dog, it's too dark to read.

Só comparável com:

One morning I shot an elephant in my pajamas. How he got into my pajamas I'll never know.





Palavras de Groucho Marx (who else?)

Foi você que pediu ao Tio Adolfo para ser Führer?


Era 1934 e estava-se a 2 de Agosto. O vetusto marechal von Hindenburg, presidente do Reich, acabara de bater as botas pela última vez. Profundamente abalado, inconsolável mesmo, e à falta de alguém mais que se lembrasse disso, o Tio Adolfo decidiu auto-nomear-se presidente, não recuando perante o incómodo de acumular o cargo com a chancelaria do dito Reich, que já ocupava na altura. E assim os alemães puderam passar a dormir descansados com a ideia de que "temos Führer". E pronto. Só não se pode é dizer que viveram felizes para sempre e que a história acabou aí.

1.8.06

Foi você que pediu uma guerra mundial?


Eu sou dos que acham que já estamos na terceira, desde o 11 de Setembro. Não sei se nos livros de História se falará das batalhas do Afeganistão, do Iraque e do Líbano da mesma forma que se fala das batalhas do Somme, de Estalinegrado ou de El-Alamein, mas que las hay las hay. Esta, a III, é a primeira verdadeiramente mundial. A II já foi intercontinental, mas a I foi nitidamente um assunto europeu. Seja como for, foi a primeira a ascender ao título e isso merece algum reconhecimento. O 1 de Agosto de 1914 é uma data possível, entre várias outras, para marcar o princípio do evento. Marca o início da mobilização dos franceses. Por que será que os frogs, pouco ou nada fazendo para determinar o fim de qualquer guerra que se veja, aparecem sempre em lugar de destaque nos primeiros desentendimentos?

Foi você que pediu um jipe?


Pois não pediria assim, por esse nome, se não fosse o original, o primeirinho, o de 1941. Senhoras e senhores, meninos e meninas, cantemos os parabéns ao Jeep, "the Army's most intriguing new gadget... a tiny truck which can do practically everything."

28.7.06

Hezbollinedjad diz de sua justiça


Este moço, observador imparcial, isento e arguto como poucos, garante que Israel carregou no botão de auto-destruição com a sua recente agressão a esse farol da paz que é o Líbano. Do resumo da sua fina análise, fiquei com a sensação de que o cavalheiro, indomável arauto da fraternidade entre os povos, está algo ressentido com a situação. Percebe-se-lhe uma certa frustração, na medida em que esse desiderato — a destruição de Israel — seria um direito inalienável de alguém que não Israel (a humanidade em geral e o Hezbollah em particular, deduz-se). Calculo que seja aquele tipo de raiva que dá no carcereiro que chega à cela e vê que o prisioneiro se matou: "Mataste-te, cabrão! Quem te matava era eu!".

Com estas e outras, este cromo ameaça tornar-se cliente habitual do Desinfeliz.

19.7.06

Vantagens de Mudar de Casa


Uma das grandes vantagens de mudar de casa é mudar de piaçabas. O piaçaba é aquele objecto que se pensa sempre que está na altura de mudar e que, por razões que ainda me escapam, arranja sempre maneira de desaparecer de circulação numa mudança. Nada como comprar outro ou outros (um por casa de banho é a dose ideal) e usufruir plenamente das restantes vantagens de mudar de casa.

Outra grande vantagem de mudar de casa é poder apreciar, de preferência durante um número de dias não muito elevado, as vantagens do duche frio. Por razões que também me escapam, parece haver um consenso generalizado sobre a impossibilidade prática de haver gás a funcionar nas casas para onde se vai no dia em que se vai para lá. Não sei se tem força de lei, mas que vigora vigora. Dentro das vantagens do duche frio, permito-me destacar as seguintes:

a) acabam-se aqueles momentos desagradáveis e politicamente incorrectos de deixar a água correr enquanto aquece;

b) as cordas vocais são exercitadas em toda a sua extensão e intenção;

c) obtêm-se, ainda que por escasso tempo, efeitos contraceptivos assinaláveis, na medida em que o duche frio refresca as partes onde qualquer cerveja já chega quente;

d) tem-se assunto para postar.

18.7.06

Desinfeliz Mente de Volta


Acabaram-se as férias. Como a maior parte das verdades, não tem interesse nenhum.

Durante as finadas férias, duas questões arranjaram maneira de penetrar a couraça da minha indiferença, para não lhe chamar estupidez.

Primeira questão: o número 1 é primo ou não é primo?

Segunda questão: porque é que toda a gente tem a mania de dizer que os palitos estragam os dentes, quando é público e notório que os dentes estragam os palitos?

Agora, se tivesse vagar e arte para isso, inventava aqui uma mentira para rematar isto a fazer pendant com o título. Mas só o facto de estar de volta já me parece suficientemente longe da realidade tal como eu a entendo...

15.7.06

Sono italiano desde piccolino


Com algumas desculpas pelo atraso, no sentido de hiato ou lapso de tempo transcorrido desde a última intervenção na blogosfera, derivado a férias, aqui vai a inesperada mas sentida palavra de apreço pelo tetra desses grandes doidos que são os romanos: bravissimo! Contra os gauleses marcar marcar, e nos penáltis que é onde dói mais. Contra os crânios do futebol, rapados ou não, entre os quais o ilustre Zizou e demais gauleses e outros, aqui fica um enorme Ciao bambini! E é sempre bom saber que há um grande homem feliz: Mi-Mi-Mi-Miccoli!

28.6.06

Ustédes ou Avecs, era a questão


E não era uma questão completamente despicienda, atendendo a que há probabilidades, por marginais que sejam, de ainda levarmos com alguém dessa gente. E quando digo marginais é porque me lembro, vá-se lá saber porquê, do factor A.

O factor A, de arbitragem, pode manifestar-se sob formas tão diversas como Ivanov, Poll ou Batta. Há também que juntar o factor B, de Brasil, que nos diz que Kaká, Ronaldinho, Ronaldão, Juninho, Adrião, etceterazinho e etceterazão até não jogam mal de todo. Destacando pelo picotado e unindo a parte A com a parte B, o resultado praticamente certo e seguro é que o Brasil está, de facto, nas meias-finais. E, consequentemente, na final.

Razão tem o treinador do Gana, quando sugere que o árbitro vista a camisolita amarela. Nos jogos em que o Brasil está a jogar de amarelo, note-se, e não quando joga Portugal com a Holanda ou coisa que o valha. Quem já jogou futebol, como eu ou o Octávio Machado, por exemplo, sabe de que é que eu estou a falar. Mas eu explico, ou pelo menos tento. Cá vou eu.

Lá dentro do campo, no meio da confusão, há muitas jogadas em que a visão periférica ou a velocidade do lance (neste último caso, obviamente sem a participação de Ronaldo) faz com que um homem tenha que reagir ou optar quase por instinto, com base na cor de uma camisola que se vê fugazmente, que se vislumbra, mais do que se vê. Ora, numa situação dessas, o cérebro não tem tempo para processar informação demasiado complexa e entre a decisão e o gesto também não há tempo a perder. É aqui que o factor C, a cor da camisola, tem o seu efeito decisivo.

Exemplo: um homem prepara-se para receber a bola à entrada do meio campo contrário. Este homem joga por Portugal. Para não complicar desnecessariamente o exemplo, vamos supor que não se trata do Deco, pois o jogo é contra o Brasil e o exemplo já nos vai trazer confusão que basta. Para não ferir susceptibilidades, e porque para o nosso exemplo precisamos de um homem com visão de jogo e capaz de colocar a bola onde o pretende fazer, suponhamos que um homem é o Rui Costa.

Temos, portanto, Rui Costa na iminência de receber a bola à entrada do meio campo do Brasil. Mesmo antes do contacto com a bola, um homem olha em redor e pensa no que é que vai fazer com a dita bola, assim ela chegue a um homem. Por mera casualidade, Pauleta não está fora de jogo, e um homem apercebe-se disso. A bola chega a um homem. Um homem domina a bola, com aquela elegância só ao alcance de um Rui Costa, e endossa-a com a necessária dose de açúcar para o terreno livre à frente de Pauleta. Este faz o que tem a fazer, que é dar dois ou três passitos de corrida rumo a Dida e pregar com ela lá dentro. É o delírio entre aqueles sete ou oito mil tugas que assistem nas bancadas, até porque o jogo estava empatado e já não falta muito tempo para acabar.

O jogo estava e estará empatado por mais uns minutos, porque, como os espectadores lá em casa puderam ver, o lance foi prontamente anulado por fora de jogo. Acresce que, ao não ter suspendido o movimento de a meter lá para dentro nas quatro décimas de segundo posteriores ao apito do árbitro, Pauleta incorreu em sanção disciplinar, ou seja amarelo, e Portugal fica a jogar com 9 nos últimos minutos, porque o Pauleta já tinha amarelo e o Costinha ou o Petit já tinham sido devidamente expulsos na primeira jogada da segunda parte.

Como é que isto pôde acontecer a um homem, e logo a um homem chamado Rui Costa? Parecendo complicado, não é nada simples: naquela fracção de segundo em que analisou a situação, Rui Costa viu claramente que Juan e Lúcio estavam entre Pauleta e Dida. Não muito, mas estavam. Também viu Roberto Carlos e Cafú praticamente colados à linha de fundo, um de cada lado, mas optou, e bem, por não contar com eles para efeitos de fora de jogo, pois Roberto Carlos estava a apertar os atacadores e Cafú a vomitar ou a expectorar violentamente, ou seja, nem um nem outro têm participação activa na jogada. Claro que a lei do fora de jogo prevê essa excepção para quem ataca, e não para quem era suposto defender, mas um homem não pode esperar que uma equipa de arbitragem se vá lembrar de todas essas subtilezas, ao fim de mais de oitenta minutos de jogo, num lance que decorre no meio campo do Brasil. Naquela fracção de segundo, Rui Costa não se esqueceu de olhar para o bandeirinha e viu que este estava em linha com Juan e Lúcio, ou seja, em excelente posição para ver que Pauleta está em jogo. Logo, com base nestes pressupostos, um homem, Rui Costa, lança Pauleta. Um homem vê Pauleta embalar e metê-la lá dentro, vai direito a ele, no intuito de comemorar o golo, e não pode evitar algum desconcerto perante a visão de um árbitro com rosto perfeitamente impassível a mostrar o amarelo e logo de seguida o encarnado ao ciclone dos Açores.

O que aconteceu foi que o cérebro de um homem, mesmo sendo esse homem um senhor chamado Rui Costa, não conseguiu escapar à acção do factor C. Ao ver um tipo com equipamento Adidas preto e com uma bandeirola na mão, naquela fracção de segundo e entre tantas outras coisas que há para ver, o cérebro de um homem não consegue deixar de o classificar numa categoria diferente da dos tipos de amarelo da Nike. E assim se cai, como um patinho, na armadilha do fora de jogo.

Ao propor que o pessoal do apito e da bandeirinha envergue a camisola dos jogadores de campo da equipa pela qual efectivamente alinham, o treinador do Gana, na sua ingenuidade africana, não faz mais do que apelar ao bom senso e à verdade desportiva. No exemplo em apreço, não ficaria aquela sensação desagradável de mais um cambalacho a favor do Brasil, e sim algo de muito mais positivo: o justo valor de um terceiro central com a perfeita noção da colocação, capaz de jogar em linha com Juan e Lúcio, mesmo com uma bandeirinha na mão (o que deve complicar um bocadinho os movimentos). Claro está que, num jogo de amigos, não há cá essas paneleirices de fiscais de linha. Os foras de jogo são assinalados pelos defesas, levantando o braço, que foi o que fez o terceiro central, também referenciado como árbitro assistente.

Como diria o outro, au revoir.

27.6.06

Cambalaccio (do Grosso)


Era um italiano, um australiano e um espanhol. O italiano, grosso, tropeça no australiano, vai o espanhol e marca penálti. Parece anedota. E é. Mas uma forra em râguebi havia de ter a sua piada.

24.6.06

Argentália 2, Mezcaléxico 1


Se a vida, que é a vida, é tantas vezes injusta, por que raios havia o futebol de ser justo? E há outra coisa: que putapé, señor Maxi Rodriguez!

18.6.06

Também quero que este se foda


Não há como o desporto para despertar em nós os mais nobres sentimentos. Fair play e essa coisa toda. No meu caso, uma vitória como a de hoje ganha ainda mais sabor quando lhe consigo associar a derrota de alguém em particular. Espero muito sinceramente que o inenarrável senhor Ahmadinejad tenha depositado algumas esperanças numa hipotética carreira da selecção iraniana e, como tal, tenha sentido hoje como sua uma bela derrota. Para cerejar o bolo em beleza, só falta mesmo que Angola acabe de humilhar o Irão e, com uma ajudinha da nossa parte, faça o seu brilharete. Não que o Eduardo dos Santos mereça muito mais que o Ahmadinejad, mas a racionalidade que (lá está) se foda.

7.6.06

Eu quero que o Scolari se foda



Eu podia não ter escrito isto, e ainda por cima logo no título. Mas também podia fazê-lo. Fi-lo. Porquê? Por ser verdade, claro, mas não só. Um homem não se põe a escrever as verdades todas que lhe ocorrem. Fi-lo, antes do mais, por uma questão de princípio e por querer assinalar uma efeméride. O princípio é simplicíssimo: chama-se liberdade de expressão e é sempre das mais fáceis de pôr em causa e das mais fáceis de deixar que sejam postas em causa. A efeméride, mal e porcamente resumida, é o que se segue:

Em 1971, a 7 de Junho, o Supremo dos EUA considerou que a Primeira Emenda abrangia a caralhada por escrito (vulgar writing). Três anos antes, um tal de Paul Cohen tinha sido acusado de e condenado por entrar numa sala de audiências com um blusão em que se lia "Fuck the Draft". Ao entrar na sala, o Cohen tinha tomado a precaução de despir o blusão e dobrá-lo sobre o braço. Mas um zeloso agente da autoridade, que o tinha visto no exterior do edifício, entregou ao juiz um bilhetinho em que lhe sugeria que Cohen fosse chamado à pedra por desrespeito pelo tribunal. O juiz ignorou o bilhetinho, o polícia prendeu Cohen à saída da sala, o Cohen foi julgado, alegou que o blusão era a forma de dar a conhecer ao público a profundidade dos seus sentimentos sobre o recrutamento para o Vietname, foi condenado a 30 dias de prisão, recorreu para o Supremo e ganhou à tangente, por 5-4.

Gosto da moral desta história. Faz-me acreditar que, por cada quatro filhos da puta do calibre do polícia, do Scolari, do Madaíl e daquele cabrão que me ocorre e que nem sequer merece ser tratado pelo nome, há cinco pessoas normais neste mundo.

Não, o Desinfeliz não acabou de vez. À laia de prova de vida, ou de prova de esforço, eis Tuguíadas I, 87


Vem depois a contenda mais famosa,
O tal jogo em que entrámos enfardando
Três secos da turminha mais merdosa,
Mas que quase nos ia eliminando:
Foi por pouco que não levámos tosa,
Não fora o nosso Eusébio, que marcando
O primeiro e o segundo, ‘inda o terceiro
E o quarto, só deixando o derradeiro.

(...)

23.5.06

Foi você que pediu um Montenegro independente?


Se se vier a confirmar, a (re)independência do Montenegro é mais uma daquelas notícias que agradam certamente aos editores de enciclopédias, aos fabricantes de bandeiras (a maioria dos quais serão provavelmente chineses e indianos) e a poucos mais. A miudagem das escolas, por exemplo, há-de suar as estopinhas para empinar os nomes dos países da Europa e/ou da União Europeia, enquanto não forem totalmente sinónimos. Claro que isso também se resolve, com grande facilidade, não lhes exigindo que saibam sequer o que é um sinónimo. Quanto mais um país ou um conjunto deles.

Confesso que, no que toca ao Montenegro, só conheço o Nero Wolfe, um homem que cultiva orquídeas, adora cerveja e só tem três tipos de pavor na vida: sair de casa, trabalhar e as mulheres. Mesmo não passando de uma criatura fictícia, o grande Nero Wolfe é o suficiente para se simpatizar com o Montenegro. Mas, daí a recomendar a independência a quem quer que seja, vão quase 900 anos de história...

19.5.06

Tuguíadas I, 85/86


Simões ao quarto d’hora já não erra,
Faz miséria ao goleiro do adversário,
O Manga, natural daquela terra
Da Vera Cruz chamada, onde Romário
Viria a ser o craque mais na berra;
Eusébio aos vinte e sete num armário
Daqueles com gaveta introduzia
O golaço que zero-dois fazia;

Aos setenta vem Rildo lá da praia
Marcar para evitar a cabazada,
Mas Eusébio não deixa que se saia
O escrete canarinho sem mais nada:
Vão três p’rá sobremesa, sericaia,
A cereja no bolo colocada;
Noventa! Portugal entra em festaça,
No Brasil, por seu lado, uma desgraça!

(...)

Tuguíadas I, 83/84


Coluna, o capitão — moçambicano
De nascença —, não há quem não comande:
De Vicente, Morais, Simões, Germano,
A Zé Augusto, Hilário, Torres grande,
Do Pantera, seu negro conterrano,
Ao Pereira, que faz que não desande
Da branca linha a bola mais avante,
Para que a outra cor não se adiante;

Nomear Jaime Graça ‘inda faltava,
Nem Baptista devia ser esquecido,
E outro mais que no banco se sentava,
Américo, Carvalho, Cruz sabido,
Lourenço, Ernesto e Peres, que lutava
Pelo leão, seu clube preferido
Manel Duarte e Festa, mais somente
José Carlos, Custódio: toda a gente!

(...)

18.5.06

Abandoned too soon


Foi a 18 de Maio de 1980.

Piromania


Ploc... Ploc... Ploc... Ploc...

Aquele maldito pingo não parava. De cada vez que chovia, enchia um tacho grandinho em meia dúzia de horas. Conseguia ser pior que as melgas no verão, o estupor do pingo.

Ploc... Ploc... Ploc... Ploc... Ploc...

— Puta que pariu aquele cabrão!

Levantou-se, acendeu um cigarro e pegou no telefone. Tocou, tocou, tocou. Finalmente o camelo do senhorio lá acabou por grunhir qualquer coisa do outro lado, o que nem sequer é hábito dos camelos.

— Se eu sei que horas são? Claro que sei. Quer que lhe diga? São quatro e meia da manhã e... Teja caladinho e cale-se. São quatro e meia da manhã e eu não consigo dormir. Sabe porquê? Porque você nunca mais arranja a merda do telhado, percebeu? Portanto já sabe. Ou arranja a merda do telhado ou muda de número de telefone porque a partir de agora se eu não durmo você também não dorme!

Desligou o telefone, apagou o cigarro, pensou melhor, acendeu outro, deu duas ou três passas, atirou-o para o meio do molho de jornais que tinha ao pé da janela, meteu numa mochila as poucas coisas de que precisava e saiu, sem saber muito bem para onde ia mas com a certeza de que já devia ter pegado fogo àquela merda há muito mais tempo.

Na primeira cabine que encontrou, tentou ligar de novo para o senhorio, para lhe dizer que afinal já não valia a pena preocupar-se mais com a porcaria do telhado. Só que as moedas não entravam, ou entravam mas caiam logo, ou não caiam mas o outro camelo não conseguia ouvir nada do que ele dizia. Porcaria de cabines.

Tirou um frasco de benzina da mochila, despejou-o em cima do telefone, afastou-se um pouco, acendeu um cigarro, deu duas ou três passas, atirou-o para cima do telefone e seguiu, rumo a uma pensão de que tinha ouvido falar e que tinha a fama de ser frequentada por muitas prostitutas e poucos piolhos.

— Essa vida é fogo, né, bicho?
— Podes crer, chavala, podes crer. Queres um cigarro?

17.5.06

Divagação desinútil sobre o poder, em 4 breves episódios

I

Eu, Plio Nasmo I, príncipe da Pérsia, pretor do Paquistão, protector da Polónia, do Paraguai e do Panamá, proclamo perante todos os povos e poderes planetários a minha firme intenção de mandar pintar de preto o ex-Palácio Presidencial, actual Palácio Principal.

Publique-se.
(Assinatura ilegível)

II

À Administração,

Face à deterioração do estado do paciente Policarpo Pereira Poças (refª N-602/91), bem patente na carta que junto envio e que foi encontrada na posse do mesmo por um dos meus enfermeiros, sugiro e requeiro a V. Exª a transferência deste paciente para a ala P-2, onde os meios materiais e humanos disponíveis permitirão certamente a prestação de um melhor serviço ao paciente, já sem mencionar a sobrecarga a que o pessoal desta ala se encontra sujeito e que, por via de tal transferência, seria significativamente atenuada.
Atentamente,
(Assinatura ilegível)
Director clínico da ala P-1

III

Ao Director Clínico,

1. Face aos antecedentes clínicos do paciente Policarpo P. Poças (refª N-602/91), e sobretudo face à ausência de qualquer relatório indicativo de propensão para comportamentos violentos, não nos parece justificada nem fundamentada a necessidade de transferência para a ala P-2.

2. Permitimo-nos recordar-lhe a Ordem de Serviço HPP-345/b, que estabelece claramente a gestão dos espaços, equipamentos e técnicos disponíveis como competência exclusiva deste Conselho.

3. O pedido de transferência do paciente Policarpo P. Poças é indeferido.

(Assinatura ilegível)
Vogal do Conselho de Administração

IV

(...) Dadas também como provadas a incapacidade e a consequente inimputabilidade do arguido, este Tribunal absolve o senhor Policarpo Pereira Poças da acusação de crime de homicídio premeditado na pessoa do Presidente do Conselho de Administração do Hospital Psiquiátrico da Porcalhota, doutor Plácido Pitschieller Pestana. O arguido deverá ser novamente internado em instituição psiquiátrica adequada. Em vista do sucedido, e tendo em conta toda a informação reunida no processo e os testemunhos de todos os especialistas ouvidos, o Tribunal recomenda ao Conselho de Administração da instituição psiquiátrica que venha a receber a custódia do senhor Policarpo Pereira Poças que lhe dispense alguns cuidados particulares, nomeadamente o acesso a tintas e a possibilidade de as utilizar. O caso está encerrado. Arquive-se.

(Assinatura ilegível)
O Juiz-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça

16.5.06

Tuguíadas I, 80/82


Melhor não se teria começado,
Entrando a ganhar logo desde cedo,
Ao contrário do grego defrontado
Na final daquele insólito arremedo
Do feio futebol de resultado,
Que do infame Scolari leva o dedo,
Na prova que, por nós organizada,
Terminou com helénica risada.

De entrada começaram a preceito
Os que de Luz Afonso simplesmente
Seleccionados foram por seu jeito
E a quem o Glória deu, tão sabiamente,
Do treinamento o mais alto conceito;
E assim foi que, por três a um somente,
Lá se foram os húngaros, vencidos
Pelos Magriços lusos destemidos.

Passados mais três dias se jogou,
Agora co’a Bulgária, país velho
E que bastantes vezes se equipou
Co’s nossos tons de verde e de vermelho:
Mais três também o búlgaro levou,
Sem conseguir marcar nem um chavelho.
Mas, logo de seguida, aquele impasse,
Pois ao Brasil nos coube que enfrentasse.

(...)

12.5.06

Tuguíadas I, 77/79


Ao turco, e mais ao checo, e ao romano
(Aqui um ‘a’ por ‘e’ se intrometeu:
Era romeno e não italiano,
Mas por via da rima jeito deu!)
A nossa rubra gente lhes fez dano
Um jogo empatou só, mais um perdeu,
E foi para a Bretanha, p’ró temido
Reduto desse bife humedecido.

Chegou treze de Julho, às tantas horas,
Tantas quantas se tinham acordadas,
D’Old Trafford as bancadas colhedoras
Pouco menos estão do que apinhadas;
Enfrentam-se as equipas jogadoras
Para o jogo primeiro sorteadas:
Os bravos magiares, que encantavam
Aqueles que de bola mais gostavam,

E Portugal, então desconhecido,
O pequeno David entre portentos,
Mas que leva consigo o mais temido
Eusébio, que em seis jogos nove tentos
Logrou marcar, sem mais ter conseguido
Por ter sido roubado p’los nojentos
Sistemas, que se nunca se acabarem
Tudo hão-de fazer p’ra nos roubarem.

(...)

Era uma vez na Pulgária


As pulgas pululavam por todo o palácio. O rei e a rainha pisgaram-se para um dos outros palácios. O príncipe e as princesas protestavam. O primeiro-ministro protestava. O pessoal menor protestava. Os próprios pedintes, que acorriam habitualmente a pedir à porta das traseiras, protestavam.

Indiferentes a todos os protestos, as pulgas continuavam a pulular pelo palácio. Até que, em face de tanta pulga e de tanto protesto, se convocou um referendo para resolver a crise.

Por vontade expressa da esmagadora maioria da população, uma equipa de técnicos altamente especializados deslocou-se ao palácio e exterminou os príncipes, o primeiro-ministro e todo o pessoal dos respectivos gabinetes.

10.5.06

"The time for the healing of the wounds has come."

Foi com estas palavras que o primeiro presidente negro da África do Sul tomou posse do cargo, faz hoje 12 anos. Grande é este senhor, Nelson Rolihlahla Mandela.

E tudo indica que 10 de Maio é dia de grandes senhores tomarem posse. Em 1940, foi o caso de Winston Leonard Spencer Churchill (que, ao contrário do que o primeiro nome poderia sugerir, era conde de Marlborough).

Emigrante, emigrante


Chama-se qualquer coisa como 'A História da Emigração Portuguesa', se não me engano, mas é muito mais interessante do que o título deixaria supor. Dá na RTP1 às terças, nem demasiado cedo nem excessivamente tarde, e é um excelente exemplo de uma das coisas (formatos, como se deve dizer agora) que a televisão faz melhor — o documentário.

Tendo visto o capítulo de ontem, e apesar de o dito documentário valer muito mais que a observação que se segue, não posso deixar de anotar a seguinte banalidade: o nosso emigrante é aquele que vai sem saber falar francês e volta sem saber falar português.

Ser e não ser

To be or not to be pode ser traduzido para português, sem qualquer dificuldade, por ser ou não ser. Mas se o velho Shakespeare fosse português nunca lá teria chegado. É uma frase que nunca surgiria de uma mente portuguesa. Se o velho Shakespeare fosse português, e mantendo-se tudo o resto, onde ele teria chegado era a ser e não ser. Desinfelizmente, não conheço mundo que chegue para poder dizer que só os portugueses é que, ou que ninguém como os portugueses para. Mas salta à vista, ao ouvido e ao bom senso que não deve haver muito quem nos ultrapasse na arte da conciliação dos opostos, no equilíbrio do cravo e da ferradura, do sim mas e do paralelo e quase sinónimo não mas, da impossibilidade do que parece fácil e da quase probabilidade do que parece impossível.

9.5.06

Tuguíadas I, 75/76


Do treinador havia quem dissesse
Que era temido mais que um bacamarte,
Era sempre a atacar, por que metesse
Muitos golos a mais que à outra parte,
Otto Glória — outro nome, se tivesse,
Seria conhecido, mas sem arte;
Foi pentacampeão do lusitano
Torneio do desporto mais mundano.

Com seis taças também galardoado,
O grande carioca justamente
Foi, por ter com sucesso orientado
Os três famosos clubes, o tridente:
O verde e branco, o azul e o encarnado,
Pendões da capital da lusa gente,
Que vive cá na praia onde se deita
O sol, que a velha Europa mal espreita.

(...)

4.5.06

Tuguíadas I, 73/74


Aproxima-se agora o tal germano
Evento mundial bem conhecido
Daquele jogo, rei do ser humano,
Pelo menos do másculo nascido.
Veremos o que faz o lusitano
Conjunto do Scolari possuído,
Um dia se dizia que abalava
No outro garantia que ficava.

Agora de carmim todo equipado
Sem verdes calçanitas pavorosas,
Lá vai de equipamento melhorado
Fazer-se às vitórias gloriosas,
Que sempre lhe conseguem ter escapado
Por mui diversas formas desditosas:
Desde sessenta e seis não há quem esqueça,
Não há quem o recorde e não estremeça.

(...)

Blog Archive