"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

17.5.06

Divagação desinútil sobre o poder, em 4 breves episódios

I

Eu, Plio Nasmo I, príncipe da Pérsia, pretor do Paquistão, protector da Polónia, do Paraguai e do Panamá, proclamo perante todos os povos e poderes planetários a minha firme intenção de mandar pintar de preto o ex-Palácio Presidencial, actual Palácio Principal.

Publique-se.
(Assinatura ilegível)

II

À Administração,

Face à deterioração do estado do paciente Policarpo Pereira Poças (refª N-602/91), bem patente na carta que junto envio e que foi encontrada na posse do mesmo por um dos meus enfermeiros, sugiro e requeiro a V. Exª a transferência deste paciente para a ala P-2, onde os meios materiais e humanos disponíveis permitirão certamente a prestação de um melhor serviço ao paciente, já sem mencionar a sobrecarga a que o pessoal desta ala se encontra sujeito e que, por via de tal transferência, seria significativamente atenuada.
Atentamente,
(Assinatura ilegível)
Director clínico da ala P-1

III

Ao Director Clínico,

1. Face aos antecedentes clínicos do paciente Policarpo P. Poças (refª N-602/91), e sobretudo face à ausência de qualquer relatório indicativo de propensão para comportamentos violentos, não nos parece justificada nem fundamentada a necessidade de transferência para a ala P-2.

2. Permitimo-nos recordar-lhe a Ordem de Serviço HPP-345/b, que estabelece claramente a gestão dos espaços, equipamentos e técnicos disponíveis como competência exclusiva deste Conselho.

3. O pedido de transferência do paciente Policarpo P. Poças é indeferido.

(Assinatura ilegível)
Vogal do Conselho de Administração

IV

(...) Dadas também como provadas a incapacidade e a consequente inimputabilidade do arguido, este Tribunal absolve o senhor Policarpo Pereira Poças da acusação de crime de homicídio premeditado na pessoa do Presidente do Conselho de Administração do Hospital Psiquiátrico da Porcalhota, doutor Plácido Pitschieller Pestana. O arguido deverá ser novamente internado em instituição psiquiátrica adequada. Em vista do sucedido, e tendo em conta toda a informação reunida no processo e os testemunhos de todos os especialistas ouvidos, o Tribunal recomenda ao Conselho de Administração da instituição psiquiátrica que venha a receber a custódia do senhor Policarpo Pereira Poças que lhe dispense alguns cuidados particulares, nomeadamente o acesso a tintas e a possibilidade de as utilizar. O caso está encerrado. Arquive-se.

(Assinatura ilegível)
O Juiz-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça

1 comment:

L. Rodrigues said...

Poças, homem, dá para ter esta história em triplicado, em folha azul de 25 linhas amanhã em cima da minha secretária?