"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

28.5.09

Desejos e realidade

Os meus desejos eram o que eram. A realidade, essa inesgotável caixinha de surpresas, foi que:

1. O Manchester, mesmo sem as camisolas encarnadas, parecia mesmo o Benfica (o Benfica de Quique, mais concretamente)

2. O Cristiano Ronaldo parecia mesmo o Cristiano Ronaldo (o da selecção)

3. O Ferguson esteve de tal modo ao nível Quique que o árbitro nem teve que fazer nada para ajudar o Bardajona

3a. Partindo do princípio de que o Messi tinha os sapatos todos calçados quando marcou o golo (não me apeteceu ver o jogo com muita atenção, quanto mais as repetições)

3b. Partindo também do princípio de que um golo de cabeça do Messi não é sinónimo de jogo perigoso

4. Para gáudio dos amantes da modalidade, o Bardazona ganhou o seu terceiro caneco de campeão europeu (ultrapassando assim o Benfica, o que é triste)

5. (e o Febóquelupârto também, que é o que é)

6. Apesar de várias tentativas bem intencionadas, ninguém foi capaz de partir uma perna ao Puyol

7. Por todas as razões acima expostas foi uma porcaria de uma final

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27.5.09

Se não fosse pedir muito...


Ao contrário dos famosos prognósticos, que se guardam sabiamente para depois dos jogos, os desejos só têm sentido se se exprimirem antes. Cá vão então os meus:

1. Que o Barcelona brilhe intensamente

2. Que o mundo do futebol se babe incontidamente com o fulgor, a magia e a arte do Barcelona

3. Que, para além do Messi, do Henry, do Xavi, do Iniesta, do Eto'o e dos outros todos, também o árbitro ajude o Barcelona, como lhe compete

4. E que os árbitros assistentes, e o próprio quarto árbitro, não se esqueçam de fazerem o que puderem pelo Barcelona

5. Que os postes e a barra da baliza do Manchester fiquem negros de tanta bolada tão lindamente esbarrada nos mesmos

6. Que no fim ganhe o Manchester United

7. Que isso seja com um golaço do Ronaldo e/ou uma desatenção do árbitro e/ou um frango de todo o tamanho

8. Ou então nos penáltis

E é só isto que eu desejo para o embate. Se não for possível isto tudo, abdico tranquilamente dos cinco primeiros desejos e dos dois últimos. Desde que o Barcelona perca, por mim tudo bem.

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18.5.09

Grandes môces!


Cantemos todos a hora é de Festa
O Olhanense vamos apoiar
Não há alegria maior que esta
A nossa equipa unida a jogar

Jogaremos mais e melhor
Lutaremos com arte, alegria
E sentiremos de novo o ardor
Do renascer da alma Algarvia

Olhanense, Olhanense, à vitória
Bradam vozes das gentes de Olhão
A nossa força é a nossa história
És nosso clube, nosso campeão



E com saudade alguns recordamos
Os passados momentos de glória
Com muito treino e coragem façamos
Brilhar de novo a chama da vitória

Olhanense em ti confiamos
Tens contigo o calor da mocidade
E orgulhosos todos te aclamamos
Tu és a alma da nossa cidade

Olhanense, Olhanense, à vitória
Bradam vozes das gentes de Olhão
A nossa força é a nossa história
És nosso clube, nosso campeão

9.5.09

QuiqueOff

Hoje estarei de regresso à Luz, após um breve parêntesis de duas ou três jornadas. Levo todos os apetrechos necessários: cartão de sócio, que é também de ingresso nas instalações, cachecol, dose generosa de pachorra, lenço branco e colecção de pequenos cartazes. Nesses cartazes o que se pretende é manifestar o apoio ao clube e à própria modalidade. Aqui ficam alguns exemplos que, a serem postados num blogue de maior frequência e audiência, poderiam até inspirar mais aficionados e criar uma espécie de twitter gigante no terceiro anel:

QUIQUEOFF

FREEQUIQUE

QUIQUERUN

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19.3.09

Quique, o Flores


Devo confessar, se é que nunca o fiz, que fui um dos que começaram por acreditar. Acreditei, talvez num caso clássico de wishful thinking, que o homem gostava de bola e percebia de bola. Ali por alturas dos jogos em casa com o Nápoles e com o Zbordn, para além dos resultados agradáveis, ficou a nítida sensação de que estávamos a começar a jogar à bola. Depois foi o que se viu.

Confesso que, ainda antes disso, comecei por ir atrás da conversa. Creio mesmo que terá sido isso, a conversa, que cativou o Rui Costa. Aliás, passada quase uma época inteira, não vejo o que mais pode ter sido. Agora, já deu para perceber que nem a conversa se aproveita.

Que o homem afinal percebe muito menos do assunto do que o Benfica deve exigir a um apanha-bolas, quanto mais ao treinador, foi-se tornando penosamente evidente jornada a jornada. A passagem pela Taça UEFA foi pura e simplesmente patética, e mais ainda se se pensar que tudo começou com a tal noite quase épica do afastamento do Nápoles.

Aquela coisa de jogar com dois trincos contra quem quer que seja pode ser uma óptima solução para o Benfica de Castelo Branco, sem desprimor, mas nem isso é garantido. Para o Sport Lisboa e Benfica é que não é, certamente. Ainda por cima quando, atrás disso, vem o desaproveitamento do Ruben Amorim. E, atrás deste, o esbanjamento do Aimar no lugar que devia ser o do Nuno Gomes, que, por sua vez, passou a ficar no lugar que devia ser o do ponta-de-lança preferido, ou seja, respectivamente, o banco e o Suazo.

Dos casos do Léo e do Quim seria melhor nem falar, tal a náusea que me provocaram logo de início. Não contente com deitar para o lixo o único lateral de verdadeiro nível que tivemos nos últimos anos, o homem conseguiu queimar nesse lugar um dos óptimos centrais que tem à disposição. E ver o Moretto outra vez na baliza era coisa que não lembrava nem aos Super Dragões.

Tudo isto existiu, tudo isto é triste, mas o pior de tudo é a cobardia. A cobardia dos dois trincos é exasperante, mas a malta, ao longo destes últimos anos, já viu tanta coisa que podia pensar que era apenas estupidez, e não cobardia. Semana após semana, vi o Benfica ter medo do Estrela da Amadora, do Setúbal, do Nacional, do Paços de Ferreira, e tudo isto na Luz. Estranho. Mas quando a coisa chegou ao ponto do regozijo com o empate no Dragão, da maneira que foi, toda e qualquer réstia de tolerância acabou. Até para a estupidez há limites.

Claro que ter medo do Zbordn em Alvalade, a pontos de deixar o Zbordn brilhar e só não chegar à cabazada por alguma falta de sorte, também não ajudou. Mas o bichinho do matematicamente possível foi sempre adiando o cada vez mais justificado e necessário lenço branco.

Agora até o matematicamente possível foi às urtigas. Não na matemática pura, aí ainda não. Mas, na matemática aplicada à bola, as possibilidades de o Benfica ser campeão são exactamente as mesmas de o Leixões ser campeão, ou de um árbitro marcar um penálti contra o Febóquelupârto. E nem é tanto por termos perdido com o Guimarães, porque se fosse só isso ainda se aplicava o princípio do matematicamente possível. É pela maneira como foi e, mais ainda, pela conversa depois do jogo.

A substituição do Cardozo pelo Nuno Gomes é horrível, mas não era nada que não se esperasse. Vir dizer, com ar de virgem ofendida, que eu e os outros quarenta e oito mil otários tínhamos assobiado o desgraçado do Cardozo, e não a cobardia da substituição, é duplamente cobarde, é nojento e não tem desculpa. Minha, pelo menos, já não tem nem voltará jamais a ter.

Espero que o Rui Costa e o Vieira se deixem de flores e não demorem demasiado tempo a tratar o homem pelo que o homem é: Quique, o Cobarde.

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15.3.09

Ontem, hoje e amanhã

Ontem, na Luz, acabou-se. Custa dar os parabéns ao Febóquelupârto, mas o que haja de fair play nas profundezas da desilusão assim o impõe.

Já hoje, logo pela fresca, no José Arcanjo, quatro secos ao Portimonense, incluindo hat-trick de Djalmir, dos de letra, com os três seguidinhos, praticamente garantem a subida do Olhanense, se bem que o título ainda não.

É assim a vida. O mais chato é não se poder exterminar o Flores.

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8.2.09

Blogue temporariamente activo

Temporariamente suspenso, é como isto tem estado. Sine die, como soi dizer-se. Nada que não aconteça de vez em quando, até mesmo aos melhores e quanto mais a desinfelizes destes. Mas, nem que seja temporariamente, eis que se suspende a suspensão.

E para quê, perguntar-se-á o cliente habitual, já habituado a vir aqui e não ver nada de novo, quiçá num derradeiro descargo de consciência antes de apagar definitivamente o bookmark. Perguntar-se-á muitíssimo bem, esse cliente habitual, pois nem eu próprio saberia o que lhe responder há exactamente um minuto atrás.

Agora já estou em posição de avançar o pretexto para a suspensão da suspensão (digo o pretexto porque estou convencido que a verdadeira razão para a suspensão da suspensão será a própria suspensão da suspensão, fazer prova de vida, uma pessoa afeiçoa-se aos blogues, e não é só aos dos outros). Mas, passado o interlúdio pseudoanalítico, cá vai o pretexto: fui ver o Benjamin Button.

É verdade. Fui ver o Benjamin Button. E não é que gostei? Não detectei aquele fenómeno relatado por outras testemeunhas oculares, e que é perfeitamente compreensível, de a sala se encher de mulherio após o intervalo. Na minha sessão (chame-se-lhe imodéstia, mas é assim que penso nas sessões a que assisto) não se verificou esse afluxo. Diria, a quem ainda não tenha visto o filme e pense fazê-lo para ver o Brad Pitt em estado novo, que já agora aproveite e veja também a primeira parte. Não paga mais por isso e, no meu desentendimento, ainda beneficia da oportunidade de ver um excelente filme de fio a pavio.

É verdade. Um excelente filme. Não me vou pôr a dizer mais, até porque já disse duas vezes (agora será a terceira) que é um excelente filme, e até porque a internet do tal eventual cliente habitual será certamente capaz de lhe fornecer bastantes e diversos resumos, críticas e outras opiniões que tais, mas sempre acrescento que, para além do Brad Pitt, vale a pena ver a Cate Blanchett, vale a pena tentar pronunciar o nome do neguinho que faz de Mr. Weathers, vale a pena reparar em pormenores como a formação dos logotipos da produtora e da distribuidora (coisa que o mulherio da segunda parte nunca viu), ou como as lentes dos óculos de Benjamin, num plano ou outro, devidamente sujas como só nós, os caixas-de-óculos, sabemos.

Para não abusar dos adjectivos e para não repetir o excelente pela quinta vez, fico-me pelo proverbial gostei. E agora vou ali e, quiçá, já venho.

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19.1.09

Every little bit hurts

O Desinfeliz já tinha prometido e, para gáudio de uns e tédio de outros, vai cumprir: The Clash, o livro, vai abrilhantar este humilde weblog. Não porque as leis em vigor o não permitam (que não permitem certamente), mas por uma réstea de bom senso e por uma enorme dose de egoísmo, não vou transcrever a obra na íntegra. Excertos, meros excertos, é o que se me oferece oferecer.

Começo, por exemplo, pelo princípio. Que é, não por acaso, o fim. O começo do livro, o fim da banda.

(Perdoem-me, todos, o possível excesso de parêntesis; deve ser da idade, não sei o que é que me anda a dar para meter disto a torto e a direito, ainda consigo conter as reticências em público e é um pau; perdoem-me, também, os que já sabiam certas coisas que eu não; vamos lá a isto, pessoal; tradução, edição e adaptação by Desinfeliz).

O princípio do fim foi quando o Topper (Headon) foi corrido, em 1982. A saída do Mick (Jones) um ano depois foi a dissolução final da lendária formação dos Clash. Embora Joe (Strummer) e Paul (Simonon) tenham continuado, recrutando três novos elementos para substituir Topper e Mick, em 1984, Joe é peremptório nas suas entrevistas para este livro: o the end dos The Clash começou com essa perda de Topper.

Confesso que o mundo tal como eu o conhecia me desabou aos pés enquanto lia este parágrafo. Desde os meus vinte anos até à data presente vivi (vegetei, melhor dizendo) na convicção de que a saída de Mick Jones tinha sido o princípio do fim. Nunca, nem antes nem depois disso, foi a massa obtusa a que chamo cérebro capaz de admitir a hipótese de Topper Headon ser algo mais do que um figurante capaz de acertar com uns paus nuns tambores sem perder o ritmo.

Um parágrafo, uma revelação. Hão-de desculpar-me os crentes, mais ou menos praticantes, mas nem a Bíblia, nem o Corão, nem tão pouco A Filha do Corsário Negro (só refiro obras que já li) apresentam semelhante contundência, se é que é isso que eu quero dizer.

Por hoje, para começar, isto acaba aqui. Depois logo se vê, ou não, antes pelo contrário. OK?

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Na boca de Obama

O que se segue é um excerto de um excerto de um discurso imaginado para a boca de Barack Obama, na sua tomada de posse, amanhã, 20 de Janeiro. Não, não fui eu que o inventei, e não, não foi tirado da imprensa portuguesa, que como se sabe é toda controlada pelos judeus e só veicula propaganda sionista, anti-palestiniana e anti-democrática. Encontra-se aqui, no Haaretz, e é da autoria do narigudo do costume, Bradley Burston (tradução e edição da exclusiva desresponsabilidade do Desinfeliz).


Estes dias são dias negros para aqueles que acreditam na paz na Terra Santa. Mas a História já mostrou que a violência pode dar lugar à razão, a novas realidades e a oportunidades insuspeitadas. Cabe-nos a nós procurá-las, explorá-las e acarinhá-las.

Ao povo Palestiniano: neste dia declaramo-nos vossos aliados. Aliados, porque sabemos que o vosso desejo de paz, de um futuro estável e produtivo, de liberdade e auto-determinação, é um desejo real. A vossa causa é justa. O vosso desafio é monumental. Os vossos sacrifícios têm sido heróicos. Mas se queremos que os vossos filhos conheçam a paz, numa Palestina independente, haverá novos sacrifícios a fazer, que não exigirão menor bravura da vossa parte e talvez exijam muito mais.

Tal como escolheis as vossas batalhas, assim tereis de escolher os vossos sonhos. Escolhei a paz. Renovai o vosso compromisso com a coexistência. Fazei essa escolha e nós comprometemo-nos solenemente a ser mais que um intermediário. Seremos vossos defensores.

Aprendemos a vossa história, aprendemos a compreender as tragédias que sofrestes e a dor que suportais. Admiramo-vos pela vossa determinação. Valorizamos a vossa profunda ligação à Terra Santa. Sabemos que não podeis ser quebrados. Sabemos que não podeis ser forçados, que não sereis vergados.

Sabemos que a grande maioria dos Palestinianos ainda deseja uma paz de dois estados para dois povos, mas que deixou de acreditar nessa paz. A nossa própria história, as nossas próprias lutas e sofrimentos mostraram-nos que uma casa onde reina a divisão não se pode manter de pé. Mas aprendemos, ao mesmo tempo, que a cura é possível e renova as forças e a esperança. A cura promove a unidade e, com o tempo, responde à raiva.

Não ficaremos inertes. Comprometemo-nos, em primeiro lugar e acima de tudo, a ouvir-vos. Juntamente com outros parceiros na comunidade internacional, comprometemo-nos a ajudar-vos a reconstruir. Comprometemo-nos, também, a ajudar-vos a reconstruir uma ponte para a paz. Sabemos que muitas pontes para a paz cederam e caíram no abismo. Fazei a escolha, e nós nos comprometemos a ficar ao vosso lado nos vossos primeiros passos sobre essa ponte ainda incerta.

Ao povo de Israel: neste lugar, nesta hora difícil, afirmamos livremente a nossa gratidão pela vossa continuada amizade e sublinhamos o nosso compromisso para com a vossa segurança.

Tomamos a liberdade de vos falar com a franqueza de velhos amigos. O conflito exige, a quem o quer resolver, novas ideias, um novo entendimento e uma renovada vontade de consenso.

Sabemos que, para uma grande maioria dos Israelitas, o objectivo da paz é primordial. Durante os anos 90, Israelitas e Palestinianos aproximaram-se com passos corajosos, tornando-se aliados na busca de um fim para uma guerra sem fim.

Desde então, no entanto, ganhou assinalável terreno uma minoria de extremistas dos dois lados, de inimigos da paz, cujas acções ensombram as vidas da maioria. Floresceram aqueles cujas acções visam ferir o entendimento e a crença na paz.

Para que os Israelitas iniciem a travessia de uma nova ponte para a paz é preciso que haja confiança, e é preciso que haja amigos em quem confiar. Declaramos este compromisso: não ficaremos inertes, a assistir. Estaremos ao vosso lado sobre essa ponte.

Aos Israelitas e aos Palestinianos, a ambos:

Povo algum sobre a terra lutou mais tenazmente ou durante mais tempo pela liberdade, pela justiça e pela segurança. Só por esse facto, enquanto ambos os vossos povos não tiverem uma paz que inclua a liberdade, a justiça e a segurança, nenhum dos dois a terá.

A Terra Santa é, de sua própria natureza, um legado sagrado. Pertence-vos a vós, e também ao mundo. A vossa paz é a paz do mundo.

Acreditar na paz é estimar as crianças, ajudando a criar o seu futuro. Iremos pedir a vossa opinião, e dar-lhe-emos todo o seu valor. Queremos ouvi-la, não só dos dirigentes, mas dos pais, dos filhos, dos netos, do clero. Digam-nos e escrevam-nos o que pensam.

Digam-nos o que sentem, o que temem, o que acreditam que pode ser a solução.

Nós escutar-vos-emos. Não vemos maior honra nem maior imperativo diplomático do que apoiar-vos, a vós, Palestinianos e Israelitas, numa luta tenaz, numa luta contra todos os obstáculos, numa luta pela paz.


- Fim de tradução -

Naturalmente, não se pode esperar que o homem — Obama — dedique tanto tempo do discurso inaugural a uma só questão internacional, mesmo que seja esta. Mas eu — eu José, o Alfredo, o Bradley, o Burston, dirá da justiça dele, se assim o entender e se não lhe cair nenhum qassam na tola — eu cá não me admiro que o homem diga mais ou menos isto, ainda que em menos palavras.
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A isenção em pessoa


Já não é a primeira vez que, a propósito da tendência para a convergência de pontos de vista aparentemente opostos, como por exemplo os da extrema-direita e os da extrema-esquerda, vou buscar este moço. Mas o moço justifica o privilégio de surgir como figura anexa.

Não sei se mais alguém sem ser eu se penitencia a ver o Eixo do Mal. Quando vejo aquilo, que não é sempre e nunca é na totalidade, tenho dificuldade em imaginar que haja mais tontinhos a fazer o mesmo. Mas nunca se sabe. Se é o seu caso, consulte o seu médico de família (a minha não recomendo a ninguém) e/ou passe a dedicar a hora do Eixo do Mal (os 50 minutos, na realidade) à Playstation.

Na última sessão, o assunto-Gaza proporcionou mais alguns momentos de indignação ao moço Oliveira, que esteve a pontos de chamar narigudo ou coisa pior ao Henrique Cymerman. O acesso de cólera vinha a propósito da escandalosa falta de isenção dos meios de comunicação social na cobertura e análise do conflito israelo-palestiniano.

Israelo-palestiniano, note-se bem, nunca israelo-árabe. Na cabeça dos moços como o Oliveira, tal como noutras cabeças ainda mais rapadas, o que Israel tem feito é bater furiosamente nos palestinianos. Qualquer teoria de defesa perante os estados árabes é pura fantasia da propaganda sionista.

Perante a incontida fúria do moço Oliveira, e mesmo antes que este chegasse ao ponto de insultar o Cymerman em termos pessoais, o outro moço gorducho, o Marques Lopes, lá tentou chamar a atenção para qualquer coisa, mas o formato do programa impõe que nunca haja menos de três pessoas a falar ao mesmo tempo, de modo a que o eventual espectador possa receber a todo o momento o máximo de opiniões. Pérolas do pluralismo aos porcos deitadas, é o que é. O exemplo que Marques Lopes queria referir, e bem, era o do Expresso da Meia-Noite da semana passada, em que os quatro convidados competiam para ver quem era mais anti-israelita: Clara Ferreira Alves, Miguel Portas, uma sujeita angariada por ter vivido em Israel e um sujeito da Liga dos Amigos do Peito do Islão.

Vista através da retina do moço Oliveira, a nossa imprensa é um departamento de propaganda sionista. Não sei como é que os narigudos (que como se sabe controlam todas as televisões, os jornais e as próprias revistas de culinária) deixam passar aquelas imagens todas de palestinianos mortos, feridos, desalojados e aterrorizados. Deve ser mais uma pérfida manobra, uma maneira de amplificar audiovisualmente o terror infligido in loco.

Não me admiro que um dia destes o moço Oliveira, ou outro careca qualquer, venha comparar o efeito dessas imagens com as sirenes dos Stukas. Deve ser das poucas comparações que ainda não lhes ocorreu para equiparar os judeus aos nazis (paralelo que, curiosamente, equivale a dar uma espécie de um bocadinho de razão aos nazis... como se alguém de esquerda fosse capaz de uma coisa dessas... silly me). A menos que o moço Oliveira até já tenha falado nisso, mas alguém estaria a falar ao mesmo tempo e eu é que não ouvi. Ou teria ido passear o cão, quiçá.

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16.1.09

Mais um temporariamente farto


Então e o golo fora-de-jogo? É um golo fora-de-jogo. Factualmente inatacável. Havia de ser o quê? Mania de quererem empolar as coisas. Tanto golo fora-de-jogo do Benfica e vêm agora marrar com os das pessoas de bem. Errare humanum est e essas coisas todas.

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14.1.09

Blogue temporariamente farto


Farto de quê? Farto de certas merdas, para ser sincero.

Farto da merda da conversa do Paulo Baptista, por exemplo. Então e o Pedro Henriques? Então e o Olegário? Então e o Xistra? Então e o Xistra outra vez? Então e o Baptista Lucílio? Então e o outro Rui Costa? Então os outros todos, não contam?

Farto da conversa do fiscal de linha do Paulo Baptista. Alguém que me corrija se eu estiver errado, mas não é o mesmo gajo que foi capaz de não ver o golo do Petit? Não é o mesmo Houdini que conseguiu transformar um dos maiores frangos do Baía em coisa nenhuma? Vão lá aos arquivos e depois falem comigo. Ou não.

Farto de ouvir dizer que o fora-de-jogo é nítido e é escandaloso. Eu estava lá e não vi nada, só soube que tinha sido fora-de jogo quando as pessoas que estavam a ver as imagens paradas na televisão começaram a mandar mensagens a alertar para o escândalo. Depois, em chegando a casa, vi as mesmas imagens paradas. Sim, é fora-de-jogo, e não, não me parece estranho que com aquela molhada toda pela frente um gajo que não viu o golo do Petit não consiga ver que foi o David Luiz que marcou e que o mesmo David Luiz tinha estado momentaneamente ligeiramente adiantado alguns instantes antes. Vão dar banho ao cão.

Farto da conversa do campo inclinado, do penálti do Luisão (ainda não consegui ver uma imagem que mostre que é penálti), e por outro lado se for o Suazo já não conta, e que sendo o Di Maria também não devia ser penálti, quanto mais não fosse porque o Di Maria, para além de jogar pelo Benfica, festejou a obtenção do penálti (esta conversa, no caso do Oliveira e Costa que não é o que está preventivamente detido e que não se nega a prestar declarações, chega ao ponto de o Paulo Baptista ter perdoado um amarelo ao Di Maria por simulação, mesmo tendo o penálti sido assinalado!). Eu o que vi lá no campo foi o Paulo Baptista a marcar faltas o tempo todo, sempre que alguém do Benfica entrava em qualquer espécie de contacto com alguém do Braga. Se o homem tivesse uniformidade de critérios, o sujeito do Braga que derruba o Di Maria tinha levado vermelho directo. Vão-se catar.

Farto da conversa do Calabote e do clube do regime. O Calabote, que eu saiba, a única coisa que fez foi prolongar algo exageradamente os minutos de compensação. Que eu saiba, foi castigado por isso. E, que eu saiba, o Febóquelupârto foi campeão nesse ano. Porquê o estigma todo, passado tanto tempo? Por causa da merda da conversa do clube do regime. O clube do regime, que foi das poucas instituições genuinamente democráticas que existiram durante todo o tempo da merda do regime. O clube do regime, aquele cuja cor das camisolas tinha que ser sempre referida como encarnada e nunca como vermelha, não fosse haver confusão com outra merda de regime qualquer. O clube do regime, a pata que os pôs.

É desse tipo de merdas, quase tanto como da aflitiva falta de futebol patente no Benfica, que eu estou fartinho. Claro que também estarei farto de outro tipo de merdas, coisas de outros terrenos e de outros jogos, mas dessas ninguém sabe nem tem que saber.

Que se lixe.

Hoje vou ver o Benfica. Hoje vou ver o Olhanense. Pode ainda dar-se o caso de amanhã dizer que ontem vi o Maradona. E vou ver a minha filha a ver isso tudo.

Hoje é um fartote.

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13.1.09

Blogue sem nada para dizer

(como de costume) e sem muito tempo para inventar (o que já não é tão habitual).

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8.1.09

Como é que é possível?


Está visto que no futebol não há impossíveis. Exemplo: desde que do outro lado esteja o Luís Filipe, até uma equipa com o Moretto pode ganhar.

Na próxima jornada (4ª feira, 14) é que são elas: o líder Olhanense vem à Luz e, que eu saiba, não há lá nenhum Luís Filipe. Mas também ninguém pode garantir ao Olhanense que o Moretto joga...

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5.1.09

Os enfaixados de Gaza


Não há como a Terra Santa para produzir milagres. Desde mares que se abrem a mortos que ressuscitam e à multiplicação ou transformação de géneros alimentares, o Antigo e o Novo Testamento estão repletos deles. Maomé deu-lhes digno seguimento e não faltam relatos de pequenos e grandes milagres na história das Cruzadas. Mesmo nos nossos dias, ímpios e prosaicos como são, é de lá que vem o milagre da concórdia quase universal. Só mesmo a Palestina para pôr skinheads e o Bloco de Esquerda de acordo, irmanados na condenação de Israel.

No Eixo do Mal, Daniel Oliveira ilustrou a sua visão do assunto brandindo uns mapas em que se via a progressiva redução do território destinado aos palestinianos ao longo dos tempos. Ele não o disse, mas presumo que o primeiro mapa fosse o de 1947. O mapa que Israel aceitou e os países árabes não.

Desgraçadamente, o problema não é que os extremistas de todo o mundo se unam no mesmo discurso. O problema é que os extremistas de lá, os da Palestina (sensu latu, incluindo os de Israel), não fazem outra coisa que não pôr esse discurso em prática. Enquanto assim for, não há quem consiga voltar à tal ideia do mapa de 1947, à tal solução original, à única solução possível: dois estados.

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