"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

30.6.08

Em hora boa!


Os restantes ibéricos estão de parabéns (se bem que nem todos se sintam ou queiram sentir espanhóis... há cada doido...) e todos nós, os amantes da galdéria da bola, também.

Em boa hora, porque sinceramente já não dava mais. Depois da francesada de 2000, depois daquela porcaria daquele Brasil em 2002, depois daquele nojo da Grécia em 2004 e depois de um 2006 que ainda chegou a prometer Argentina mas que no fim nos conseguiu pôr a torcer pela Itália, não havia estômago para mais sapos.
No que nos toca a nós, portugueses, a festa acabou por nos passar uns quilómetros ao lado. Mas não terá também começado disparatadamente antes do tempo? Portugal saiu mais cedo do que se previa, talvez até cedo de mais. Mas com essa saída prematura ficou (finalmente!) bem patente para todos aquilo que alguns já haviam percebido há muito: que o mito do Paranormal não passava disso mesmo, de um mito. Portugal só terá a ganhar com isso.

No que toca ao futebol em geral, dificilmente se poderia exigir mais. Quantos torneios destes têm meia dúzia de equipas a entusiasmar-nos? Portugal, a Croácia, a própria Turquia, a Holanda, a Rússia e obviamente a Espanha, cada um a seu modo, mostraram que a galdéria da bola afinal ainda é redonda.

O senhor das barbas não aprecia, o Paranormal não entende, o italiano do apito final pelos vistos preferia que não fosse assim, mas é: jogar bem à bola ainda compensa.

Está tudo dito. Ganhou a Espanha, ganhou o futebol, ganhámos todos.

¡Enhorabuena!

27.6.08

¡Qué barbaridad!


E diria mesmo mais: ¡de puta madre!

Posto isto nestes termos, torna-se difícil acrescentar seja o que for. Ainda assim, e não perdendo de vista o essencial, é justo dizer que o jogo de hoje (que por acaso foi ontem) confirmou aquilo que já se tinha visto antes: a Espanha oferece mais garantias de conseguir infringir a Lei de Lineker no próximo domingo.

Deixando de lado o primeiro jogo, que podia não querer dizer nada, e a Grécia, que não é chamada a conversas sobre futebol, a Espanha já tinha dado duas grandes lições de solidez e cabecinha aquando dos seus encontros com a Suécia e com a Itália. Que os vizinhos sabem jogar à bola não é novidade. Não se sabia era que também são capazes de manter a cabeça fria e jogar só o suficiente para no fim estarem em condições de poder ganhar.

A Rússia entretanto mostrou que era capaz de fazer ainda melhor? Sem dúvida. Mas não mostrou que era incapaz de fazer pior, ou de não fazer nada, como foi agora o caso.

Resta portanto a toda a gente que aprecie e entenda minimamente o futebol e que não seja alemão (ou seja, o planeta inteiro à excepção do senhor das barbas da Quadratura do Círculo e do Paranormal) esperar que los españolitos matem os toiros no domingo. Com ou sem uma grande faena, nos penáltis, com as mãos, seja lá como for. Mas que seja.

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26.6.08

Um autocarro chamado milagre


Quem diria? Quem diria que este autocarro chegava até aqui? Foi à custa de uns quantos milagres, é certo, mas o maior de todos não foi chegar onde chegou. O verdadeiro milagre foi pôr-nos a todos (com a possível excepção de algum alemão ou outro) com pena de o ver partir.

À medida que a final se aproxima, vai-se esbatendo aquela peculariedade tão agradável deste Europeu que consistia em ganharem os melhores. Lamentavelmente, começam a impor-se as leis gerais do futebol.

E agora? Espanha ou Rússia? Quem irá desafiar a Lei de Lineker?

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24.6.08

O sentido da vida


Procura-se e dão-se alvíssaras. Já se deram conta de que vamos a caminho de dois dias seguidos sem futebol?

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23.6.08

Ciao, bambini


Não pode ser sempre. Nem os jogos podem ser todos bons nem a Itália se pode safar sempre. Por um lado é pena o Espanha-Rússia não ser a final, mas por outro é bom saber que ainda há uma hipótese (duas, na realidade) de alguém ganhar à Alemanha. Deviam fazer mais campeonatos destes.

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22.6.08

Este parte, aquele parte...

... e todos todos se vão. O futebol é assim mesmo, jogos fáceis já não há, há que levantar a cabeça. A verdade cruel é que, em tentando vê-lo com olhos de marciano ou de inglês, o raio do Europeu continua bom como poucos de que me lembre.

Mantém-se aquela tendência, estranhíssima no futebol, de as melhores equipas ganharem e as piores perderem. E quando digo as melhores refiro-me àquelas que jogam melhor no local e à hora combinados para o jogo.

Por muito que preferíssemos que as coisas tivessem sido de outra maneira, por muito que achemos que temos jogadores que jogam melhor que os alemães, o facto é que naquele jogo a equipa deles foi melhor que a nossa equipa e foi por isso que o autocarro deles ficou lá (com parque de estacionamento pago até à final...) e o nosso veio de volta.
O mesmíssimo se passou ontem com a Holanda. Arshavin disse que o melhor holandês tinha sido Hiddink e teve razão. Se ao princípio o futebol da Holanda parecia bestial, o que dizer deste da Rússia?

O caso da Croácia foi bastante diferente. Dá ideia que é melhor que a Turquia (e é), dá ideia que teve azar na maneira como perdeu (e teve), isso tudo e mais um par de botas, mas o engraçado é que, sendo isso tudo e o par de botas completamente verdade, o oposto também não é mentira nenhuma. Quero eu dizer que a Turquia, naquele jogo em concreto, não foi pior equipa que a Croácia. Quero eu dizer que, se a Turquia não tivesse feito mais aquele milagre de empatar aos 121', tinha perdido o jogo aos 119' com uma gafe monumental do guarda-redes (a única) e sem ter andado de aflitos até lá. Para azar, não estaria nada mal. Finalmente, a história dos penáltis deu para ver quem é que tinha vontade e força mental para ganhar aquilo e quem é que não tinha. É pena a vida ser assim? É, com certeza. Mas se não fosse assim poderia ser ainda pior.

Para logo à noite o único prognóstico que se arrancaria de um marciano sensato ou de um inglês sóbrio, se é que alguma das espécies existe, seria: provavelmente vai valer a pena ver.

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20.6.08

19.6.08

Os ins e os outs

Metade dos autocarros já vão a caminho de casa. Diga-se de passagem que não se perde grande coisa. Diga-se mais: até agora, tem sido um belo de um torneio. A modalidade tem saído beneficiada e os trombalazanas têm tido o que merecem.

Os suiços a bem dizer nem precisavam do autocarro, cada um podia ir no seu próprio par de skis. Pelo que fizeram no primeiro e no último jogo (ou melhor, pelo que tentaram fazer contra os checos e pelo que conseguiram contra nós), e também pela forma cruel como foram encavados pelos turcos (com a ajuda da Senhora do Caravaggio, relembre-se), talvez sejam os únicos que mereciam mais qualquer coisa. Prémio Simpatia para eles.

Os checos tiveram uma dose brutal de ranço no primeiro jogo, devidamente compensada no terceiro. Pelo meio, equilibraram relativamente as coisas connosco e, no equilíbrio, levaram 3-1. Sem penáltis inventados, sem foras-de-jogo, sem mãos, sem nada que não fosse bola. Boa viagem é o que se lhes deseja.

Os austríacos. Que dizer destes? Saíram com mais dignidade do que se poderia esperar e tal. Prémio Yodel, bitte.

Os polacos. Como é que é possível não termos ganho a estes energúmenos no apuramento? Duvido que o Luxemburgo tivesse feito pior. Wagner bem alto para acompanhar a saída.

Os romenos foram outros que tais. Há que lhes agradecer o que fizeram no primeiro jogo, a primeira machadada nos frogs. Depois foi um ar que se lhes deu. Nem foram capazes de esperar que o autocarro saísse para adormecerem, foi logo no jogo com a Holanda. Vão fazer tanta falta como os polacos.

Os franciscos. Eheehhehehhhehehhehh! O Domenech diz que vai desapontado mas não desiludido. Mas já foi, que é o que interessa. Prrrémio Cabéce de Zizou parrra eles, alors.

Os gregos. Ainda bem que vieram, para poderem ir embora. Voltaram a mostrar o que valem, só que desta vez não encontraram fenómenos paranormais.

Os suecos bem podiam ter ficado em casa. Se tivessem posto 23 funcionárias do IKEA de Alfragide a jogar teriam feito melhor figura. Não fosse terem ganho aos gregos e estaríamos a atribuir-lhes o Prémio Zombies 2008.

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18.6.08

Au revoir


Raymond Domenech, esse outro paranormal, parece querer contar qualquer coisa pelos dedos. Será o ponto?

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14.6.08

Karaiodazaris!





Não há dúvida: hoje foi um belo dia para o futebol. Não vi o segundo jogo, mas a internet aqui de casa diz que o Exército Vermelho fez o que lhe competia e aniquilou a besta. O Paranormal já pode dormir mais descansado. Agora pode pedir à Senhora do Caravaggio que o ajude a enfrentar aquele outro pequeno obstáculo, aquele adversário com o qual se vê manifestamente grego: a língua inglesa.

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Olé!


Safa! Os marretas dos cozinheiros suecos iam conseguindo o raio do pontinho. Vá lá que desta vez os santinhos do futebol acordaram mesmo a tempo de impedir mais uma daquelas nojices que só de lembrar até metem nojo.

Há quem diga que somos o que comemos. O gang sueco, pelos vistos, papou os gregos e ficou como eles. Só espero que não cheguem à final, ou então que não cheguemos nós. A perder com alguém, que seja com uma Espanha, ou com uma Holanda... alguém que ache que o objectivo do jogo é meter aquela coisa esférica dentro daquelas gaiolas, e não acrescentar mais onze ao número dos espectadores.

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Oh la la!

Mas que grande galo. Decididamente, I love this game!







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12.6.08

Obrigado, bom homem


Este benemérito afastou as nuvens que ainda pairavam sobre os meus horizontes. Claro que o mais importante, o Benfica, já estava a salvo. Mas no Olhanense, que eu saiba, ainda não há sucessor para Diamantino Miranda. É de Jorge Costa que se fala e as finanças do Olhanense não dão para extravagâncias paranormais, evidentemente. Só que nunca se sabe. Por vezes os dirigentes perdem a cabeça e embarcam em aventuras totalmente irrealistas. O maior perigo, no entanto, era a Selecção. Se não houvesse um camarada Abramovich que o levasse, era bem possível que o Paranormal fosse ficando. Dessa já estamos livres.

Os adeptos do Chelsea, coitados, é que poderão vir a pagar as favas, mas alguém teria que ser. Abramovich (a quem nunca é demais endereçar um enorme e sentido Spaciba) pode ter um bambúrrio e conseguir finalmente a tão almejada Champions. Ou então, se a Senhora do Caravaggio não se der com o clima londrino, apresentar-se como fortíssimo candidato à conquista da Championship já na época 2009/10.

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11.6.08

No comments


Não vi o jogo, por isso desta vez não posso dizer mal do Paranormal. Acima de tudo, sou uma pessoa justa. Apeteceu-me mais ficar uma hora e meia numa fila para meter gasóleo, sempre a ouvir o relato, naturalmente, mas se não vi o jogo não me fica bem dizer mal.

Aliás, para dizer mal do Paranormal teria de comentar a conversa do Paranormal depois do jogo, e não vou fazer isso. Não vou mostrar-me escandalizado, nem apavorado, nem atónito, nem a pontos de mandar mesmo matar o homem só porque, na sua visão tão própria do futebol, o homem se convenceu que seis pontos lhe asseguram o apuramento.

Eu lá era gajo para desancar no imbecil do Paranormal só porque o cabresto dá sinais de não estar consciente de que a selecção ainda pode ser eliminada? Acham mesmo que, depois de uma vitória que quase quase quase assegura a passagem aos quartos, eu viria para aqui marrar nos quases?

Não me conhece quem acredita que eu, logo eu, em vez de ir buzinar e gastar o gasóleo que passei o jogo quase todo a cobrir homem a homem, vinha agora ao Desinfeliz dizer que até o Cristiano Ronaldo foi mais esclarecido, quando disse que tinha 99% do apuramento garantido. Logo eu, que nem reparei que, para além de estar a fazer mal as contas, o Paranormal pediu ao Zé Eduardo Moniz uma cassete com muitas imagens dos portugueses todos a vibrar com a selecção, para mostrar aos atletas e motivar mais os atletas.

Então eu ia lá achar que era mais uma anormalidade do Paranormal, estar a meter mais responsabilidade nos ombros dos jogadores? Então eu não ia concordar que isso faz muito mais falta do que estar a perder tempo a explicar-lhes o que é que acontece se ganharem, ou se perderem, ou se empatarem, mais as confusões dos resultados do outro jogo? Para isso está lá o Cristiano, que pelos vistos até se ajeita com as contas.

Claro que, estando já familiarizado com as capacidades da Senhora do Caravaggio, acredito piamente que o resultado do Suiça-Turquia venha a dar uma espécie de razão a posteriori ao Paranormal, confirmando-o como o grande Paranormal que é.

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P.S.: Acabou o Suiça-Turquia. A Senhora do Caravaggio informou-se sobre os regulamentos, fez as suas contas e, com alguma crueldade, sacrificou os coitados dos suiços para que o Paranormal não viesse a sofrer alguma desilusão prematura.

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10.6.08

Double diaeresis


Para quem não tenha o seu Thesaurus ou Webster's à mão, é justo começar por esclarecer que diaeresis não é mais nem é menos que um trema. Ou seja, um diacrítico, um acento gráfico que assume a forma de dois pontinhos que se colocam, um ao lado do outro, por cima de uma vogal que se quer assinalar como sílaba independente ou como mais longa que o habitual. Nada mais nada menos que um trema, repito.

Os alemães, gente bruta e pouco sensível a estas coisas, chamam-lhe umlaut, talvez porque lhes dá jeito. Mas alguma coisa teriam de lhe chamar, faça-se-lhes a justiça, porque usam daquilo à ganância. E diaeresis, embora soe bem, não é palavra que se use por aí a torto e a direito.

Quem pelos vistos também não se faz rogado no uso destes excelentes diacríticos são os suecos. Vejam-se, a título de exemplo, os dizeres que a Federação Sueca do Pé-na-Bola escolheu para engalanar o seu autocarro no Euro 2008: Sveriges gäng = full poäng (para quem já não sabe ao certo onde guardou o seu Sueco-Português da Porto Editora, o Desinfeliz fornece, a título inteiramente gratuito, a versão portuguesa oficialmente recomendada pelo site da Uefa: Selecção da Suécia, que sonho de equipa).

Diaeresis (favor pronunciar dái-é-ri-zis) é como os ingleses chamam ao umlaut dos alemães, ao nosso trema (nosso, quer-se dizer... os brasileiros é que ainda o usam, quanto mais não seja para depois poderem dizer que nós é que complicamos a escrita da língua deles; mas eis que divago em demasia; não queria afastar-me de assuntos europeus). Obviamente, os ingleses usam pouquíssimo e com muita elegância, de preferência em palavras de origem francesa, como naïve. As manas Brontë também não passavam sem o seu
diaeresis, mas não é espécimen que se encontre em abundância para lá da Mancha.

O mais delicioso desta pequena viagem no autocarro das línguas é que ela nos leva, inexoravelmente, à etimologia. Ah pois é. Chegados à etimologia, apeamo-nos, bebemos um Absolut estapafurdiamente gelado e constatamos, com pouca surpresa mas com enorme gozo, que uma palavra destas — diaeresis — vem do grego. É neste tipo de circunstâncias, quando se sabe que o Sveriges gäng, esse autêntico dream team, espetou dois nos gregos, que muita gente dá por si a grafar um lol ou um :D. Eu confesso que tenho um fraquinho pelo ehehehehhehehhehhehehe, sem gelo e sem itálicos.

É também nestas alturas que tenho pena do senhor das barbas, homem de reconhecida craveira intelectual, perfeitamente capaz de apreciar as riquezas da etimologia e as subtilezas da acentuação e respectiva anotação diacrítica, mas que se auto-exclui destes prazeres que a vida tem para nos där.

(Notem que chego ao fim do post sem sequer referir o Paranormal. Sou uma boa alma, eu. Incapaz de relembrar que o Paranormal nos fez perder duas vezes com os gregos. Demasiado generoso para sublinhar que a segunda dessas vezes equivale, para todos os efeitos, ao esbulho da Taça. Eu lá seria de guardar rancor e ódio ao Paranormal? E depois transferi-lo também para os retardados dos gregos e vir para aqui destilar esses maus sentimentos? Regozijar-me com dois secos dos suecos só porque foi a Grécia que levou? Rir-me a bandeiras despregadas com o fenomenal ridículo daquele segundo golo só porque o Nikopolidis em particular e a Grécia em geral fazem figura de urso? Refastelar-me depois com estas bizantinices dos tremas e gozar sadicamente com os dois que os suecos levam no autocarro? Só porque diaeresis vem do grego? Eu? Nada dïsso.)

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9.6.08

Hogi somus todus romenus

Deutschland über uns


Há bocado, a ver o Alemanha-Polónia, cuidei que tinha gravado sem querer o jogo de ontem e que o estava a rever. Às tantas lembrei-me que não tenho tecnologia gravadora acoplada ao televisor e comecei a desconfiar. Quando vi a forma como a equipa que estava a ganhar geriu a vantagem, tive a certeza: a Turquia e a Polónia andam ela por ela, mas a Alemanha não é Portugal.

Portugal até pode, um dia, chegar lá. E esse dia até pode ser já a 29 do corrente. Se necessário fosse, a Grécia provou em pleno Dragão e especialmente em plena Luz que não há impossíveis. Mas há improváveis. Não sendo obviamente certo, como nada o é no futebol, é muito mais provável que seja a Alemanha a levantar o caneco. Por isso é que quem apostou na Alemanha ganha menos do que quem apostou em Portugal. São as probabilidades, estúpido (este qualificativo não se destina a si, caro acompanhador do Desinfeliz, e sim ao Paranormal).

Qual era a probabilidade de uma equipa como Portugal, que já tinha chegado mais que uma vez às meias-finais de Europeus e Mundiais, chegar à final de um Europeu em casa? Elevada. Qual era a probabilidade de a Grécia, que nunca tinha sequer chegado a uma meia-final, pôr as patas na relva da Luz? Baixíssima. E no entanto aconteceu. Tendo acontecido, qual era a probabilidade de uma equipa como Portugal, a jogar num estádio como o da Luz, perder pela segunda vez com a Grécia em menos de um mês? Quase total. Porquê? Porque ia ser dirigida pelo Paranormal.

Recapitulemos muito resumidamente esse trajecto.

Portugal-Grécia: com a equipa que qualquer um (à excepção do Paranormal e do senhor das barbas da Quadratura) via que nunca ia funcionar, perdeu-se com a Grécia.

Portugal-Rússia: ganhou-se sem jogar patavina, com o simples efeito de aproveitar o efeito Mourinho e o factor casa numa prova da UEFA (se alguma vez o Ovchinikov era expulso se estivesse ali a jogar pelo Porto!).

Portugal-Espanha: podíamos ter perdido ou empatado, mas ganhámos. Aconteceu futebol.

Portugal-Inglaterra: nem é preciso dizer nada. Aconteceu um dos tais momentos do Paranormal.

Portugal-Holanda: a Holanda esqueceu-se de jogar à bola e a malta não. Ganhou-se o único jogo desse Euro como deve ser.

Portugal-Grécia: a overdose de bandeiras, motas, barcos, cavalos e cavalgaduras, raras vezes vista depois de uma vitória e nunca antes, conjugada com a pequena amostra do que é uma verdadeira torcida num jogo de futebol (a grega), que chegou e sobrou para as 50 mil tias que garantiram lugar na Luz, tudo isso somado ao esvaziamento do efeito Mourinho e ao facto de se ter um Paranormal a orientar a equipa, fez com que a Santinha do Caravaggio alegasse, com toda a justiça, que já tinha entregue o que lhe competia, naquele mesmo estádio, contra a Inglaterra. Perdeu-se, muito naturalmente, porque não se fez rigorosamente nada para ganhar. Contra uma equipa que, como até o senhor das barbas sabia que ia acontecer mas o Paranormal pelos vistos não, fez tudo para não perder.

Claro que o palmarés da Alemanha a ajuda, e não é pouco. Mas lembram-se do Mundial de 2002? O tal em que o palmarés do Brasil engordou mais um pedacito e o do Paranormal atingiu os píncaros? Lembram-se do primeiro jogo, por sinal contra a Turquia? O Brasil não perdeu esse jogo porque a Turquia foi, pura e simplesmente, roubada à descarada. Nesse jogo estabeleceu-se o recorde mundial de penálti inventado em comprimento, se bem se lembram. Para chegar à final, houve pelo menos mais uma escandaleira monumental (com a Bélgica?). O palmarés ajuda, mas não garante nada. Para isso, especialmente quando se trata do Brasil, estão lá uns senhores com uns apitos e umas bandeirolas.

Ora não foi com ajudas dessas que a Alemanha ganhou há bocado à Polónia (coisa que o Paranormal não conseguiu na fase de apuramento...). Foi a jogar melhor, a manter a cabeça no sítio e a não se encafuar tudo lá atrás assim que se apanhou a ganhar. É assim que as probabilidades de alguns saem por cima das de outros.

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7.6.08

Wanted (Dead or Alike)


A pouquíssimos dias do 10 de Junho e do costumeiro bodo de condecorações, talvez alguém ainda vá a tempo de se candidatar a uma, prestando o supremo serviço à pátria: eliminar o grande (único?) grande obstáculo no caminho da selecção nacional nas alpinas alturas.

Contra tudo o que se podia esperar, Portugal jogou bem. Colectivamente, como há muito tempo não se via, e individualmente também.

Nuno Gomes e Petit não enjeitaram a oportunidade para mostrar a Quique Flores que afinal havia algum exagero nas respectivas certidões de óbito.

Simão e Bosingwa estiveram muito próximos do seu nível. Deco aproximou-se o suficiente.

Moutinho, sabendo que Rui Costa e Quique Flores andam desesperadamente à procura de alguém que não se chame Susana e saiba andar com um número 10 nas costas, deu nas vistas (que bem que lhe fica a camisola encarnada... e o pormenor no segundo golo também não lhe saíu nada mal).

Paulo Ferreira fez o máximo que está ao seu alcance, que é não se dar por ele.

Ricardo Carvalho idem, mas no bom sentido.

Pepe conseguiu algo raríssimo num central: um hat-trick dos de letra, com os três tentos de seguida (hino nacional, golo de cabeça — anulado por ser o único da trilogia que é banal num central naturalizado — e arrancada imparável culminada com tabela com Nuno Gomes e golo que pelos vistos não havia outra maneira de entrar).

Ricardo só comprometeu duas vezes e teve a decência de não se lesionar logo no jogo em que o Quim não estava no banco e o Rui Patrício estava no banco.

O próprio Ronaldo teve três ou quatro momentos em que deu a nítida sensação de estar em campo e mostrou que tem uma enorme margem de progressão dentro e fora dos relvados.

O Meira cumpriu quase 90 segundos e não esbarrou em nenhum colega de equipa nem provocou nenhum penálti, feito notável se se atender à densidade populacional vigente no meio-campo português nessa altura.

Não fossem Nani e Meireles, e podíamos dizer que, jogador a jogador, todos estiveram bem. O problema é que Nani não marcou mas é inegável que esteve bem e Meireles, sem ter estado lá, marcou. Pior era impossível. A esta hora a Santinha do Caravaggio está a esfregar as mãozinhas de contente, se é que é isso que as santinhas fazem quando ficam contentes.

Obviamente, a solução não é matar ou inutilizar Nani e Raul Meireles. A culpa, como sempre, é do vinicultor. Do gatuno que nos espoliou o troféu em 2004. Do Perfeito Anormal. Do inominável. Do cretinápula. Do defensor dos atletas. Do agressor (falhado) de Dragutinovic. Esse.

Tirar Cristiano Ronaldo das alas e metê-lo no meio era a única coisa a fazer, à excepção de o meter no banco. Mas tirar o Nuno Gomes, no único jogo da época em que o homem só estava a comprometer as hipóteses do adversário? Meireles sim, com certeza, mas talvez mais cedo e para o lugar do Petit, que deu a época inteira na primeira parte e ao intervalo já não conseguiu sair do balneário. Meter alguém, nem que fosse o Meira, para queimar tempo, é admissível. Mas para o lugar do Petit, que por essa altura ainda não tinha voltado do balneário. O senhor das barbas da Quadratura do Círculo deve ser o único português que não ficou a sofrer desalmadamente nos últimos 15 ou 20 minutos, mas até esse, se tivesse visto, percebia que não havia necessidade de convidar os turcos a treinarem na área do Ricardo a entrada na União Europeia.

Pior, para efeitos da manutenção do mito do único treinador capaz de me fazer acreditar que há pior e mais bem pago que o Camacho, só se o Meira ainda tivesse marcado o terceiro, possivelmente num alívio de bicicleta a emendar uma Ricardada.

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6.6.08

A democracia, essa grande maluca

Dois artistas, Josyane Vanounou e Dov Or-Ner, decidiram expor numa galeria em Haifa seis reproduções de pinturas de Adolf Hitler (tudo naturezas mortas, nomeadamente florzinhas, dos tempos de vagabundagem em Viena).

Como seria de esperar, tem havido reacções fortes à iniciativa. De um lado, os que acham a iniciativa de muito mau gosto, afrontosa da memória e da dignidade do povo judeu. Do outro, os defensores da absoluta liberdade artística.

No meio, Dov Or-Ner, um dos reprodutores e expositores, ele próprio sobrevivente do Holocausto em criança e cujos pais morreram em Auschwitz, que se sente no direito moral de abordar o assunto como bem entender, e Yaacov Chefetz, o curador da exposição: "Primeiro, senti-me muito desconfortável com a ideia de expor obras de Hitler. Mas depois disse a mim mesmo: espera lá, talvez a mostra deste kitsch estúpido possa servir para sublinhar ainda mais a natureza monstruosa daquela pessoa. Estas obras fascinam-me da mesma maneira que um livro sobre Hitler me fascinaria".

Se fosse obrigado a comentar o assunto, o Desinfeliz diria, muito simplesmente:
Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile.

4.6.08

Os Amigos de Augusto

É espantosa a influência que uma novela pode ter na sociedade. Lembram-se da famosa paragem dos trabalhos da Assembleia da República para ver o último episódio da Gabriela? Pois agora, certamente tocado (no sentido de motivado, não de emborrachado) pela genial divulgação do Caso Eichmann no Desinfeliz, um tribunal decidiu reabrir o Caso Victor Jara.

Quer isto dizer que os responsáveis pela tortura e assassínio de Jara terão boas razões para começarem a treinar o discurso do costume ("A culpa foi do Augusto, eu só estava a cumprir ordens").

Espero que esta história tenha o happy end que não foi possível no Caso Pinochet. Para banda sonora, nada mais nada menos, The Clash: Please remember Victor Jara in the Santiago Stadium...