"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

1.6.07

O bom velho Coutinho é que sabe

Esta apanhei-a numa das tais crónicas do ex-puto João Pereira Coutinho, e é uma das tais provas de que nem tudo na vida tem de ser complicado e/ou relativizado. Há coisas que são como são. Haja quem as diga ou escreva bem e, de preferência, de forma sucinta. Depois haja quem as oiça ou leia, ou seja, quem as divulgue (um puto dos de hoje usaria provavelmente o verbo partilhar, e não o divulgar, mas vai dar no mesmo).

Neste caso, a propósito do valor da conversa, do conversar pela noite e pela própria conversa fora, por oposição ao falar por falar ou só para dizer uma porcaria qualquer, o ex-puto cita um tal Dr Johnson (que humildemente confesso que não conhecia até me ser apresentado na Avenida Paulista pelo bom velho Coutinho; note-se também que, pelo contexto, presumo que o Dr Johnson tenha exposto a sua ideia por alturas do século XVIII, pelo que haverá que introduzir na frase o elemento inflação e ter em conta que a meia-noite de então corresponderia, no mínimo, às nossas 2 ou 3 da manhã):

"Whoever goes to bed before midnight is a rogue".


Sem ir ao dicionário em busca da tradução convencionada para 'rogue' (deixo esse exercício ao estimado blogoleitor) permito-me uma adaptação livre para o português de hoje:

"Um gajo que se deita antes das 2 da manhã é um bandalho".

Ou, tentando recuar ao português dos tempos que presumo terem sido os do Dr Johnson, qualquer coisa como:

"Aquele que recolhe ao leito antes da meia-noite não passa de um biltre".

Simples, conciso e (salvo casos pontuais de estrita imposssibilidade de proceder de outra forma, por qualquer razão de força maior) verdadeiro. Claro que há sempre as excepções que confirmam a regra. Conheço bem, e estimo muito, duas ou três pessoas que gostam de se deitar cedo e que para além disso também são excelentes pessoas, com as quais dá imenso gozo conversar sobre variados assuntos. Por acaso, ou talvez não, não me lembro de nenhuma delas alguma vez ter interrompido uma boa conversa, fosse a que horas fosse, a dizer que lamentava imenso mas estava na altura de ir para a cama.

Mais que uma opinião, o que o Dr Johnson exprime (e o velho Coutinho tão bem relembra e dá a conhecer aos ignorantes como eu) é uma Lei da Vida. Por oposição àquilo que o bom velho O'Neil (o Alexandre, o Grande) poderia ter rotulado como um decreto da vidinha, tudo em minúsculas e no diminutivo mais que perfeito.

3 comments:

L. Rodrigues said...

Nos jogos de RPG (sem relação com lança granadas) o "rogue" é o ladrão, o salteador, habilidoso de mãos, adepto da sombra e amigo do alheio.

José, o Alfredo said...

Também já o vi descrito como um animal que me deu ideia de ser uma espécie de javardo. Não deve andar longe de um orc... Enfim: coisa boa não é.

Anonymous said...

Eu também conheço 3 ou 4 pessoas como as que mencionas mas a partir de hoje a 2 delas passarei a apelidar, simpaticamente, de bandalhos e às outras 2, amigavelmente, de biltres. O horário a que escrevo exclui-me definitivamente desse clã saudável bem comportado.