"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

20.5.08

Os Amigos de Adolfo (1º episódio)

A novela da vida real que o Desinfeliz se propõe escarrapachar nos dias que se seguem (devidamente cortada em fatias fininhas para não desassustar ninguém e para ir agarrando as audiências) necessita de umas quantas explicações e agradecimentos prévios.

Começando pelo princípio: o título. Os Amigos de Adolfo é um título que roubo indecentemente a uma fabulosa curta-metragem de Luís Tinoco, a quem penso que ainda posso chamar amigo apesar de já não o ver há muitos anos, e que entretanto se tornou conhecido como compositor e ainda por cima dizem que é dos bons.

Escolhi este título porque o protagonista da história é Adolfo, porque é fiel seguidor de outro Adolfo e, acima de tudo, porque o que me leva a escarrapachar aqui a história é a quantidade de Adolfos que por aí andam sem saberem que o são.

Na senda de outros posts anteriores, achei que se justificava assinalar no Desinfeliz a data de 24 de Maio. Numa história que começa muito antes e termina depois, o 24 de Maio é um capítulo como qualquer outro, por isso decidi começar antes e eventualmente acabar não muito depois de 24 (se não me falham as contas às doses a servir em cada episódio).

Finalmente, espero não estragar nenhum efeito dramático mas vou adiantar já a moral da história, ou a minha moral da história, que não é mais que a razão que me leva a pensar que ela, a história, pode ter algum tipo de interesse para as pessoas. Para algumas pessoas, pelo menos.

Este Adolfo e muitos dos seus amigos sustentaram a tese de que a responsabilidade desaparece quando se cumprem ordens. Em última análise, num sistema hierárquico piramidal puro e duro, a responsabilidade seria toda, única e exclusivamente, do Grande Chefe. Todos os outros, pelo facto de cumprirem ordens, estariam automaticamente libertados de qualquer outro tipo de obrigação, culpa ou possibilidade de castigo. Cómodo, muito cómodo. Demasiado cómodo e, para mim, totalmente inaceitável.

A história deste Adolfo começou há mais de 100 anos e o 24 de Maio que pretendo assinalar foi o de 1960. Mas, talvez por histórias como esta não terem sido devidamente adaptadas para novelas ou outros formatos de fácil consumo, é espantosa a quantidade de pessoas que vejo todos os dias agirem de acordo com a tese da responsabilidade total do líder supremo e inatingível, e da paralela e consequente desresponsabilização de todos os subordinados, ou seja de toda a gente. Vejo-os todos os dias e não páro de m'espantar e de m'assustar com o seu zelo de burocratas e com a sua fantástica combinação de inocência, ignorância, inconsciência, auto-convencimento, cobardia, estupidez e amoralidade.

É nestes amigos de Adolfo que penso quando trago esta história para os amigos do Desinfeliz. Depois deste longo intróito, prometo que o primeiro episódio é curtinho. Apresenta-se o protagonista e prontos, amanhã há mais.

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OS AMIGOS DE ADOLFO
1. Os primeiros passos


Nasceu a 19 de Março de 1906, na Alemanha, mais exactamente em Solingen, não muito longe de Düsseldorf. Os pais, Adolf Karl Eichmann e Maria Eichmann, Schefferling de solteira, chamaram-lhe Otto Adolf Eichmann.

Em 1914 a mãe morreu. O pai, homem de negócios e industrial, levou a família para Linz, na Áustria. Terminada a Primeira Grande Guerra, durante a qual serviu no exército austro-húngaro, Adolf Karl voltou à família e aos negócios em Linz.

Otto Adolf, o filho, deixou a Realschule sem ter concluído os estudos secundários e começou a praticar a profissão de mecânico. Aos dezassete anos começou a trabalhar na companhia mineira do pai. Entre os dezanove e os vinte e um trabalhou como vendedor para a Oberösterreichische Elektrobau AG e até à Primavera de 1933 foi agente da Vacuum Oil Company AG, uma subsidiária da Standard Oil. Em Julho de 1933, com vinte e sete anos, regressou à Alemanha.

Em 21 de Março de 1935 casou com Veronica Liebl, três anos mais nova. Tiveram quatro filhos: Klaus Eichmann (nascido em 1936, em Berlim), Horst Adolf Eichmann (n. em 1940, em Viena), Dieter Helmut Eichmann, (n. em 1942, em Praga) e Ricardo Francisco Eichmann, (n. em 1955, em Buenos Aires).

(Continua)

Amanhã — A NÃO PERDER — Adolf entra no Partido Nazi — Será que se junta às SS? - OS AMIGOS DE ADOLFO — Todos os dias e a todas as horas no Desinfeliz - A SUA BLOGONOVELA DA VIDA REAL - Guerra! Espionagem! Horror! Justiça e injustiça! Mortos - muitos, muitos, muitos mortos! — Amanhã, 2º episódio e capa arquivadora GRÁTIS - Ligue já 808 115 115 (se gostou do 1º episódio) ou 808 112 112 (se adorou)

4 comments:

Anonymous said...

Caramba, que expectativa... não vou querer perder. Mas olhe lá uma coisa, amigo José, liguei para o número do adorou, atende-me uma senhora simpática, eu digo-lhe que é por causa de um Adolf, ela ainda pergunta se é Adolfo, digo-lhe que não e falo-lhe de uma BLOGONOVELA, a moça resmunga dizendo-me que não está ali para brincadeiras, insisto que é a sério e que li num blog e ela responde-me blog para ti também meu nazi! O meu amigo pode fazer alguma coisa? Ou só a linha do gostou é que está em funcionamento?

José, o Alfredo said...

Por dificuldades técnicas só estão em funcionamento as linhas do gostou, do adorou e do amou. Na linha do sr Ford (e dos Adolfos), o estimado público pode dizer o que quiser desde que seja para dizer bem.

L. Rodrigues said...

Solingen, bem me parecia que conhecia esse nome... era de uma marca de laminas de barbear... daquelas à antiga.

José, o Alfredo said...

Havia a lâmina de barbear do homem de sucesso... mas se calhar era outra.