"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

29.5.08

É hoje! É hoje que isto acaba!

OS AMIGOS DE ADOLFO
8. O dia do juízo






Plano aberto do Muro das Lamentações. Uma fila de judeus bate com a cabeça na parede. Plano aperta, mostrando os papelinhos dobrados, enfiados entre as pedras. Funde para outro papelinho dobrado, um recado que está a ser recebido pelo acusador em mais uma sessão do caso Eichmann. Legenda: Jerusalém, 1961.

As testemunhas de defesa, todos antigos altos quadros nazis, receberam garantias de imunidade e salvos-condutos para regressarem às suas casas, a maioria na Alemanha e na Áustria, para virem a Jerusalém depor a favor de Eichmann. Mesmo assim, todos recusaram viajar até Israel e enviaram os seus depoimentos para o tribunal.

Nenhum destes depoimentos, no entanto, sustenta a tese de defesa de Eichmann do “cumprimento de ordens”. Um dos depoimentos é o de Otto Winkelmann, antigo SS e comandante da polícia em Budapeste em 1944. Declarou que Eichmann “tinha a natureza de um subalterno, no sentido de um tipo que usa indiscriminadamente o poder que tem, sem constrangimentos morais. Ultrapassaria certamente a autoridade que tinha se achasse que estava a agir no espírito do seu comandante (Adolf Hitler)".

Um antigo brigadeiro dos serviços secretos alemães, de nome Franz Six, declara no seu depoimento que Eichmann acreditava absolutamente no Nacional Socialismo e agiria até ao extremo da doutrina do partido, e que Eichmann tinha mais poder que os outros chefes de departamento (da RSHA).

Legenda: 14 de Agosto. Depois de 14 semanas de testemunhos, com mais de 1500 documentos, 100 testemunhas de acusação (90 das quais são sobreviventes dos campos de concentração) e dúzias de depoimentos de defesa entregues por correios diplomáticos de 16 países diferentes, terminam as audiências. Os juízes iniciam as suas deliberações, em isolamento.

Corta para 11 de Dezembro: os três juízes anunciam o veredicto: Eichmann é declarado culpado em todas as acusações.

Corta para 15 de Dezembro: Eichmann é condenado à morte. Recorre da sentença, com base sobretudo em argumentos legais sobre a jurisdição de Israel e a legalidade das leis ao abrigo das quais era acusado. Alega também estar protegido pelo princípio dos “Actos de Estado” e repete uma vez mais a sua defesa das “ordens superiores”.

Corta para 29 de Maio de 1962: o Supremo Tribunal de Israel rejeita o recurso e sustenta o juízo anterior em todos os pontos.

Corta para 31 de Maio: o Presidente de Israel, Yitzhak Ben-Zvi, anuncia que indeferiu o pedido de clemência de Eichmann. Muitas individualidades enviaram também pedidos de clemência, aos quais Ben-Zvi responde com uma citação bíblica: “Assim como a tua espada fez muitas mulheres ficarem sem filhos, assim ficará a tua mãe sem o seu filho”. (I Samuel 15:33, palavras de Samuel a Agag, rei dos Amalequitas)

Corta para prisão de Ramla. Legenda: 1 de Junho de 1962. Faltam poucos minutos para a meia-noite. Eichmann recusa uma última refeição. Aceita uma garrafa de Carmel, um vinho tinto seco israelita, e bebe metade. Recusa também um capuz negro que lhe é estendido e diz as suas últimas palavras: “Viva a Alemanha. Viva a Áustria. Viva a Argentina. Estes são os países a que me liguei mais fortemente e não os esquecerei. Tive de obedecer às regras da guerra e à minha bandeira. Estou pronto.”

Poucos minutos depois da meia-noite Adolf Eichmann é enforcado. Duas pessoas puxam simultaneamente uma alavanca, para abrir o cadafalso, de modo a que nenhuma possa saber ao certo que foi pela sua mão que Eichmann morreu.

O corpo é cremado. Na manhã seguinte as suas cinzas são espalhadas no mar, em águas internacionais do Mediterrâneo. O objectivo deste procedimento, para além de mostrar que nenhuma nação lhe proporcionaria o último descanso, é o de impedir o aparecimento de um futuro memorial.

Esta é até hoje a única execução civil alguma vez aplicada por um tribunal em Israel, onde vigora a política de não aplicação da pena de morte.


THE END

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3 comments:

Anonymous said...

A sério? Ainda bem que gravei todos os episódios.

José, o Alfredo said...

Acho que foste o único... mas isto das audiências, como tudo, não vai só pela quantidade, vai pela qualidade. Ainda antes do almoço (se a Peugeot não lançar um carro movido a bufas e se não tivermos de cobrir a chegada do Mourinho a Milão ou outra coisa do género) vai para o ar o extra do DVD.

L. Rodrigues said...

Vi os dois últimos episódios de uma tirada, como convém numa telenovela.

Mas... não devia haver um casamento? Uma telenovela que termina sem casamento não sei... faltam criancinhas, sorrisos...

tive que escrever isto:
xdljtjwb