"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

28.5.08

All rise (upa upa)

OS AMIGOS DE ADOLFO
7. O homem por trás do vidro


Nova Iorque, Junho de 1960 (isto é a legenda da ordem a abrir o episódio). O que está a acontecer é que a Argentina pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para protestar contra o que considera a “violação dos direitos soberanos da República Argentina”. Pressionado pela direita nacionalista, o governo argentino chegara mesmo a expulsar o embaixador de Israel, Arie Levant.

O Conselho de Segurança acaba por aprovar uma resolução que pede a Israel “reparação apropriada”, ao mesmo tempo que declara que “Eichmann deve ser levado à justiça pelos crimes de que é acusado” e que “esta resolução não deve de modo algum ser interpretada como tolerante dos crimes odiosos de que Eichmann é acusado”.

3 de Agosto: depois de negociações secretas, Israel e a Argentina concordam em pôr termo à disputa, por meio de uma declaração conjunta em que se lê que “os Governos de Israel e da República da Argentina (...) decidiram considerar encerrado o incidente que emergiu da acção conduzida por cidadãos israelitas que infringiram direitos fundamentais do Estado Argentino”.

Corta para grande plano de mesa de madeira. Martelo bate duas vezes na mesa. Legenda: Jerusalém, 11 de Abril de 1961. Está aberto o julgamento de Adolf Eichmann. É pronunciado em 15 acusações criminais (se é que isto se pode dizer assim), incluindo acusações de crimes contra a Humanidade, crimes contra o povo Judeu e pertença a uma organização ilegal.


De acordo com o processo penal israelita, o julgamento é presidido por três juízes: Moshe Landau (presidente), Benjamin Halevi e Yitzhak Raveh. Gideon Hausner, procurador-geral do estado, assumiu as funções de acusador. Para sua própria segurança, Eichmann toma lugar dentro de uma cabina de vidro à prova de bala, na sala de audiências da recém-construída Beit Ha'am (Casa do Povo).

A base legal das acusações contra Eichmann é a “Lei (de Punição) de Nazis e Colaboradores dos Nazis”, de 1950. O julgamento dá origem a enorme controvérsia internacional. O governo israelita permite aos órgãos de comunicação de todo o mundo a cobertura noticiosa, nomeadamente a difusão em directo das sessões, quase sem restrições.

O julgamento inicia-se com diversas testemunhas, incluindo muitos sobreviventes do Holocausto, que depõem contra Eichmann e o seu papel no transporte de vítimas para os campos de extermínio. Umas das testemunhas-chave da acusação é um juiz americano, Michael A. Musmanno, que em 1945 tinha participado nos Julgamentos de Nuremberga. Relembrando esse processo, Musmanno testemunhou que Hermann Goering “deixou bem claro que Eichmann era o homem que determinava por que ordem e em que países é que os judeus deviam morrer”.

Apresentada a acusação, os advogados de defesa de Eichmann, Robert Servatius e Dieter Wechtenbruch, começam por explicar por que é que não vão contra-interrogar nenhuma das testemunhas da acusação. O próprio Eichmann, falando em defesa própria, diz que não põe em causa os factos acontecidos durante o Holocausto. A defesa vai tentar negar a responsabilidade, e não os actos.

Ao longo de todo o julgamento, Eichmann insiste que estava apenas a “cumprir ordens” — a mesma defesa invocada por alguns dos réus de Nuremberga. Declara explicitamente que tinha abdicado da sua consciência para poder seguir o Führerprinzip (princípio da liderança). Eichmann alega que era um mero “transmissor”, com muito poucos poderes: “Nunca fiz nada, fosse o que fosse, sem primeiro obter instruções expressas de Adolf Hitler ou qualquer dos meus superiores”.

O plano fecha nos olhos por trás das lentes do homem por trás das paredes de vidro.

(Continua)

AMANHÃ – O Julgamento continua — OS AMIGOS DE ADOLFO, a sua blogonovela da vida real, está a chegar ao fim — CULPADO OU INOCENTE? — Ou será que afinal já prescreveu? — SE JÁ VIU ATÉ AQUI, NÃO DESISTA AGORA — Aposte no resultado do julgamento e ganhe UM PEQUENO EICHMANN à escala 1/32

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