
Em Portugal, de há uns tempos a esta parte, o verbo pôr caíu em desgraça. Nada se põe, tudo se coloca. Não se fazem perguntas que é feio: colocam-se questões. A todo o momento alguém é colocado perante uma hipótese. Aquele sujeito ali não está fora de jogo porque o outro sujeito acolá o está a colocar em posição regular. Se as galinhas pensassem em português pós-moderno não punham ovos: colocavam-nos. Menino Pedrinho: não se coloca o dedo no nariz. E adonde é que a senhora quer que a gente colocamos os azulejos, minha senhora? Esta é a única democracia em que ninguém vota: colocam-se votos nas urnas. A única coisa que se continua a pôr, a única coisa que resiste à colocação, são os cornos.