"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

4.4.06

Tuguíadas I, 59/64 (Dose reforçada) (exagerada mesmo) (ou não*)


Deu Damásio a primeira machadada:
Um bigode, Artur Jorge, contratou;
Vai de vender fortíssima moçada,
Que o derradeiro título ganhou...
Desde então, sempre a mesma palhaçada:
Nunca mais o caneco alevantou
A rubra camisola! Quem diria
Que triste sorte assim nos calharia?

Quando será que iremos, retumbando,
Cantar por essas ruas lusitanas?
Mil mares encarnados festejando
O dobrar destas novas Taprobanas.
Se até já festejaram, triunfando,
Aqueles dos quadrados, os sacanas!
Da tropa do Loureiro Valentino
Que ora são do Loureiro mais menino.


Quando é que poderemos finalmente
Soltar a mal contida bizarria?
Saltar e pulos dar, mas de contente,
Nas rotundas e praças, na água fria
Mergulhar e gritar: Vai, rubra gente!
Toda a noite na mais longa folia,
Numa alegria tal, que só percebe
Quem tão pertinho vive do Magrebe.

Estamos perto de entrar em parafuso,
Com tantos anos desta inusitada
Privação dos troféus: maldito abuso,
Que agora até os vence a lagartada...
Até quando o maior dos clubes luso
Verá sua maleita prolongada?
Ah! Mas quando chegar o belo dia,
Vereis o nunca visto: que alegria!


É toda uma nação que ver almeja
Triunfar o clube em que se revê
Aquele que, da cor d'uma cereja,
Sua bandeira mostra, já se vê;
Esperemos então que breve seja
Chegado aquele dia, em que se lê
Os títulos que muitos olvidavam:
"Vibraram! As papoilas saltitavam!"

Fé temos no baixote do Simão,
Que sempre a camisola a dar-nos lia
C'o nome da pequena sucessão,
Mariana, também marca (rouparia);
Assim, de vez em quando, o espertalhão
Na televisão grátis anuncia;
E vai crescendo assim, de forma airosa,
A bela conta em nome do Sabrosa!

(...)

* Seis estrofes de Tuguíadas assim de uma vezada parece uma brutalidade. E é. Mas há uma razão óbvia de unidade temática que leva a este desexagero (felizmente, como já antes se fez notar e nunca é de mais realçar, anacronizada pelo velho Trap). E também tem o seu lado positivo: é da maneira que se acaba mais depressa. Na realidade, já só restam mais duas estrofezinhas na gaveta. Exultai portanto, ó desinfiéis. Mas exultai com conta, peso e medida e acautelai-vos, pois ninguém pode garantir que a coisa não continua...

1 comment:

Anonymous said...

Não concordo. Não acho bem. Acho forçado, para não ir tão longe a ponto de considerar um abuso. Bem sei que Tuguíadas, palavra simpática mas ao mesmo tempo profunda, pela similaridade com essa obra eterna de Luís Vaz de Camões, não deve ser observada com o afastamento necessário e Lusíadas. Mas a própria forma e conteúdo deste capítulo, como o autor deste blog propositadamente concebeu, aproxima-as sem contestação possível. E é exactamente aí que eu não concordo, não acho bem e acho forçado. Porquê? Pela forma abusiva como, com um tom exacerbado se faz a ligação de um clube de futebol aos Lusíadas. Um sacrilégio, senhores.