"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
21.4.06
Um rico dia
Hoje comemora-se de tudo um pouco. O grande destaque da TSF vai para a famosa e mítica manifestação dos polícias no Terreiro do Paço. Se bem entendi, o episódio dos Secos e Molhados, ou dos Polícias Contra Polícias, vai ser emulado, reencenado, recriado, relembrado, homenageado ou seja lá o que for, com uma manifestação promovida pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia que irá seguir os passos da outra, de há 17 anos. Escusado será dizer que, se hoje tudo correr bem e a coisa não acabar em traulitada, ficará um certo sabor a pouco, a cópia defeituosa, a ersatz da treta. Ou seja: se correr bem, corre mal. Esta seria mesmo uma excelente oportunidade para o engenheiro Sócrates mostrar que não fica em nada atrás do professor Cavaco, mediante uma bela demonstração de força (e quem diz os primeiros diz os segundos: a grande oportunidade de António Costa mostrar que não pede meças a um Dias Loureiro, se é que era o Dias Loureiro o ministro do Interior da altura...). Mas estou em crer que o povo vai ter de se contentar com as imagens de arquivo para ver esse espectáculo tão apetecido, Bófia Contra Bófia.
Recuando até 1985, eis que foi a 21 de Abril que o Ayrton Senna ganhou o seu primeiro grande-prémio (ao volante de um Lotus-Renault e no Estoril, para não ir mais longe).
Acelerando na marcha-atrás, até 753 A.C., chegamos a outro 21 de Abril e a outro acontecimento mítico: a fundação de Roma pelos gémeos Rómulo e Remo.
Pelo meio ficam outros episódios coloridos, como a morte do Barão Vermelho (1918), o nascimento de Charlotte Brontë (1816), o primeiro hit de Elvis Presley (1956, Heartbreak Hotel), a morte do Keynes (do Keynes, não do ianismo, 1946), o início dos protestos dos estudantes em Tiananmen (1989) ou o retomar das execuções da pena capital na Califórnia.
Este último percalço, atentado ou desiderato, como lhe queiramos chamar, merece um nadinha mais de atenção, não pela questão de fundo, que não me sinto habilitado e/ou inspirado para abordar, mas pelo tarantinesco da história, que tentarei resumir. A minha fonte, para que conste, é o Canal História.
Robert Alton Harris, executado a 21 de Abril de 1992 pelo método da câmara de gás, estava no corredor da morte há 13 anos. Nessa altura, a Califórnia distinguia-se de outros estados com pena de morte por não a aplicar há já muito tempo. Nada que os partidários da dita pena não tenham conseguido resolver, afastando três juízes, de seus nomes Bird, Grodin e Reynoso, e substituindo-os por outros, mais (in)conscientes do seu papel neste mundo.
A 5 de Julho de 1978, Harris raptou dois miúdos de 16 anos num fast-food em Mira Mesa. Quando um dos rapazes suplicou pela sua vida, Harris ter-lhe-á dito: "Pára de chorar e morre como um homem". Posto o que, matou a tiro os dois rapazes e comeu os seus hambúrgueres, por esta ordem. Por uma extraordinária coincidência, o pai de um dos miúdos apanhou Harris nesse mesmo dia numa contravenção de trânsito (espero não ir parar às Pérolas da Tradução com esta...).
A defesa de Harris tentou evitar a pena de morte, com base em danos cerebrais causados por síndroma de álcool fetal (outra possível Pérola...). Mas nem a própria Amnistia Internacional conseguiu evitar que a Califórnia regressasse ao campeonato da matança legal, onde desde então consegue dar alguma luta ao Texas e à Florida.
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