"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

19.4.06

F...


F de fim de férias. Como se pode imaginar, o estado de espírito do Desinfeliz não é o melhor. Rubro, abrasado e intumescido está o meu rosto de tanto chorar. Profundamente aflito aqui estou chorando e as lágrimas rolam-me sobre a face sem cessar. As palavras, está bem de ver, não são minhas. Fui buscá-las ao velho Thomas Mann, que as põe na boca de Jacob perante a notícia da morte de José, o seu filho mais adorado. Mas a autoria primordial não se fica por aí: "Estas palavras não eram suas, percebia-se logo. A acreditar em antigos cânticos, já Noé as proferira, iguais ou parecidas, quando do Dilúvio. Jacob fê-las suas." E fez muito bem, porque, mesmo sem começarem por f, são palavras muito adequadas a estas situações de calamidade.

7 comments:

L. Rodrigues said...

Eu prefiro pensar nestas coisas como o Intervalo das férias. O fim das férias há-de vir, quando a ética de trabalho protestante, que tanto bem fez pelo capitalismo, for finalmente imposta mas sem argumentos teológicos para a hierarquia católica não perceber.

Seria mesmo preciso eu ter ido buscar isto? Provavelmente não, mas como vou de férias daqui a 3 dias...

José, o Alfredo said...

Vais folgar, madraço?

L. Rodrigues said...

Vou madrar, folgaço.

José, o Alfredo said...

Voa voa.

Anonymous said...

Vós sois dois literados e para além disso, dois sortudos. Ao ler o texto, bem interessante por sinal, fui confrontado com os vossos comentários e os sentimentos que me assaltaram foram bem claros: um misto de pena por mim e pelo Zé. Por mim porque ainda não fui de férias e pelo Zé pelas razões expostas. Acrescente-se raiva (pelo Luís). A isso juntou-se um sentimento de desgosto pela alegria de outrem (o Luís mais uma vez), um desejo de ter aquilo que os outros já tiveram, têm ou vão ter e, por fim, cobiça. Quando dei conta tive consciência que tinha pecado. Não há margem para dúvidas, a cobiça, ou inveja, chamem-lhe como quiserem, é um dos sete pecados mortais. Mas como sois dois moços literados, prefiro usar outro termo: invídia. Como o pecado é mortal, quando lerem (se lerem) este comentário, estarei ferido de morte. Mas sei que serei salvo pelo vosso perdão.

José, o Alfredo said...

Perdoar e esquecer equivale a deitar pela janela experiências adquiridas com muito custo. Isto não fui que inventei, foi o Schopenhauer. Eu, se fosse a pensar no assunto, diria que perdoar em vão é o maior pecado em que o homem pode cair. Até porque é uma intromissão grosseira na esfera de competência exclusiva do Senhor.

Anonymous said...

Mas tanto quanto me foi dado a conhecer, a esfera de competência do Senhor foi alargada, pela mão e vontade do próprio Senhor, a todos os terrenos. Essa foi a mensagem de Cristo. E o exemplo de vida e de morte. Primeiro com Herodes que viu ameaçado o seu trono e a sua figura de Rei dos Judeus; depois por Pilatos que "lavou as suas mãos" e deixou o povo decidir entre Jesus e Barrabás; por fim pelo próprio povo da Galileia que o mandou para a cruz. Portanto, por aí o argumento do perdão é falível. Já o "deitar pela janela experiências adquiridas" é um argumento de peso. Vou fingir que aceito e compreendo a frase piedosa das mulheres (e homens cornos): perdoar a gente perdoa, só que não esquece. Que é como quem diz, ficas em dívida comigo para o resto da vida.