"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
20.4.06
Opta
Ontem, indo eu a caminho de casa, passei à porta da Assembleia da República. Já em fase de desmobilização, lá vinham os preocupados trabalhadores da PT. Eram muitos e muitos deles envergavam umas T-shirts que tentavam resumir as suas preocupações em três linhas de texto: PT - Uma só - Opa não.
A justa luta das classes trabalhadoras é uma causa com que, por princípio, simpatizo. Se tenho preconceitos nestas coisas, eles levam-me sempre mais para o lado dos reclamantes. Terá sido por isso que me contive sem atropelar nenhum daqueles sujeitos e sem sequer abrir a janela do carro e chamar-lhes nomes.
Em cada linha daquelas T-shirts há qualquer coisa que me incomoda. Com razão ou sem ela, talvez até mais por via da emoção do que da razão.
PT: possivelmente a pior empresa do mundo, provavelmente uma das piores do país, pessoalmente a marca que mais odeio.
Uma só: associo a frase à elefantíase, ao monolito, ao uno e indivisível no seu pior, ao lado negro da força da PT, gorda e anafada, gulosa e insaciável, obesa e paralítica, impenetrável e inamovível, centralona e tentacular.
Opa não: provavelmente estes mesmos manifestantes de ontem já se hão-de ter manifestado em devido tempo contra a privatização da PT, honra lhes seja pela coerência; mas nunca os vi manifestarem-se, pelo menos em público, contra os restos da nacionalização, contra o tal poder da golden share que faz com que a empresa (ou seja, necessariamente, eles próprios) seja gerida pelo refugo do sistema, pelos deserdados de turno das reviravoltas eleitorais, pelos boys e pelos aprendizes de yes-men; calculo que, nos departamentos mais técnicos, haverá algum escrúpulo, algum cuidado e exigência de mínimos de competência, pois apesar de tudo os telefones e os outros zingarelhos lá vão funcionando; sei, por experiência própria, que outros departamentos, como o de marketing, servem de jardim infantil, de ATL, de lixeira de luxo, de campo de cultivo da mais extrema e impune inutilidade, incompetência e corrupção. Nada que não se passe noutras empresas ou grupos, dir-se-ia. Pois. Mas algo que, por acaso, não se passa justamente na empresa ou grupo que pretende passar a dirigir a PT e, por arrasto, aqueles desinconscientes que ontem se manifestavam tão convictamente.
Claro que em causa própria ninguém é bom juíz. Atropelá-los ou mesmo chamar-lhes uns quantos nomes, para além de cruel, seria injusto e inclemente. Mas que lhes fazia bem abrir um bocadito os olhos, lá isso fazia. Nos meus tempos de miúdo, OPA era coisa de palavras cruzadas (no defunto Diário de Lisboa, senhores...): cidade da Caldeia com 2 letras era Ur, capa ou manto com 3 era Opa e em sabendo-se isso e mais uns quantos segredos de polichinelo tudo o resto parecia relativamente simples. O pessoal da T-shirt fazia bem em não se deixar usar em jogos de palavras cruzadas, porque se há coisa em que têm toda a razão é que se trata, não só mas também, da vidinha deles.
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3 comments:
Seria interessante ver uma manif dos verdadeiros interessados...
Talvez aí o vidro se abri-se para dizer qualquer coisa, não?
Seria interessante ver, sem dúvida.
Abrisse.... abrisse, que se passa com as minhas sinapses??
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