"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

10.3.06

A Pergunta


Pedro pescava perto da ponte, pés postados nas pedras polidas, pupilas piscando do sol a pique, ainda que protegidas pela pala do boné. Passa por ele um polvo e pergunta: Por que pescas, Pedro? Por que pesco, pensou Pedro. E disse: E por que não? Por outras palavras, pesco porque sim. E pescou o polvo.

Pouco tempo passado, um pargo que passa pergunta também: Por que pescas, Pedro? Pedro pensou mais um pouco e um pouco mais profundamente. E disse: Pesco por puro prazer. E pescou o pargo.

Posteriormente, outros peixes passaram. Todos pararam, perguntaram, ouviram. Todos perderam. Todos Pedro pescou, uns porque sim, outros porque não, alguns porque pois e um até, o pregado, porque ele próprio a Pedro o pediu. Aos pés de Pedro, o saco de pano pesava, pleno de tanta pesca.

Nisto, passa um pneu. Por instantes, Pedro pensou: Pergunta lá tu também, ó pneu. O pneu não perguntou. Mas, por alguma razão, essa foi a última vez que Pedro pescou.

1 comment:

Anonymous said...

Não tinha sido uma pescaria proveitosa, a conversa tinha-os distraído e, naquela manhã, muitas das famosas garopas que costumavam levar para casa permaneceram nas águas límpidas da baía, saboreando os pedaços de isco que tinham sido pacientemente colocados nos anzóis das canas de pesca dos dois amigos.
- Olha-me para esta miséria, regressamos com o barco praticamente vazio. Uns pescadores de água doce, é o que nos vão chamar hoje. Já estou a imaginar o teu pai a rir-se na nossa cara e a chamar-nos amadores. Caraças Zé, isto esta manhã foi uma pobreza franciscana. Levantei-me eu de madrugada para chegar a casa com meia dúzia de peixes fajutos.
José divertia-se enquanto Humberto era incapaz de refrear a sua ira momentânea, não parando de reclamar enquanto puxavam o barco para terra e o amarravam ao pontão.
- E tu não páras de te rir, meu palhaço… Lá se vai a nossa reputação por água abaixo e tu ainda te ris.
- Disseste bem, foi por água abaixo.
Mas esta não foi a última vez que o José e o Humberto pescaram, ao contrário do Pedro.

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