"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

2.10.08

Nojo


Finalmente tenho aquilo que muita gente tem no mundo dos afectos futebolísticos. Já tinha, de pequenino, o meu clube adorado. Fui coleccionando muitos outros de estimação, entre os quais um muito especial. Estou a falar, obviamente, do Benfica, do Olhanense e de uma data deles que me são simpáticos.

Claro que também vai havendo uns que não agradam particularmente, como o Febolquelupârto ou o Zbordn. Mas nem desses posso dizer que odeio ou que detesto. Não é verdade. Lamento muito mas não tenho nada de visceralmente contra o Febolquelupârto (não tenho vergonha nenhuma de recordar que até fiquei todo contente quando ganharam a Taça dos Campeões em 87 e também achei uma certa piada quando voltaram a ganhar agora com o Mourinho), e muito menos contra o Zbordn, (a sério, por vezes até chego a achar alguma piada ao Zbordn).

Ocasionalmente, há um ou outro clube que me desagrada durante um tempito, mas depois aquilo passa. Por uma razão ou por outra, foi o caso do Anderlecht, de quase tudo o que é clube italiano, da França, da Grécia, etc. Mas nada que me chegue a revolver as entranhas. Até ontem. Ontem, finalmente, um desses pequenos ódios de estimação desceu definitivamente à categoria de nojo profundo. Finalmente tenho um clube que vou odiar incondicionalmente para o resto da vida. Estou a falar do Barcelona.

Nunca gostei particularmente do Barcelona. Com tantos jogadores fenomenais que tem tido, chegou a haver uma altura ou outra em que até gostava de os ver jogar. Mas o clube, em si, nunca apreciei particularmente. Tudo começa, como em qualquer história, pelo princípio. E o princípio é o verbo, a palavra, o nome. Barcelona. Experimentem dizer isso três vezes seguidas. A única palavra acabada em ona que se pode usar com elegância, num contexto futebolístico, é Maradona. E eles tiveram-no lá. Só que devoram vedetas a um ritmo tal que o Maradona é mais um. Se se quer ver o que é adorar o homem como ele merece tem que se ir a Nápoles (ou à Argentina, naturalmente). Quando se diz Barcelona activam-se as mesmas partes do cérebro e do estômago que se usam para dizer badalhoca e matrafona (e por aqui me fico).

Depois há a questão das cores do equipamento. A conjugação daquele azul e daquele grená, se é que é assim que chamam àquilo, é de uma infelicidade notável. Outras combinações absurdas, como o azul e preto do Inter, chegam a parecer alegres por comparação com aquele empastelamento. Que me lembre, só há mais uma situação em que uma pessoa se depara com uma combinação de cores parecida: é nos sinais de proibição de estacionamento. O que, naturalmente, não traz associações positivas.

Os adeptos é o que se sabe. Uns cagons da pior espécie. Nos jogos fora só pelas cores se conseguiriam distinguir dos do Marítimo ou do Paços de Ferreira, nunca pelo aspecto quantitativo. Se o Desportivo de Chaves vier jogar à Luz o efeito nas bancadas é rigorosamente o mesmo, em termos cromáticos. Nos jogos em casa, onde se juntam mais de 100 mil de cada vez, conseguem o feito verdadeiramente único de impedir que equipas com vários dos melhores jogadores do mundo sejam campeãs de qualquer coisa, o que seria óptimo (para eles) se essas equipas não fossem justamente as deles.

Tudo isto sempre me desagradou no Badalhoca. Os penáltis também. Não há jogo daquela gente em que não se invente pelo menos um penálti a favor e/ou anule um contra. A única comparação possível, nesse aspecto, é com o Brasil. Até contra o pobre do Zbordn inventaram um penálti, não fossem os cento e vinte mil enervar as estrelas todas ao ponto de não conseguirem passar do 1-0 e sujeitarem-se a algum golo do Zbordn, como veio a acontecer.

Os últimos acontecimentos foram a gota d'aigua, a pena a mais que fez quebrar a espinha dorsal do camelo. O triste episódio dos boixos nois não teria sido mais triste do que qualquer outro que envolva os retardados mentais das claques de qualquer clube, não fosse o papel a que se deram os próprios jogadores. Um asco. Ontem, com aquela do não devolver a bola ao Shakhtar e aproveitar para empatar, pude confirmar aquilo de que já suspeitava: o Badalhoca mete-me nojo.

A partir de hoje posso viver o futebol na sua plenitude, tirando de todo e qualquer momento menos feliz do Badalhoca o mesmo prazer que tiro de um bom resultado do Benfica.

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