"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

28.4.08

Tragam-me o segundo pequeno-almoço, por favor


Foi com esta excelente tirada de humor britânico, livremente adaptada por um desinfeliz português a partir de uma notícia de origem norte-americana traduzida por um brasileiro, que o mexicano Guillermo del Toro confirmou que vai realizar a produção neo-zelandesa d'O Hobbit, do sul-africano J.R.R. Tolkien.

Globalmente (atrevo-me a dizer que poucas vezes o advérbio terá sido aplicado de modo mais adequado) são boas notícias. Boas notícias, no plural, porque o que se anuncia são 2 filmes 2! Como em tudo o que envolve, mais ou menos remotamente, a obra de Tolkien (e mais uma vez me atrevo a sugerir que o advérbio remotamente raramente é utilizado com tanta propriedade), a confusão, a especulação e a multiplicidade de leituras rapidamente se sobrepõem à realidade, isto é, à ficção, isto é, à notícia, isto é, o eu acho e o eu quero sobrepõem-se com a maior das naturalidades (sendo que o complemento determinativo poucas vezes terá sido escolhido com tamanha justeza) ao que se disse ou ao diz que disse.

Os dois filmes serão a história d'O Hobbit propriamente dita e uma prequela d'O Senhor dos Anéis, uma em cada filme, ainda que não necessariamente por esta ordem? Ou será a história d'O Hobbit como prequela d'O Senhor dos Anéis, necessariamente complementada com a matéria relevante d'Os Apêndices, habilmente fundida, como o próprio anel, n'Um único filme que por acaso é dividido em duas partes? Este é apenas um simples exemplo, ainda por cima simplificado (mas, espera-se, não tanto que fique simplório), do tipo de dúvidas que pode levantar aquilo que, finalmente, surge como uma certeza: O Hobbit, relativamente brevemente, numa sala perto de nós.

Confuso/a(s)?*

Óptimo. Dêmo-nos as mãozes e preparemo-nos para dar com os pézes na descrença ou na ignorância do poder das adivinhas no escuro (riddles in the dark, no original — sendo que, neste caso, o original consiste numa tradução de autor do Westron, ou Commmon Speach, para Inglês**).


* O/a estimado/a leitor/a (no singular, sem o (s), porque não é provável que haja alguém que desça a este ponto, quanto mais virem aos magotes) teria razões de sobra para pedir o livro de reclamações, caso essa figura existisse na blogosfera, se agora lhe viessem dizer que aquela conversa toda lá para trás não passava de um artifício, de um truque de que o próprio Bilbo se poderia orgulhar, para o/a trazer aqui, às profundezas das notas de rodapé, com o único intuito de lhe dizer que o Desinfeliz se congratula por ter ajudado a eleger o Tio Aníbal, cujo mostrou mais visão de futuro em dois anos de celebrações do 25 de Abril que o Sampas na vida toda dele, com aquela simplicíssima (preclara lhe chamaria, se quisesse confundir isto um pedacinho) chamada de atenção para a seguinte evidência: para a maior parte dos jovens portugueses, a democracia é grego, não no sentido etimológico, mas no sentido futebolístico do termo — um sistema ultra-fechado, interpretado por uns tipos horrorosos com uns nomes todos iguais e que no fim nos fodem à grande. Creio que o Tio Aníbal se referia (não só, mas também) ao facto iniludível de que as nossas classes política e mediática (jornalistas, analistas, comentadores) têm primado pela opacidade e pela obstrusidade do discurso, que só a vacuidade dos actos tem superado. O Desinfeliz, com esta modesta tentativa de impenetrabilidade discursiva, pretende assim homenagear, à sua maneira, o Tio Aníbal, a Abrilada, os Capitães da dita e a própria da Democracia.

** Mais confuso/a ainda? Tente apurar a função de 'naturalidades' na frase ligeiramente acima do dragãozinho (sem recorrer ao Mestre Carlos Rocha, ou a puerilidades do género 'é um substantivo', ou 'é um advérbio', ou 'caguei') e vai ver o que é bom.

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