"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

31.3.08

O pescado original

Lamento informar todos os que ainda vão comprando a célebre ideia de que Israel é o grande responsável pela tragédia dos palestinianos, que por sua vez é a mãe de toda a instabilidade no Médio Oriente: esse peixe está estragado. E não é por ser um peixe antigo. Já estava estragado no dia em que começou a ser vendido. Segue-se uma pequena lista de citações e outras declarações, todas de fontes insuspeitas de sionismo ou colaboracionismo, que atestam a manifesta falta de qualidade desse pescado.
"O facto de que estes refugiados existem é consequência directa do acto dos estados Árabes, de se oporem à partição e ao estado Judaico. Os estados Árabes acordaram unanimemente nesta política e têm de partilhar a solução do problema."
Emile Ghoury, secretário do Alto Comité Palestiniano-Árabe, em entrevista ao Beirut Telegraph, 6/9/1948

"O factor mais forte (na debandada dos Palestinianos) foram os anúncios largamente difundidos pelo Alto Comando Palestiniano-Árabe, apelando à fuga de todos os árabes de Haifa... Era claramente referido que os árabes que permanecessem em Haifa e aceitassem a protecção dos judeus seriam considerados renegados."
London Economist, 2/10/1948

"Os civis árabes entraram em pânico e fugiram miseravelmente. Em muitos casos as localidades foram abandonadas antes de serem ameaçadas pelo progresso da guerra."
General John Glubb "Pasha" (o retratado comandante da Legião Árabe), The London Daily Mail, 12/8/1948

"Os estados Árabes que encorajaram os palestinianos a deixar temporariamente as suas casas, para deixarem o terreno livre à invasão dos exércitos árabes, não cumpriram a sua promessa de ajudar estes refugiados."
Diário jordano Falastin, 19/2/1949

"O dia 15 de Maio de 1948 chegou... Nesse dia o mufti de Jerusalém apelou aos árabes da Palestina para que deixassem o território, porque os exércitos árabes estavam prestes a chegar e a lutar por eles."
Diário egípcio Akhbar el Yom, 12/10/1963

"O êxodo árabe não foi causado pela própria guerra, mas sim pelos exageros propagados pelos líderes árabes com o objectivo de incitar à luta contra os judeus. Os responsáveis pela fuga e pela queda das nossas terras são os nossos líderes, por terem disseminado boatos que exageravam os crimes dos judeus e lhes atribuíam atrocidades, com o intuito de inflamar os árabes. Ao espalhar rumores de atrocidades dos judeus, matanças de mulheres e crianças, etc., instilaram o medo e o terror nos corações dos árabes da Palestina, a ponto de estes fugirem e abandonarem as suas casas e propriedades ao inimigo."

Diário jordano Al Urdun, 9/4/1953

"Os governos árabes disseram-nos: saiam para nós entrarmos. Então nós saímos, mas eles não entraram."
Refugiado citado pelo Al Difaa, Jordânia, 6/9/1954

"Desde 1948, somos nós que temos exigido o regresso dos refugiados, ao mesmo tempo que fomos nós que os fizemos sair. Fizemos abater o desastre sobre um milhão de refugiados árabes, ao convidá-los e pressioná-los para sairem (da Palestina). Acostumámo-los a mendigar e contribuímos para a descida dos seus níveis sociais e morais. Depois explorámo-los na execução de crimes de assassínio, fogo posto e apedrejamentos, tudo ao serviço de interesses políticos."

Khaled el-Azm, primeiro-ministro sírio após a guerra de 1948, em memórias publicadas em 1973

"Os estados Árabes conseguiram dispersar o povo palestiniano e destruir a sua unidade. Não o reconheceram como um único povo até os outros estados do mundo o terem feito, e isto é lamentável."

Abu Mazen (Mahmoud Abbas), no jornal oficial da OLP, Beirute, Março de 1976

"Os exércitos árabes entraram na Palestina para proteger os palestinianos da tirania sionista, mas em vez disso abandonaram-nos, forçaram-nos a emigrar e a deixar a sua terra natal, impuseram-lhes um bloqueio político e ideológico e meteram-nos em prisões parecidas com os ghettos em que os judeus costumavam viver na Europa oriental."
Idem

"Aos Reis e Presidentes (dos países Árabes): A pobreza está a matar-nos, os sintomas estão a esgotar-nos e as almas estão a deixar os nossos corpos, e no entanto vós continuais à procura da forma de prestar auxílio, como alguém que procura uma agulha num palheiro ou como os exércitos dos vossos antecessores no ano de 1948, que nos forçaram a sair (de Israel/da Palestina) sob o pretexto de não haver civis no campo de batalha... Então, o que é que a vossa cimeira irá fazer agora?"
Carta dirigida à Cimeira Árabe em 2001 por um palestiniano preso em Acre (figura anexa)

4 comments:

Anonymous said...

"Nós teremos a paz com os árabes quando eles amarem as crianças deles mais do que eles nos odeiam" (Golda Meir).

José, o Alfredo said...

"Eles terão a paz quando tiverem um homem como Golda Meir" (israelita anónimo)

L. Rodrigues said...

Há sempre mais lados nestas histórias.

http://www.counterpunch.org/baroud04052008.html

José, o Alfredo said...

Claro. Acho é que esta história é daquelas em que é difícil não se ter lado nenhum. Eu alinho pelo lado da senhora que tinha uma filha muito jovem a viver num kibbutz qualquer. Quando a coisa começou a dar muito para o torto perguntaram à senhora: por que é que a senhora, que o pode fazer, não tira a sua filha de lá? E a senhora respondeu: todos os pais, se pudessem, tirariam de lá os filhos; se todos os pais o fizessem, quem é que lá ficaria para defender o kibbutz? A senhora chamava-se Golda Meir. A história desse link começa num campo de refugiados, que não existiria se os 'irmãos' árabes não tivessem feito coro a aconselhar os palestinianos a fugir, para já não falar nos papás todos que tiraram de lá os filhos.