"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
14.2.07
Pérolas Vermelhas (VI)
Tarde e más horas, o Ti Zé apercebeu-se da importância de ter A Bomba. A guerra estava nos finzinhos, já só faltava mesmo acabar de vez com os japoneses e repartir os despojos (repartir o estritamente indispensável...), e eis que Master Moustachov se apercebe, finalmente, de que a União Soviética tem de correr e bem para conseguir chegar à Bomba em tempo útil.
Vai de arranjar um nome de código a condizer com a importância e premência do projecto (Tarefa Número Um, nada que deixasse grande lugar a dúvidas), vai de nomear o camarada Béria para dirigir o projecto e vai de dar à coisa uma escala russa: qualquer coisa entre 330.000 a 460.000 pessoas, entre as quais 10.000 cientistas e outros técnicos, entre os quais avultava o físico Igor Kurtchatov (Nobel das Barbas, no mínimo).
Béria controlava esta maltósia nas charachkis, umas prisões especialmente concebidas para especialistas técnicos, que Soljenitsine descreve em O Primeiro Círculo. Quando algum dos envolvidos sugeria que talvez pudesse trabalhar melhor em liberdade, Béria, a quem não faltava o sentido de humor, contrapunha: "Não duvido, mas seria perigoso. O trânsito nas ruas é uma loucura, e podia ser atropelado".
Estaline, a quem a ciência aborrecia mas que ainda não estava completamente gagá e não perdia de vista o lado prático das coisas, acreditava num equilíbrio entre ameaças e mimos para pôr os cientistas a render: "Deixem-nos em paz. Podemos sempre fuzilá-los mais tarde".
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3 comments:
Impossível não simpatizar com este Béria intratável, pelo seu bom humor e, de certa forma admirar o pragmatismo do homem. Ora se até o próprio Soljenitsine numa entrevista disse que tinha tido a sorte de ter sido enviado para o Gulag com menos de 30 anos, acrescentando que lhe tinha aberto um campo de visão mais claro e o mais amplo possível sobre tudo o que se designava por bolchevismo e que o tinha mergulhado mais profundamente nos fundamentos da existência, terminando com a ideia que partilhava com Dostoievski, também veterano das prisões russas, se bem que noutros tempos, de que a cadeia às vezes é o caminho de uma liberdade superior, o que dizer do camarada Béria? Que ele sabia da poda.
E não sobram dúvidas que também sabia da poda com ph, que praticava assiduamente, com e sem o consentimento das partes da outra parte... Diz também que, da pandilha mais próxima do Ti Zé (que o chegou a apresentar em reuniões internacionais como 'o nosso Himmler'), era o mais inteligente e o menos ligado a politiquices. A convicção geral era que, se o tipo fosse americano, seria um fortíssimo candidato a chairman de uma General Motors ou coisa do género.
Era gente que sabia o que queria, independentemente do lado facínora que lhes é, legitimamente atribuído. Não me lembro do autor da frase, nem tenho a certeza se era exactamente assim, mas li num quadro pendurado numa das paredes da sala de reuniões de um dos nossos maiores (outrora querido) clientes, algo que dizia "que interessa para onde sopra o vento se não se sabe o rumo?". Estes, pelo contrário, eram uma pandilha que sabia bem o rumo e que lixem os ventos, que para eles só sopravam de leste.
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