"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
18.2.08
Pristina, não vais levar a mal
Mesmo com um trocadilho logo a abrir, o assunto é sérvio. E o assunto é: a quem é que interessa a independência do Kosovo? Aparentemente os kosovares-albaneses estão convencidos de que lhes interessa a eles, vá-se lá saber porquê e para quê. Mas mas mas...
Para quem faz tanta questão de ser independente custa a entender que agitem freneticamente a bandeira da Albânia. Poderá ser por uma questão meramente estética — especialmente para um português, há que reconhecer que a bandeira não é um problema com que os albaneses* tenham que se preocupar.
Por cá, o secretário de estado não sei do quê já disse que em devido tempo iremos reconhecer a independência do Kosovo. Ou seja, já a reconheceu. Falta só saber que bandeira é que se vai hastear ao pé do Pavilhão Atlântico (será que ficam duas da Albânia?) e o que é que o homem quer dizer com o 'devido tempo', se é que quer dizer alguma coisa.
É provável que, no meio de tantas preocupações com os sérvios do Kosovo e com os sérvios da restante sérvia, com os albaneses do Kosovo e da Albânia, com os romenos e os húngaros da Roménia, com os macedónios da Grécia e os da Antiga República Jugoslava, com os cipriotas gregos e turcos, com os turcos todos e mais alguns, com os russos, com os búlgaros e com as desvairadas gentes que se encontram mais ou menos para aquelas bandas, é provável, dizia eu, que o nosso suprareferido secretário de estado não sei do quê não tenha prestado demasiada atenção a outras questões do mesmo género e que até nos dizem ainda mais directamente respeito.
Já nem estou a pensar na hipótese de a Cova da Moura, por exemplo, querer declarar a independência, com base nos mesmos critérios de natureza étnica. Ocorre-me, claro, o caso da Madeira; mas calculo que o secretário de estado em questão tenha achado que, seja como for, o Alberto João não pode armar mais escabeche do que já faz habitualmente. E também gostava de saber o que é que se vai dizer aos bascos, aos católicos da Irlanda do Norte, aos corsos e a essa rapaziada toda... Que tenham paciência, talvez. É capaz de ser o melhor.
Tal como já havia dito aquando da declaração de independência do Montenegro, parece-me que Portugal faria bem melhor em prestar aconselhamento a estes kosovos, no sentido de pensarem um bocadinho melhor. Olhem para nós e digam lá, sinceramente: o que é que isso adianta? Tenham mas é juízo.
Para acabar, uma cantiguinha da autoria de um tal de Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882):
The crescent banner falls
And the crowd beholds instead
Like a portent in the sky
Iskander's banner fly
The Black Eagle with double head [...]
* Ontem ouvi, na TSF, uma portuguesa residente no Kosovo referir-se aos albaneses como os albanos. Não sei se conta como trocadilho mas é bem caçado.
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2 comments:
Olha, sem ter visto que a tua posta era sobre este assunto escrevi as minhas (sumárias) preocupações sobre o assunto lá no meu cantinho de designorâncias. Poupo-te a viagem e repito aqui:
Será que isto vai acabar tudo com a balcanização do Kosovo?
Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, que para o caso foi bem definido como não sei do quê. Até apetece dar razão ao velho Tito que durante anos resolveu estas manifestações de perda de juízo com uns calduços bem dados.
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