"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

14.2.08

Porquê o S. Valentim?


De onde vem esta celebração do Dia dos Namorados? E será que vai para algum lado? E porquê o S. Valentim? Porque não o Santo António, por exemplo? Ou outro santo qualquer? O Desinfeliz explica tudo (se preferir a versão original, ei-la aqui).

Antes de ser santo, Valentim foi um homem. Há até quem diga que foram mais, uns três ou quatro, mas vamos admitir que foi só um, para não complicar demasiadamente logo no início. Valentim foi, então, nesta versão simplificada dos factos, um homem (e não uma mulher, ou um sapo, ou um jumento).

O mínimo que se exige a um homem que pretenda ver o seu nome associado a um Dia dos Namorados é que perca a cabeça. Valentim percebeu isso e fez-se decapitar, a 14 de Fevereiro de 278 dC, mais coisa menos coisa. Corriam os dias do imperador Cláudio II, o Cruel, e Valentim acabava assim a sua carreira eclesiástica em Roma, de forma algo radical mas absolutamente adequada a alguém que queira virar santo.

Cada governante tem os seus problemas. Sócrates tem o défice e umas chatices com a saúde e a justiça e essas coisas, Hitler agendou o problema dos judeus, Bush tem-se a si próprio, Ramos Horta e Xanana Gusmão tinham o Reinado... Na realidade, todos os governantes têm os problemas todos, mas cada um sente um ou outro problema como mais premente.

Ora o referido Claúdio tinha a ralá-lo a crise do recrutamento. Na altura, Roma envolvia-se frequentemente em campanhas tão sangrentas como impopulares e a necessidade de manter um exército forte esbarrava na falta de vontade dos mancebos em alistarem-se. Ele, Claúdio, atribuía essa falta de vontade a um exagerado e escusado apego dos homens às suas respectivas mulheres e família em geral.


Querendo mesmo resolver o problema e não apenas dar ao eleitorado a ideia de que estava a envidar todos os esforços no sentido de eventualmente criar condições para que em devido tempo se viessem a implementar medidas tendentes a inverter o rumo dos acontecimentos, Cláudio, que não era desses, não esteve com meias medidas: proibiu o casamento. Nem mais nem menos. Em Roma não casarás. Quem não esteve pelos ajustes foi o major. Perdão, o santo. Ou seja, o padre. O Valentim, portanto. Chocado e revoltado com a injustiça do decreto imperial, o valoroso sacerdote continuou a administrar clandestinamente o sacramento do matrimónio aos jovens casais que o procuravam.

Seguiu-se um processo que hoje nos pode parecer estranho, mas que na altura parecia fazer sentido: Valentim foi acusado, julgado e condenado por fazer o que andava a fazer. A sentença não foi propriamente ligeira: Valentim foi condenado à morte à bastonada e subsequente decapitação. E assim se fez. Transitou em julgado, penso que é o termo.

Reza a lenda que Valentim deixou na sua cela uma carta de despedidas à filha do carcereiro(!). A carta terminava com um simpático "Do teu Valentim". Daí aos postalinhos, às caixas de bombons e aos perfumes, não foi mais que uma sucessão de saltinhos graciosos, de nenúfar em nenúfar, de século em século, até aos nossos dias.

1 comment:

Anonymous said...

Ah... então também deve ser daí que vem o "até ao lavar dos cestos é vindima"... Cá me parece que o santo, de santo não tinha nada... até pela filha do carcereiro perdeu a cabeça, enquanto a tinha.