"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

30.6.07

Adoro as frases dos outros (III)

"Estou a afogar-me nos abismos da minha preguiça".

Esta é da autoria da senhora minha filha, Maria Pilar. E frase nenhuma poderia descrever melhor o estado de espírito do Desinfeliz e o facto de o mesmo ter apenas interrompido com este ligeiro sobressalto a sua prolongada letargia, que vai prolongar-se ainda mais. O Desinfeliz vai a banhos a partir de amanhã (que já é hoje).

Adoro as frases dos outros (II)

"Nenhum trabalho é melhor que trabalho nenhum"

Esta, de autor/a anónimo/a, está escrita numa parede da Rua Dom Carlos de Mascarenhas, se é que é assim que se chama, ali a Campolide. Quem reparou nela foi a minha filha. E não há mais nada que se possa acrescentar a uma frase destas.

Adoro as frases dos outros (I)

"Corra Portugal de lés a lés
com meias Ferrador nos pés"


Esta vi-a estampada numa carrinha de transporte da certamente reputada marca de peúgas mencionada no fabuloso 'claim', 'slogan', 'assinatura' ou o que se quiser. E quase me fez estampar-me a mim próprio e ao meu respectivo automóvel, em plena 2ª Circular, por alturas do Estádio do Glorioso, que foi quando dei com a carrinha e a frase à minha frente. Saquei do telemóvel, contra todas as leis rodoviárias e do bom senso, e anotei-a. Porque o raio da memória já não é o que era... Mas as boas frases são sempre boas. E mai nada.

14.6.07

Humor lá de baixo, sempre em cima

Mais um exemplo supostamente real e oficial de humor australiano. Tal como o anterior (clicar lá em baixo, em Soltinhas, e depois fazer o favor de procurar e encontrar o post intitulado Humor lá de baixo, ilustrado com um aviãozinho e tudo), este rol chegou-me via mail. Será provavelmente um clássico e eu o último nauta a recebê-lo. Mas achei-lhe piada, que quereis que vos faça? Entre as paredes lá de casa ou as do escritório e o blog, decidi afixá-lo neste.

Tal como no já referido caso pretérito, optei por não me meter a traduzir. My sincere appy polly logies a quem não domina o Inglês and what not. Here we go then, mates. Ou seja, lá vai o copy paste do forward.


The questions below about Australia are all from potential visitors. They were posted on an Australian Tourism Website and the answers are the actual responses by the website officials, who obviously have an excellent sense of humor.

Q: Does it ever get windy in Australia? I have never seen it rain on TV, how do the plants grow? (UK).
A: We import all plants fully grown and then just sit around watching them die.


Q: Will I be able to see kangaroos in the street? (USA)
A: Depends how much you've been drinking

Q: I want to walk from Perth to Sydney - can I follow the Railroad tracks? (Sweden)
A: Sure, it's only three thousand miles, take lots of water.

Q: Is it safe to run around in the bushes in Australia? (Sweden)
A: So it's true what they say about Swedes.

Q: Are there any ATMs (cash machines) in Australia? Can you send me a list of them in Brisbane, Cairns, Townsville & Hervey Bay? (UK)
A: What did your last slave die of?

Q: Can you give me some information about hippo racing in Australia? (USA)
A: A-fri-ca is the big triangle shaped continent south of Europe. Aus-tra-lia is that big island in the middle of the Pacific which does not... oh forget it...Sure; the hippo racing is every Tuesday night in Kings Cross. Come naked.

Q: Which direction is North in Australia? (USA)
A: Face south and then turn 180 degrees. Contact us when you get here and we'll send the rest of the directions.

Q: Can I bring cutlery into Australia? (UK)
A: Why? Just use your fingers like we do.

Q: Can I wear high heels in Australia? (UK)
A: You're a British politician, right?

Q: Are there supermarkets in Sydney and is milk available all year round? (Germany)
A: No, we are a peaceful civilization of vegan hunter/gatherers. Milk is illegal.

Q: Please send a list of all doctors in Australia who can Dispense rattlesnake serum. (USA)
A: Rattlesnakes live in A-meri-ca which is where YOU come from. All Australian snakes are perfectly harmless, can be safely handled and make good pets.

Q: I have a question about a famous animal in Australia, but I forget its name. It's a kind of bear and lives in trees. (USA)
A: It's called a Drop Bear. They are so called because they drop out of Gum trees and eat the brains of anyone walking underneath them. You can scare them off by spraying yourself with human urine before you go out walking.

Q: Do you have perfume in Australia? (France)
A: No, WE don't stink.

Q: I have developed a new product that is the fountain of youth. Can you tell me where I can sell it in Australia? (USA)
A: Anywhere significant numbers of Americans gather.

Q: Can you tell me the regions in Tasmania where the female population is smaller than the male population? (Italy)
A: Yes, gay nightclubs.

Q: Do you celebrate Christmas in Australia? (France)
A: Only at Christmas.

Q: I was in Australia in 1969 on R+R, and I want to contact the girl I dated while I was staying in Kings Cross. Can you help? (USA)
A: Yes, and you will still have to pay her by the hour.

Q: Will I be able to speak English most places I go? (USA)
A: Yes, but you'll have to learn it first

11.6.07

Tuguíadas com concorrência de peso


"(...)
E entre gente remota identificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
"
Aníbal Cavaco Silva, P.R.P., 10/6/MMVII

O Desinfeliz é edificante! O Desinfeliz é um marco na História! De Portugal e da Literatura! O Desinfeliz é a vanguarda, não da classe operária, que está em total declínio e não interessa a ninguém, mas da classe apolítica, que é em si mesma a vanguarda, para não dizer a herdeira, da classe política, também ela inapelavelmente ultrapassada pelo espírito dos tempos.

A classe apolítica, superiormente representada pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva, num breve mas elucidativo momento de desinspiração, que não pode senão ter sido inspirado no Desinfeliz, assinalou o 10 de Junho com uma versão alternativa d'Os Lusíadas. Apresentado ao Mundo, incluindo Portugal e as Comunidades Portuguesas, como uma referência a Camões, tratou-se na verdade de um discreto piscar de olhos a'Os Tuguíadas (para não lhe chamar plágio).

Cavaco, um homem mais pragmático e menos auto-limitado que o Desinfeliz, levou a sua versão d'Os Lusíadas mais longe, em termos formais. Tomou liberdades com a métrica, acrescentando uma sílaba, coisa que o Desinfeliz tem tentado evitar. Mas é isso que se espera de um Presidente, e que não se pode exigir a um mero blog: acrescentar qualquer coisa. Para atadinho, já tivemos o Sampaio.

1.6.07

Um bom filme é...


Em querendo, tudo se pode complicar à exaustão. Mas há quem tenha o dom de não o fazer. Há quem use o poder do cérebro para simplificar e não para confusionar, tal como há quem use os dedos para tocar piano e não para tirar macacos do nariz.

Não é o meu caso, como qualquer blogoleitor minimamente atento e isento pode constatar por aí abaixo. Socorro-me, por isso, do poder dos outros. Cito os mestres, tentando apenas respeitá-los, sendo tão fiel às suas palavras quanto me é possivel.

Vamos a um caso concreto. O tema, como o título e a imagem poderão, de alguma forma, indiciar, é Cinema. Em conversas sobre o tema cai-se, por vezes, na questão primordial de saber qual é o critério, se é que o há, para distinguir um bom filme de um filme que não é bom. E, muitas dessas vezes, quando se resvala para a metafísica do cinema albanês ou para a análise semântica do frame contra-picado, não se chega, obviamente, a lado nenhum. Perde-se, quase sempre, a vontade de ir ver o filme que despoletara a conversa e muda-se de assunto. Mas já é tarde de mais, a cabeça já não quer saber de mais assunto nenhum.


Tenho um amigo que por sua vez tem outro amigo (do qual, infelizmente, não sei o nome, para lhe prestar a justíssima homenagem que merece) que tem sobre esse assunto uma visão 100% objectiva. A Lei de X (sendo X o amigo do meu amigo) é simplicíssima. Pode não se concordar com ela, tal como pode não se concordar que o limite máximo de velocidade numa auto-estrada seja de 120 Km/h. Mas é impossível dizer-se que não se entendeu o conceito.

Para contextualizar minimamente a Lei e apreciar simultaneamente a simplicidade cristalina com que se aplica, supunhamos que fomos ver o filme Y. O amigo X não viu o filme. Encontramos o amigo X e dizemos-lhe:

"Fui ver o filme Y. Viste?"

"Não", diz o amigo X. "É um bom filme?"

Aqui, nós, os que não conhecemos o amigo X, sem o saber já nos estamos a aproximar muito da Lei de X. Estamos à beirinha de a conhecer. Seja o que for que dissermos, ele vai enunciá-la, em termos que qualquer imbecil entende. Porque, seja o que for que nos ocorra dizer ou perguntar, só irá no sentido de complicar a questão. E o amigo X não vai por aí. Vamos supor que a nossa pergunta é:

"O que é para ti um bom filme?"

"Tem mamas?", é a questão que o amigo X prontamente coloca.

"Desculpa...?"

"Perguntei-te se tem mamas. Há alguma parte do filme em que se vejam as mamas de uma gaja? Nem que seja só por um bocadinho?"

"Uhh... Não... Acho que não... Por acaso não, mas olha que..."

"Isso não é um bom filme", atalha o amigo X, antes que a gente se ponha para ali a contar o filme todo do princípio ao fim. "Para mim, um bom filme tem que ter mamas. E se não tem mamas, não é um bom filme". Simples, claro, sem duas leituras possíveis.

Não conhecendo pessoalmente o Mestre X, não sei se a conversa terá seguimento, no caso de o filme não cumprir a Lei de X. Duvido. Mas é um poderosíssimo instrumento de medida, um critério universal e aplicável a todo e qualquer género de filme e/ou de espectador. E isso, em certos temas de conversa, pode fazer muita falta.

O bom velho Coutinho é que sabe

Esta apanhei-a numa das tais crónicas do ex-puto João Pereira Coutinho, e é uma das tais provas de que nem tudo na vida tem de ser complicado e/ou relativizado. Há coisas que são como são. Haja quem as diga ou escreva bem e, de preferência, de forma sucinta. Depois haja quem as oiça ou leia, ou seja, quem as divulgue (um puto dos de hoje usaria provavelmente o verbo partilhar, e não o divulgar, mas vai dar no mesmo).

Neste caso, a propósito do valor da conversa, do conversar pela noite e pela própria conversa fora, por oposição ao falar por falar ou só para dizer uma porcaria qualquer, o ex-puto cita um tal Dr Johnson (que humildemente confesso que não conhecia até me ser apresentado na Avenida Paulista pelo bom velho Coutinho; note-se também que, pelo contexto, presumo que o Dr Johnson tenha exposto a sua ideia por alturas do século XVIII, pelo que haverá que introduzir na frase o elemento inflação e ter em conta que a meia-noite de então corresponderia, no mínimo, às nossas 2 ou 3 da manhã):

"Whoever goes to bed before midnight is a rogue".


Sem ir ao dicionário em busca da tradução convencionada para 'rogue' (deixo esse exercício ao estimado blogoleitor) permito-me uma adaptação livre para o português de hoje:

"Um gajo que se deita antes das 2 da manhã é um bandalho".

Ou, tentando recuar ao português dos tempos que presumo terem sido os do Dr Johnson, qualquer coisa como:

"Aquele que recolhe ao leito antes da meia-noite não passa de um biltre".

Simples, conciso e (salvo casos pontuais de estrita imposssibilidade de proceder de outra forma, por qualquer razão de força maior) verdadeiro. Claro que há sempre as excepções que confirmam a regra. Conheço bem, e estimo muito, duas ou três pessoas que gostam de se deitar cedo e que para além disso também são excelentes pessoas, com as quais dá imenso gozo conversar sobre variados assuntos. Por acaso, ou talvez não, não me lembro de nenhuma delas alguma vez ter interrompido uma boa conversa, fosse a que horas fosse, a dizer que lamentava imenso mas estava na altura de ir para a cama.

Mais que uma opinião, o que o Dr Johnson exprime (e o velho Coutinho tão bem relembra e dá a conhecer aos ignorantes como eu) é uma Lei da Vida. Por oposição àquilo que o bom velho O'Neil (o Alexandre, o Grande) poderia ter rotulado como um decreto da vidinha, tudo em minúsculas e no diminutivo mais que perfeito.