"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

30.1.07

Pérolas Vermelhas (I)


Como referi de passagem há alguns posts atrás, tenho atravessado uma fase de alguma indefinição naquele ponto sensível do "na cama com quem?". Comecei por disfarçar a crise com o roupão do Tolkien, já aviei o Pulido Valente e o Paiva Couceiro e, não sei bem porquê, ainda não me deu para me meter com o Rushdie. Vai daí, eis-me de novo na cama com o Estaline & Cª.

O calhamaçov, para além de incómodo, não é particularmente bem escrito e nem sequer está muito bem estruturado. Mas, daquele mar de sangue, vão emergindo algumas pérolas. Exemplos:

Por alturas de 1937 o camarada Estaline faz uma visita à mãe, que se encontrava adoentada. Seria a terceira vez que ia ver a senhora desde a Revolução (em 20 anos, portanto). O que se segue é uma breve mas elucidativa amostra da conversa entre os dois.

— Por que é que me batias tanto? — pergunta o filho.
— Foi por isso que te saíste tão bem — responde a mãe. E pergunta, por sua vez: José, o que és tu exactamente, agora?
— Bem, lembras-te do czar? Sou uma espécie de czar.
— Tinhas feito melhor indo para padre.
O comentário terá deliciado Estaline.


Outro exemplo, sem sair do seio familiar: Artyom Sergeev, filho adoptivo de Estaline, recorda ouvi-lo gritar com Vassili (filho de sangue e de matrimónio) por este explorar em benefício próprio o nome do pai.
— Mas eu também sou um Estaline — protestava Vassili.
— Não, não és — respondia-lhe Estaline. — Tu não és Estaline e eu não sou Estaline. Estaline é o poder soviético. Estaline é aquilo que é nas notícias e nos retratos. Não és tu, nem sequer eu!

Alargando um pouco o círculo para os amigos mais chegados, chegamos ao ambiente de descontracção de umas férias primaveris, numa qualquer dacha. Estaline e Pavel Alliluyev jogavam bilhar com Alexander Svanidze e Stanislav Redens. Quem perdia tinha, tradicionalmente, de gatinhar por baixo da mesa. Quando o par de Estaline perdeu, Pavel sugeriu, diplomaticamente, que os filhos, Kira e Sergei, gatinhassem por baixo da mesa em vez deles. Sergei não se importou, talvez por ter apenas 9 anos, mas Kira, que tinha 18, recusou terminantemente. Insistiu em que Estaline e o pai é que tinham perdido e por isso deviam ser eles a passar por baixo da mesa. Pavel ficou histérico e bateu-lhe com o taco de bilhar.

Última pérola do dia (esta é do velho e bom Béria, a propósito de algum desinfeliz que para o caso não importa quem era):
— Deixem-me tê-lo durante uma noite, e eu faço-o confessar que é o rei de Inglaterra.


Mais pérolas virão, eu temo.

2 comments:

Anonymous said...

Com um Béria destes aqui por estas paragens, e o Apito Dourado já tinha passado à história. Era vê-los a confessar tudo e mais alguma coisa. Até a Fátima Felgueira, às mãos do competente Béria, confessaria que era a Monica Belluci.

José, o Alfredo said...

Esse até te punha a ti a garantir que eras do Benfica desde pequenino...