"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
7.1.07
Clubes do coração
Não posso dizer que sou do Atlético desde pequenino. Por este Desinfeliz abaixo, hei-de ter deixado escapar, aqui e ali, uma certa preferência pelo Sport Lisboa e Benfica. Mas há espaço no coração de um homem para mais que um clube. O Olhanense, por exemplo, é um excelente exemplo.
Pequeno será, ainda assim, o coração que não consiga albergar dentro de si a simpatia por mais que dois clubes. No meu músculo cardíaco cabem aqueles com os quais toda a gente simpatiza, como sejam a Académica, o Belenenses, o Vitória de Setúbal, o Real Madrid, o Vasco da Gama (o de Sines, não o do Rio de Janeiro), o Ajax de Amesterdão, mais recentemente o Chelsea... e o Atlético.
Vão perdoar-me os adeptos do Oriental e os de outros clubes geograficamente mais afastados, mas o facto é que a minha vida tem sido uma sucessão de aproximações ao Atlético Clube de Portugal. Começando pelo princípio, nasci lá. Não exactamente na Tapadinha, mas em Alcântara, no Hospital do Ultramar, hoje denominado Egas Moniz. Acabado o liceu e o 12º ano, foi lá, em Alcântara, que cumpri aquilo a que se convencionou chamar estudos superiores. Foi no ISCSP, pertíssimo do Hospital de origem e na direcção da Tapadinha. Foi na porta da Junta de Freguesia de Alcântara que vi afixado, com estes mesmos olhos que neste momento fitam o ecrã, o papel que atestava o meu destacamento para a Reserva Territorial das Forças Armadas. Foi na antiga FIL que vivi a primeira festa do Avante. Foi na mesmíssima FIL que vi a Dina, ao vivo. Foi a bordo de um autocarro da carreira 56, saído da mesmérrima FIL, que pela primeira vez me atirei à moça que é hoje a minha legítima esposa. Foi no/a Promotora que vi pela primeira vez a Laranja Mecânica (a do Kubrick, não a selecção holandesa). Muito recentemente, vivi lá durante três anos. Lá, em Alcântara, a escassas centenas de metros desse mítico campo da Tapadinha. Quantas vezes, em faltando o tabaco a horas avançadas, foi ao Bingo do Atlético que recorri para me abastecer. Aí fui sempre recebido com enorme simpatia. Sempre me deixaram entrar com o cão (não na sala de jogo, note-se, mas no hall de entrada, onde se situa a máquina de dispensação automática de maços de cigarros) e nunca me negaram os trocos necessários à operação. É ao restaurante do Mercado de Alcântara que me dirijo, de quando em vez, para comer um salmonete grelhado em condições, ou mesmo mais que um...
É por tudo isto que sinto que, afinal, até posso dizer que sou do Atlético desde pequenino.
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8 comments:
Tinha de ser,
Nem deiza os moços do dragon enxugar as lágrimas.
Abraço
Pois eu não sou, nascido e criado que fui na província. Mas estudei em Coimbra, onde me fiz sócio da Académica numa tarde de copos, o que me coloca muito perto da Bairrada, o prémio de jogo do Atlético.
Essa história da Académica ser um clube «simpático» irrita-me, pá, a mim que sou sócio da Briosa. Ou se é ou não é. «Simpático» é deixar a velhinha passar à frente na fila das Finanças. Ai...
abracinhos
PS-O Politeama perto de Alcântara? Enlighten me, sir.
Não ligues ao Politeama. Deve ter sido confusão derivada ao facto de o La Féria, ou alguém muito chegado, ter sido meu vizinho em Alcântara. Queria referir-me à Promotora. Quanto à Académica, tenho de aceitar o ponto de vista de um Brioso pagante. Mas, no meu conceito de simpático de deixar passar velhinhas à frente, até o Sporting cabe. Não o referi justamente para não ferir susceptibilidades. Erros meus...
Pois eu desde pequenino, pequenino sou é do Man.Utd por influência do meu pai, que apesar de ter passado a sua juventude paredes meias com o Charlton, se tornou adepto incondicional dos red devils aquando do desastre aereo da equipa em Munique em 58, na altura comandada por Sir Matt Busby e a que sobreviveram apenas meia dúzia dos chamados "Busby Babes", isto após aviar o Estrela Vermelha de Belgrado a caminho das meias-finais da Taça dos Campeões, se não me engano. Para o Charlton, portanto, a artéria coronária direita, pelas férias passadas em casa dos meus avós ali mesmo ao lado. Para o Man Utd,a coronária descendente anterior, a tricúspide e a mitral.
O meu irmão, por sua vez, embeveceu-se com o Nottigham Forest de inícios de 80, equipa que dava cartas tanto a nível caseiro como pela Europa fora mas que hoje se arrasta pelas tabelas secundárias de Inglaterra. Portanto, por simpatia fraternal, guardo também um cantinho de um aurículo para estes.
O Farense, por sua vez, por ser a equipa da minha terra e a primeira que vi jogar ao vivo nesse mítico S. Luís, onde passei muitas tardes de mau futebol que recordo com saudade. Bigodes como o do Paco Fortes fazem falta nos nossos estádios. O septo interventricular para eles.
Naturalmente o Sporting, por influência do meu avô materno, que merece a aorta, dois ventrículos e grande parte da veia cava superior.
Há ainda lugar para a Fiorentina, que me encheu as medidas na segunda metade dos 90, com Baggio e Batistuta, entre outros. A descida à Serie C e consequente subida à Serie A em 3 anos, já no novo milénio, apenas veio reforçar a sua posição na artéria pulmonar.
Tudo o resto, que já não é muito, ficou reservado para o tabaco.
Tabaco que não seja Águias, calculo eu.
"com Baggio e Batistuta, entre outros"
Vá, sê forte, ousa dizer o que te vai na alma: Rui Costa.
Sim, por muito que me custe, na altura o Rui Costa ainda jogava à bola. A ele juntavam-se Toldo, Dunga (pouco antes), Brian Laudrup, Effenberg, Massaro, Lacatus, entre outros. Belas equipas, teve esta Fiorentina.
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