"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
18.4.07
O Desinfeliz errou
A estâncias 95 dos Tuguíadas havia um erro. Não quero com isto dizer que os Tuguíadas não sejam, na sua totalidade, um erro. Seria talvez presunçoso, na medida em que lhes estaria a atribuir um mínimo de relevância, que provavelmente não têm nem terão, e que, em boa verdade se diga, pouca falta lhes faz.
Os Tuguíadas, quais rosas, são os Tuguíadas são os Tuguíadas. Mas, tanto quanto possível, sem erros menores do género do que acabei de corrigir a estâncias 95 do Canto I (também conhecido nos mentideros por Canto Único).
Não vou fazer de conta que foi a Edite Estrela, ou o Pacheco Pereira, ou o Maradona, ou um descendente do Camões, ou o 24 Horas, ou mesmo o gabinete de comunicação do Primeiro-Ministro, que detectou o dito erro. Por muito que isso custe a estes e outros vultos e/ou entidades, fui eu próprio que me vi obrigado a dar com o gato e, logicamente, a emendá-lo.
Vem isto a despropósito de uma dúvida que me tem como que atormentado desde que me meti nisto dos Tuguíadas. Diz-se* que, algures no meio d'Os Lusíadas, há um verso errado, um verso que não rima ou que não bate certo na métrica, ou coisa que o valha. A dúvida que como que me atormenta é: a existir esse erro, os Tuguíadas deverão respeitá-lo ou corrigi-lo?
Perante a Obra e o Mestre, qual será o maior desrespeito? Copiar em tudo, até no erro, ou cair na tentação de o corrigir, que mais não é que uma ilusão de o superar nem que seja num mínimo detalhe? Não me é estranha a teoria do erro propositado, muitas vezes usada para 'explicar' os supostos 'erros' dos Mozarts ou outros génios. Nessa teoria, que tem o seu quê de Danbrownesco, o erro será a forma de o genial artista demonstrar a sua falibilidade, a sua mortalidade, a sua condição humana, imperfeita, não-divina.
Moral do post: se e quando descobrir o tal afamado erro d'Os Lusíadas, os Tuguíadas respeitá-lo-ão, ou não, consoante a ocasião.
* A fonte deste 'diz-se' há-de ser um prefácio de uma edição qualquer d'Os Lusíadas. Se alguém se interessasse ao ponto de querer saber ao certo, talvez eu me desse ao trabalho de procurar. Mas não garanto.
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2 comments:
Eu cá acho é que se devia deslindar muito bem se existe erro ou não e, havendo, desmascarar de uma vez por todas a fraude e colocar o Luiz Vaz de Camões de uma vez por todas no seu lugar.
Que continuaria a ser o do maior poeta da língua, apenas não tão grande.
Errare humanum est e Camões merece, no mínimo, a nossa tolerância por tão pequeno erro face a tão grande obra. Da mesma forma deveremos respeitar a decisão de Os Tuguíadas no que diz respeito ao que fazer após a descoberta do erro. Se dependesse de mim, cairia na tentação de o corrigir porque é de cultura que estamos a falar e acredito mesmo que o Camões agradeceria.
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