Ontem à noite, pela primeira vez na minha vida, fui mandado parar por um táxi (livre, por sinal). Só isso já seria interessante, porque as trocas de papéis têm enormes potencialidades. É a velha história do homem que mordeu o cão. Mas a história não fica por aqui.
Ia eu a passear o cão e, simultaneamente, a tentar digerir o conceito de 'bomitar runhenhos de cavelos' que tinha acabado de conhecer numa espécie de magazine da RTP, quando sou chamado por um táxi. Claro que um táxi que quer chamar uma pessoa não pode, simplesmente, esticar o braço e o dedo. O táxi (com a preciosa ajuda do taxista, naturalmente) tem de buzinar e imobilizar-se na via à espera que a pessoa passe. A pessoa, neste caso eu, passa e vê o taxista a fazer gestos que convidam à aproximação.
Apesar de todas as notícias sobre as mais estranhas formas de criminalidade, um homem é um homem e, ainda para mais quando acompanhado por um pequeno mas temível Cavalier King Charles Spaniel, um homem que é mandado parar por um táxi livre tem uma certa curiosidade e aproxima-se. Neste caso, aproxima-se de um bom e velho Mercedes, e aguarda. Não sabe o quê, mas aguarda. Ao fim de um par de segundos em que nada acontece, à excepção de uns gestos estranhos por parte do taxista, um homem apercebe-se que o Mercedes ainda não é dos tempos dos vidros eléctricos. Esta súbita revelação permite, por sua vez, decifrar os estranhos gestos do taxista: é para abrir a porta.
Feito isto, aberta a porta, estabelece-se finalmente a comunicação oral. Eu sou tipo para ter dito "boa noite", ou "diga", ou coisa que o valha. Ele, por sua vez, disse qualquer coisa que me soou como "pláciábeu", ou 'placiabéu', com entoação nitidamente interrogativa. Descartei instantaneamente a hipótese de o homem me estar a perguntar "percebeu?", por duas razões, qual delas a mais óbvia: a primeira é que o homem ainda não tinha dito ou perguntado nada que eu pudesse ter percebido; a segunda é que o homem tinha aquilo a que começarei por chamar um defeito na fala, enquanto não me surge uma definição mais aproximada.
Defeito na fala é o que tem a Judite de Sousa, por exemplo. É o que nos pode fazer ficar na dúvida: a mulher está a falar do fado ou de Faro? Mas habitualmente o contexto encarrega-se de nos esclarecer. Digamos que, se a Judite de Sousa fosse taxista, seria um pormenor que facilmente passaria despercebido. Só notamos um bocadinho mais porque a senhora exerce funções no audiovisual... mas esqueçamos a Judite de Sousa, já que a RTP não o faz, e voltemos ao taxista, que é o que interessa.
O homem emitia sons, com um certo à-vontade nas vogais que nas consoantes lhe escapava completamente. "Pláciabeu?", insistia ele, "Desculpe?", desculpava-me eu. Com mais esforço lá lhe saíu um 'Plácidábeu!' que me levou a um esperançado 'Palácio de Abreu?'. Mas não, não era isso. 'Plácido!Lácido! Ábeu! Pioto!". Agora sim. Posso dizer que arrisquei, mas na realidade já era quase pela certa: "Plácido de Abreu?" Que sim, com a cabeça. "Rua Plácido de Abreu?", já agora, não fosse ser alguma avenida ou praça ou praceta. Que sim, que sim, que sim, com a cabeça. E o taxista ainda acrescentou, para que não restassem dúvidas: "Pioto!" Por esta altura a comunicação já não oferecia grandes dificuldades. "A Rua Piloto Plácido de Abreu?", "Im! Im! Unhece? Õ é?". Infelizmente, como tive que confessar ao esperançado taxista, mudei-me há muito pouco tempo para aquela zona. Sei o nome da minha rua e o de mais duas ou três, entre as quais não figura o Piloto Plácido de Abreu.
Esclarecida a questão, na medida do possível, lá fechei a porta ao homem e o Mercedes lá seguiu em busca da Rua Piloto Plácido de Abreu. No resto do passeio a que o Baggins, o canídeo anteriormente mencionado, tem direito, fui reparando nas placas das ruas. O mais parecido que encontrei foi um Brito Pais, Aviador, mas Plácido de Abreu, Piloto, nada. Uma breve pesquisa na net confirmou-me a existência, naquelas bandas, de uma artéria assim denominada. Aquele taxista, se dispusesse de um simples GPS, não teria mais dificuldades para se orientar do que, digamos, a Judite de Sousa.
Como digo, a pesquisa na net foi breve. Mas mesmo assim permitiu-me apurar que o Plácido de Abreu em questão, sem chegar a ser propriamente um 25 de Abril ou um Francisco Sá Carneiro, dá nome a muitas ruas por esse Portugal afora (mais habitualmente referido como Capitão). Encontramo-lo também na página dos Asas de Portugal, ligado aos primórdios da acrobacia aérea em Portugal. Uma madavilha, esta net, como didia a Judite.
"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
20.11.06
15.11.06
Diz que é uma espécie de perseguição
O PSD queixa-se de que o Governo anda numa de perseguição ao Alberto João. Claro que o papel do PSD é queixar-se do que o Governo vai fazendo. Claro que seria ainda melhor que se queixasse também do que o Governo não vai fazendo e sugerisse alternativas e iniciativas, preferencialmente credíveis e exequíveis, mas isso talvez já fosse exigir demasiado. Agora esta... É como se alguém, para dizer mal do Bush, o acusasse de andar a perseguir o Bin Laden.
10.11.06
Desinutilidades gráficas
Recentemente, vá-se lá saber porquê e para quê, a palavra logotipo foi contemplada com um acento. Supostamente, passou a escrever-se 'logótipo'. Não faço ideia se também se pretende que seja pronunciada assim. Nunca experimentei e não faço tenções. Quanto à forma gráfica, confesso que me vejo obrigado, em certas e determinadas circunstâncias, a adoptar a nova forma. Mas evito o mais que posso. Para coisas esdrúxulas e proparoxítonas já basta a vida.
O que se segue, a propósito ou a despropósito, são três potenciais logotipos. Três formas diferentes de assinar (José, o Alfredo, neste caso). Todas by Tolkien, como é bom de ver. Runas de hobbit,
runas dos anões de Moria
e Tengwar, um cursivo desenvolvido pelo próprio Fëanor himself (o criador dos Silmarils, para quem eventualmente não esteja a par de todos os detalhes).
O que se segue, a propósito ou a despropósito, são três potenciais logotipos. Três formas diferentes de assinar (José, o Alfredo, neste caso). Todas by Tolkien, como é bom de ver. Runas de hobbit,
runas dos anões de Moria
e Tengwar, um cursivo desenvolvido pelo próprio Fëanor himself (o criador dos Silmarils, para quem eventualmente não esteja a par de todos os detalhes).
7.11.06
Tuguíadas I, 92/94 (Inclui Euro84 e Mundial86, tudo grátis)
Segue-se um par de décadas vazadas
De resultado algum que se comente,
Nas quais as lusas turmas encavadas
Se viam sempre mais que certamente,
Com algumas façanhas desgarradas
Mas sobre fundo escuro, deprimente.
Deixa de ser das quinas mais amiga
A gente a quem o jogo mais castiga.
Lá chega finalmente a tão esperada,
A tal, sempre adiada, a tal proeza,
De se ver outra vez qualificada
Numa final a turma portuguesa.
Deu-se na Eurocopa disputada
Nos terrenos da gente que é gaulesa.
Teríamos, quiçá, feito mais dano
Não fora Platini, grande magano!
Um par de anos apenas decorrido,
E estamos instalados numa terra
Cujo nome jamais será esquecido:
Saltillo, esse sinónimo de guerra.
Tudo o que mal podia ter corrido,
Correu, e fez ficar então na berra
A nossa equipa, não porque ganhava,
Mas sim porque por tudo refilava.
(...)
Breve olhadela ao Olhanense
Nem tanto ao rubro nem tanto ao negro, é o que se pode e deve dizer sobre o momento actual do Olhanense, esse autêntico porta-estandarte do orgulho algarvio. Claro que o 11º lugar não é, fundamentalmente, um lugar de tranquilidade. Mas (entrando declarada e despudoradamente no domínio do trocadilho fácil e gratuito) já nos deixámos de Balelas e pode ser que o dedo de Álvaro Magalhães, mais cedo ou mais tarde, se faça sentir. No ano passado, por esta altura, tudo ia bem e no fim foi o que se viu. Talvez seja melhor começar malzinho e acabar benzoca. Há que ver a coisa pela positiva: está-se com o dobro dos pontos do potencial primo-divisionário Gil Vicente, com mais de metade dos pontos do primeiro e, no que verdadeiramente conta, à frente do Portimonense.
Limpar as teias de aranha ao Desinfeliz (tentativa nº1)
Quando a workosfera interfere demasiado com a blogosfera quem se lixa é o desinfeliz do mexilhão.
Se alguma coisa a minha vida profissional me ensinou é que o 'é impossível fazer tudo ao mesmo tempo' não passa de uma miserável desculpa, ou, na melhor das hipóteses, de uma análise muito superficial da realidade. Claro que é possível fazer tudo ao mesmo tempo. É até possível fazer tudo ao mesmo tempo e ir dormir a casa todos os dias, ou quase. O que não é possível é incluir um blog, por mais aparvalhado que seja, no 'tudo'. Este, por exemplo, já continha links mortos.
Comecei por aí, por uma actualização dos links, porque tinha mesmo que começar por algum lado. Deixar o Olhanense para depois foi apenas uma opção, como tantas outras.
Lá iremos.
Se alguma coisa a minha vida profissional me ensinou é que o 'é impossível fazer tudo ao mesmo tempo' não passa de uma miserável desculpa, ou, na melhor das hipóteses, de uma análise muito superficial da realidade. Claro que é possível fazer tudo ao mesmo tempo. É até possível fazer tudo ao mesmo tempo e ir dormir a casa todos os dias, ou quase. O que não é possível é incluir um blog, por mais aparvalhado que seja, no 'tudo'. Este, por exemplo, já continha links mortos.
Comecei por aí, por uma actualização dos links, porque tinha mesmo que começar por algum lado. Deixar o Olhanense para depois foi apenas uma opção, como tantas outras.
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