"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

17.12.08

Figuras e figurões


Confirma-se o que confirmado já estava há muito tempo: Santana Lopes é o candidato do PPD/PSD à Câmara de Lisboa. Não adianta chover muito mais no molhado do espanto, da suposta credibilização do partido que a eleição de Manuela Ferreira Leite supostamente faria supor, do curriculum do candidato, nomeadamente no exercício do cargo a que se volta a candidatar. Não adianta. O facto da candidatura está consumado.

Para que não se consume o facto da eleição (e nos consuma, a nós, lisboetas, a Lisboa, ao país de que Lisboa é capital, ao próprio Mundo a que Lisboa nunca pode deixar de ambicionar pertencer) o que adianta é pensar no que fazer para que Santana não se alape novamente ao tacho e à montra. António Costa aproveitou e bem o tempo que o PPD/PSD lhe deu com o vai-não-vai, é-o-nosso-candidato-não-é-ainda-o-nosso-candidato, pode-ser-que-sim-pode-ser-que-não. A imagem da cigarra e da formiga resume e ilustra bem a situação, dramatiza o que há para dramatizar em época de vacas escanzeladas, chama os bois pelos nomes, é simples e ainda tem a grande vantagem acrescida de ser verídica. Em termos de eficácia de comunicação, que é justamente o terreno em que Santana Lopes se arrisca sempre a triunfar, António Costa dificilmente conseguiria melhor.

Não sei se o PS estará preparado para seguir o exemplo a nível nacional. Claro que ainda nem sequer há a certeza de que seja Ferreira Leite a encabeçar o PPD/PSD nas legislativas (já dando de barato que o PPD/PSD chega às legislativas), mas essa é certamente a hipótese de trabalho que estará em cima das mesas do Largo do Rato (se é que as mesas não estão todas em S. Bento). A imagem da Avózinha e do Lobo Mau parece-me bastante apropriada para esse duelo. A Avózinha dispensa explicações e Sócrates, para além da aptidão natural para o papel do Lobo Mau, conta com uma conjuntura em que o povo (que talvez se possa equiparar ao Capuchinho Vermelho) prefere dentes afiados a dentaduras postiças.

A esquerda, ou melhor, as esquerdas, por muito que lhes dê para crescer, serão sempre os Sete Anões. Por vontade própria e, ou muito me engano, por vontade dos portugueses, que também não hão-de as fazer crescer assim tanto. A comparação com os hobbits Merry e Pippin seria talvez mais adequada, especialmente se nos lembrarmos do episódio em que bebem aquela excelente água dos Ents e crescem um bocadinho, sem no entanto deixarem de ser hobbits, mas os Sete Anões percebe-se muito mais facilmente e tem a vantagem de sugerir imediatamente a Branca de Neve para o papel de Paulo Portas. Quanto a Manuel Alegre, ainda está a tempo de escolher o seu personagem. Tudo indica que se vê como o Flautista de Hamelin, mas não é de excluir a hipótese de continuar Godot. Ou Super-Pateta. Who cares.

Só espero que o fabulário não entre no registo tão português do compromisso, que seria Sócrates a querer fazer-se passar por Lobo Bom. Aí, poderíamos ter um João Ratão a cair no caldeirão e, escusado será dizer, num cenário desses quem se lixa ainda mais é o Capuchinho. Ou seja, nós, os pequenotes.

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2 comments:

Mike said...

Não estás a atribuir demasiada inocência ao Capuchinho? Cá para mim nós somos os anões.

José, o Alfredo said...

Vejo-nos mais como a canalha, sempre capaz de grandes asneiras e de grandes feitos, inimputável mas sempre sujeita aos maiores castigos, cruel e generosa. Inocente? Às vezes...