"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

5.8.08

Os Tuguíadas erraram


Derivado à recente vaga de mais informação sobre o Caso Maddie, o Desinfeliz constatou erros seus que contaminavam as últimas estâncias dos Tuguíadas (calma, calma, as últimas estâncias publicadas, não abram já o champanhe).

Quem, estando de férias ou em adiantado estado de decomposição mental, sentir que não tem nada melhor para fazer, poderá ir aqui e comprovar que, onde antes se viam dois cocker spaniels (supondo que não eram dois cockers spaniel), surge agora um exemplar de Springer Spaniel Inglês (em maiúsculas por ser bastante mais raro e consideravelmente maior que o cocker). Se o seu caso é daqueles clinicamente mais desesperados (refiro-me às pessoas que lêem o que vem por baixo das fotos), poderá até reparar que agora temos spaniels, no geral, onde antes tínhamos cockers, no particular.

Não se julgue que este tipo de opção é fácil, porque não é. O google resolve o problema da imagem em menos de um forfo (ou será fórfero?), e quase sem intervenção humana. Em sabendo, como sei agora, que a bicharada é springer, e não cocker, é só chamar o google, dizer busca! busca! com convicção e depois escolher a caça. Não custa nada.

Já no que concerne às palavras, o problema é totalmente outro. Aí, os problemas como que se desmultiplicam e subdividem, ao mesmo tempo que se exponenciam e decompõem, os sacanas. Ao saber que a sua obra (rigidamente espartilhada pela rima e pela métrica, note-se bem) se encontra contaminada por erros grosseiros de casting canino, qualquer um pensaria que está literalmente tramado. Passado o pânico inicial, qualquer um que se veja nessas circunstâncias recupera a respiração e o ritmo cardíaco ao verificar que o cocker se encontrava no primeiro terço de um verso, longe das zonas de sílaba tónica, onde tudo se decide.

Quando se percebe que springer tem exactamente as mesmíssimas duas sílabas que cocker, esse alívio inicial dá lugar a uma quase euforia. Um estado de espírito que, habitualmente, não é senão o prenúncio de alguma desgraça. Que é o que acontece quando um (eu, portanto) se dá conta de que, desgraçadamente, até pode escolher entre um substantivo mais comum, como spaniel, e um mais particular, como springer.

Entre os já referidos ociosos e/ou alucinados que ainda se encontrem a ler isto, poderá haver algum (atento e mauzinho, como só essa gente que se põe a ler coisas consegue ser) que encolha os ombros e cuspa para o chão em sinal de desprezo, se for de cuspir para o chão. Ou que vá logo apontar o erro nos comentários, se for mesmo porco. É que essa questão, essa possibilidade, já se punha quando um (eu) optou por cocker e não por spaniel. Daí a acusar um (a mim, concretamente) de mentecapto ou simplesmente aparvalhado, não vai muito.

Para que ninguém chegue a tal ponto, um (eu) deverá dar-se ao trabalho de argumentar que a mudança das circunstâncias pode mudar o próprio homem. Isto de um (um qualquer, diria eu) saber que os alegados cockers afinal são springers muda tudo. Ao expurgar do erro a estância em causa, um (se um quiser considerar-se precavido), em podendo, evitará cometer novamente o mesmo erro no mesmo verso. É assim que um (eu) dá por si a substituir a imagem dos cockers pela do springer e o familiar cockers pelo genérico spaniels, quando toca às palavras. Nunca se deve subestimar o efeito da mot juste, mesmo tratando-se de uma francesice e mesmo quando o assunto são chinesices sobre cães ingleses genericamente chamados espanhóis.

Julgáveis que a vida era fácil? Desenganai-vos. Fácil é vir ao Algarve com três putos e deixar um de souvenir, ao invés de o levar, que já está tão visto. Ou de recuerdo. Ou de memento. Um não sabe.

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