"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

7.9.06

A velha história dos 2 pesos e das 2 medidas


Claro que a história é velha como o mundo. É ver o tratamento diferenciado que Deus providenciou para o Adão e para a Eva, para o Abel e para o Caim, para o Jacob e para o Esaú, para o José e para os seus irmãos (para já não falar da desgraçada da irmã) e por aí fora. Mas nem é preciso ir tão longe. Basta ir a Inglaterra, comer onças, beber pintas e no fim pagar em libras. Muitas libras, eu digo. Justos céus. Mas adiante.

Um dos exemplos mais flagrantes é a total discrepância na designação de seres, grupos, entidades ou instituições, no contexto das notícias e mesmo das aparentemente mais isentas. Exemplo: a propósito do chamado conflito do Médio Oriente, surgem sempre referenciados "o povo palestiniano" ou "os povos árabes", por um lado, e do outro nunca aparece "o povo israelita". A julgar pela esmagadora maioria das notícias, o conflito é entre Israel, um estado sem povo, uma entidade quase abstracta, e os árabes/os muçulmanos/os palestinianos, uma confusão desordenada de seres humanos sem governo(s) e sem governante(s).

O curioso é que isto não acontece (só) no Avante! ou em folhetos do Hamas. Isto acontece da mesma maneira no Diário de Notícias, no Público, no Expresso, na RTP, na SIC, na TVI, em toda a parte. É sem querer. Não é por mal. Mas lá que é revelador, é.

2 comments:

L. Rodrigues said...

Há um duplo padrão mais básico. Nós e todos os outros. Cada um de nós olha para si, julga-se e valoriza-se por critérios que não estende ao resto da humanidade.

Quanto ao conflito em questão, não vejo maior exemplo de dois pesos e duas medidade do que um grupo dizer para o outro: nós temos o direito divino e histórico de viver aqui e vocês não, xô!

Noutros contextos isso chama-se, simplesmente, racismo.

José, o Alfredo said...

No conflito em questão (que já extravaza cada vez mais para o conflito em que estamos) quem disse logo em 1947 e mantém até hoje que os outros não têm o direito de estar ali foram os outros, não foram esses. Claro que, na prática, os israelitas têm feito merda com fartura. Mas não há nada, nem nos fundamentos do sionismo nem no discurso do estado de Israel, que se assemelhe ao "vamos encher o Mediterrâneo com o sangue dos judeus". Se tem havido ali racismo, para além do anti-judeu, é o anti-palestinianismo primário da maior parte dos supostos irmãos e amigos árabes.