"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

9.6.08

Deutschland über uns


Há bocado, a ver o Alemanha-Polónia, cuidei que tinha gravado sem querer o jogo de ontem e que o estava a rever. Às tantas lembrei-me que não tenho tecnologia gravadora acoplada ao televisor e comecei a desconfiar. Quando vi a forma como a equipa que estava a ganhar geriu a vantagem, tive a certeza: a Turquia e a Polónia andam ela por ela, mas a Alemanha não é Portugal.

Portugal até pode, um dia, chegar lá. E esse dia até pode ser já a 29 do corrente. Se necessário fosse, a Grécia provou em pleno Dragão e especialmente em plena Luz que não há impossíveis. Mas há improváveis. Não sendo obviamente certo, como nada o é no futebol, é muito mais provável que seja a Alemanha a levantar o caneco. Por isso é que quem apostou na Alemanha ganha menos do que quem apostou em Portugal. São as probabilidades, estúpido (este qualificativo não se destina a si, caro acompanhador do Desinfeliz, e sim ao Paranormal).

Qual era a probabilidade de uma equipa como Portugal, que já tinha chegado mais que uma vez às meias-finais de Europeus e Mundiais, chegar à final de um Europeu em casa? Elevada. Qual era a probabilidade de a Grécia, que nunca tinha sequer chegado a uma meia-final, pôr as patas na relva da Luz? Baixíssima. E no entanto aconteceu. Tendo acontecido, qual era a probabilidade de uma equipa como Portugal, a jogar num estádio como o da Luz, perder pela segunda vez com a Grécia em menos de um mês? Quase total. Porquê? Porque ia ser dirigida pelo Paranormal.

Recapitulemos muito resumidamente esse trajecto.

Portugal-Grécia: com a equipa que qualquer um (à excepção do Paranormal e do senhor das barbas da Quadratura) via que nunca ia funcionar, perdeu-se com a Grécia.

Portugal-Rússia: ganhou-se sem jogar patavina, com o simples efeito de aproveitar o efeito Mourinho e o factor casa numa prova da UEFA (se alguma vez o Ovchinikov era expulso se estivesse ali a jogar pelo Porto!).

Portugal-Espanha: podíamos ter perdido ou empatado, mas ganhámos. Aconteceu futebol.

Portugal-Inglaterra: nem é preciso dizer nada. Aconteceu um dos tais momentos do Paranormal.

Portugal-Holanda: a Holanda esqueceu-se de jogar à bola e a malta não. Ganhou-se o único jogo desse Euro como deve ser.

Portugal-Grécia: a overdose de bandeiras, motas, barcos, cavalos e cavalgaduras, raras vezes vista depois de uma vitória e nunca antes, conjugada com a pequena amostra do que é uma verdadeira torcida num jogo de futebol (a grega), que chegou e sobrou para as 50 mil tias que garantiram lugar na Luz, tudo isso somado ao esvaziamento do efeito Mourinho e ao facto de se ter um Paranormal a orientar a equipa, fez com que a Santinha do Caravaggio alegasse, com toda a justiça, que já tinha entregue o que lhe competia, naquele mesmo estádio, contra a Inglaterra. Perdeu-se, muito naturalmente, porque não se fez rigorosamente nada para ganhar. Contra uma equipa que, como até o senhor das barbas sabia que ia acontecer mas o Paranormal pelos vistos não, fez tudo para não perder.

Claro que o palmarés da Alemanha a ajuda, e não é pouco. Mas lembram-se do Mundial de 2002? O tal em que o palmarés do Brasil engordou mais um pedacito e o do Paranormal atingiu os píncaros? Lembram-se do primeiro jogo, por sinal contra a Turquia? O Brasil não perdeu esse jogo porque a Turquia foi, pura e simplesmente, roubada à descarada. Nesse jogo estabeleceu-se o recorde mundial de penálti inventado em comprimento, se bem se lembram. Para chegar à final, houve pelo menos mais uma escandaleira monumental (com a Bélgica?). O palmarés ajuda, mas não garante nada. Para isso, especialmente quando se trata do Brasil, estão lá uns senhores com uns apitos e umas bandeirolas.

Ora não foi com ajudas dessas que a Alemanha ganhou há bocado à Polónia (coisa que o Paranormal não conseguiu na fase de apuramento...). Foi a jogar melhor, a manter a cabeça no sítio e a não se encafuar tudo lá atrás assim que se apanhou a ganhar. É assim que as probabilidades de alguns saem por cima das de outros.

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