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Ploc... Ploc... Ploc... Ploc...
Aquele maldito pingo não parava. De cada vez que chovia, enchia um tacho grandinho em meia dúzia de horas. Conseguia ser pior que as melgas no verão, o estupor do pingo.
Ploc... Ploc... Ploc... Ploc... Ploc...
— Puta que pariu aquele cabrão!
Levantou-se, acendeu um cigarro e pegou no telefone. Tocou, tocou, tocou. Finalmente o camelo do senhorio lá acabou por grunhir qualquer coisa do outro lado, o que nem sequer é hábito dos camelos.
— Se eu sei que horas são? Claro que sei. Quer que lhe diga? São quatro e meia da manhã e... Teja caladinho e cale-se. São quatro e meia da manhã e eu não consigo dormir. Sabe porquê? Porque você nunca mais arranja a merda do telhado, percebeu? Portanto já sabe. Ou arranja a merda do telhado ou muda de número de telefone porque a partir de agora se eu não durmo você também não dorme!
Desligou o telefone, apagou o cigarro, pensou melhor, acendeu outro, deu duas ou três passas, atirou-o para o meio do molho de jornais que tinha ao pé da janela, meteu numa mochila as poucas coisas de que precisava e saiu, sem saber muito bem para onde ia mas com a certeza de que já devia ter pegado fogo àquela merda há muito mais tempo.
Na primeira cabine que encontrou, tentou ligar de novo para o senhorio, para lhe dizer que afinal já não valia a pena preocupar-se mais com a porcaria do telhado. Só que as moedas não entravam, ou entravam mas caiam logo, ou não caiam mas o outro camelo não conseguia ouvir nada do que ele dizia. Porcaria de cabines.
Tirou um frasco de benzina da mochila, despejou-o em cima do telefone, afastou-se um pouco, acendeu um cigarro, deu duas ou três passas, atirou-o para cima do telefone e seguiu, rumo a uma pensão de que tinha ouvido falar e que tinha a fama de ser frequentada por muitas prostitutas e poucos piolhos.
— Essa vida é fogo, né, bicho?
— Podes crer, chavala, podes crer. Queres um cigarro?
1 comment:
História pirada, esta.
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