"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

24.9.08

Trio reduzido a três

Isto não é nada meu hábito (nem meu nem de ninguém), mas acho que vou dizer bem de qualquer coisa e de alguém que nem sequer conheço. Peço desculpas a todos os desenvolvidos, até porque antevejo que isto pode alongar-se bastante, mas vai ter de ser.

Ontem, o Trio d'Ataque (creio que o apóstrofe não é apócrifo) acabou com uma substituição na posição de pivot. Saíu Carlos Daniel, entrou Hugo Gilberto. Dir-se-ia que foi troca por troca, e foi; que o Hugo Gilberto merece uma oportunidade, e não sou eu que vou dizer o contrário; que isto e que aquilo. Tudo muito certo. Mas nem o Trio d'Ataque é um programa como os outros nem o Carlos Daniel é um pivot como os outros.

Sem desprimor para o Hugo Gilberto, e muito menos para o Miguel Vítor, fiquei com a sensação de que este último tinha acabado de entrar para ocupar o lugar do Mozer ou do Ricardo Gomes. A coisa é a esse nível.

Para mim, o Trio d'Ataque foi durante muito tempo o único programa decente sobre bola. Mais que decente: óptimo. Dir-se-ia que muito do mérito cabe ao trio strictu sensu (Rui Moreira, António-Pedro Vasconcelos, Rui Oliveira e Costa — por ordem de entrada em cena, da esquerda para a direita). Dir-se-ia muito bem, mas não se diria tudo.

Dir-se-ia muito bem, quanto mais não fosse, porque nunca o Benfica tinha estado representado num destes painéis por alguém que não me envergonhasse um pedacito. António-Pedro Vasconcelos está à altura da responsabilidade, e só isso chegaria para elevar o nível de qualquer painel destes. Os três grandes com o único verdadeiramente grande dos três em sub-rendimento não tem grandeza nenhuma. Não vou citar nomes (o único que quero ressalvar é o de Leonor Pinhão, que muito me custa ter de meter no mesmo saco dos outros todos), mas em todos os restantes programas do género de que me lembro o/a representante do Benfica era uma espécie de Moreto ou de Bossio que estava ali mais para ajudar as partes contrárias do que propriamente para defender fosse o que fosse.

Os Ruis, o azul e o verde, por sua vez, conseguem algo de raro nas colectividades que representam, que é não deixar o seu anti-benfiquismo toldar-lhes totalmente o discernimento e falar de bola como as pessoas (não vou ao ponto de dizer que não são anti-benfiquistas, porque não quero ser acusado de incitamento à violência se por alguma razão os Super Dragões ou a Juve Leo vierem aqui e depois coiso).

Mas por muito bem que se tivesse dito isto tudo, não se teria dito tudo sobre isto. Ou seja: os atacantes são bons, porque são, mas só isso não me chega para me explicar o quanto tenho gostado de ver o Trio d'Ataque. O Kempes também era muito bom e o Canniggia não era nada mau, mas a malta lembra-se é da Argentina do Maradona. Os outros dez eram, todos e cada um, óptimos — mas era o Benfica de Eusébio. E o Portugal de Eusébio. A Alemanha do Beckenbauer. A Holanda do Cruyff. O Olhanense de Messi. Não há equipa nenhuma, daquelas que nos enchem, que não contenha um primus inter pares.

No Trio d'Ataque, esse alguém era inegavelmente o Carlos Daniel. Talvez por vivermos na época em que se discute com quantos trincos se deve jogar, ele tem sido o tal pivot dos sonhos de qualquer equipa. Não é ele que vai para as primeiras páginas, mas é ele que vai às dobras. Não marca mas dá a quem dá a marcar. Não é só ele que ganha mas é o único que nunca se perde. E não tem necessariamente que ser discreto ou invisível. Mesmo numa equipa em que brilha um Figo, um Rui Costa e um João Pinto, ele (o Carlos Daniel) é um Paulo Sousa. Até o Pacheco Pereira, se visse um jogo (perdão, um programa), perceberia de que é que eu estou a falar.

No caso concreto do Trio d'Ataque, vou um pouco mais longe. Vou ao ponto de dizer que o trio A-PV-RM-ROC não chega propriamente ao nível de um trio Figo-Rui Costa-João Pinto. Mas quem é que chega a esse nível? Será possível chegar lá, num simples estúdio de televisão, a dizer coisas? Creio bem que não. O trio A-PV-RM-ROC é o melhor possível, tanto no plano individual como em equipa, mas só consegue as exibições e os resultados que consegue porque há ali no meio um CD, esse sim, verdadeiramente genial (não, não há que recear o exagero nos adjectivos; o tema é bola e bola sem exaltação é curling, não é futebol).

O meu ponto é o seguinte: não chego ao absurdo de dizer que o Carlos Daniel conseguia agora pegar no Seara, no Aguiar e no Dias Ferreira e pôr aquilo a funcionar decentemente. O próprio Maradona, se tivesse lá o Fernando Aguiar (perdão, Seara), o Fernando (perdão, Guilherme) Aguiar e o Dias Ferreira (perdão), nunca teria conseguido chegar à final do Itália 90. Há limites para tudo. O meu ponto é que, com outro pivot qualquer, sem a tal qualidade Paulo Sousiana de Carlos Daniel, o trio RM-A-PV-ROC, ao invés de nos chegar a fazer recordar Figo-Rui Costa-João Pinto, poderia facilmente atingir um nível de Rentería-Pesaresi-Purovic.

Posto tudo isto, teremos então os Três Mosqueteiros sem o D'Artagnan, sem o único que daqui a umas dezenas de anos toda a gente recordará como O mosqueteiro. O homem diz que tem mais que fazer, que a RTPN agora não sei o quê e mais qualquer coisa que me escapou. Resta-me reprogramar o cérebro para deixar de evitar não fugir ao Domingo Desportivo, ou seja, lembrar-me de ver aquilo. Três craques não garantem uma boa equipa, ou o Benfica a esta hora já seria quase campeão, mas CD+LFL+JVP tem tudo para poder dar certo, apesar do nome... Domingo Desportivo... não terá ocorrido a ninguém dar outro nome àquilo?

Claro que também continuarei a ver o que se passa no Trio e posso até estar a cometer uma enorme injustiça no que toca ao Miguel Vítor (perdão, Hugo Gilberto). Mas o que é que querem? Deu-me para dizer bem do Humberto Daniel.

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2 comments:

Anonymous said...

Estou baralhado. Por momentos pensei que estavas a desconversar.

José, o Alfredo said...

É verdade. Deu-me para falar a sério, o que é que se há-de fazer?