Será que estou a mudar de hábitos? Na minha idade? Não me parece. A explicação mais simples é quase sempre a melhor e, neste caso, a explicação mais simples é que não se me ocorre mais nada e também não me apetece não postar. Postarei, pois.
E o anúncio é... aquele que apanho e que me apanha a mim na TSF. Categoria Spot de Rádio, portanto. Uma categoria onde a luta pela inanidade é renhida, mas na qual, mesmo assim, há sempre quem se consiga destacar. E o anúncio é... aquele da Sales Force Search (se é que é assim que se escreve) que reza assim:
Se no tempo de Jesus Cristo nós já existíssemos Judas nunca teria sido apóstolo.
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Outra função que a citada catch-line cumpre razoavelmente bem é a de introduzir o tema. Não se limita a chamar a atenção, não é um efeito super-especial ou uma anedota gratuita, o que, em termos de economia narrativa, é muito vantajoso. Porque, no caso do espaço publicitário, a economia narrativa traduz-se directamente em economia de pequenas pipas de euros. Ou seja: as anedotas gratuitas e os efeitos super-especiais não têm mal nenhum em si, são é uma forma mais cara de chamar a atenção. Introduzindo o verdadeiro tema (não lhe vou chamar o reason why para não exagerar nos estrangeirismos e porque, hélas, em rigor não é de reason why que se trata) ao mesmo tempo que chama a atenção dos desinfelizes que pastam na 2ª Circular a caminho dos empregos, a invocação de Jesus Cristo e dos apóstolos não é publicitariamente vã.
Por esta altura é natural que o estimado leitor vocifere baixinho: quando é que este gajo se deixa de oxímoros forçados e merdas e começa, finalmente, a dizer mal do anúncio? É já. É agora.
Vamos dar de barato a questão geral do uso da religião para fins publicitários (eu dou a questão de barato; o estimado leitor, em querendo pronunciar-se por escrito, é ir aqui abaixo ao pé do lapinhos e ajuntar o seu comentário). Se o anúncio fosse bom, no sentido de ter uma boa ideia ou no sentido de explorar muito bem uma ideia qualquer, boa ou má, aplicava-se-lhe a Lei de José, o Alfredo, e prontos, ficava perdoado e abençoado. Lamento, mas não é o caso.
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Claro que os senhores da Sales Force Search podem ter achado que ninguém ia levar a sério a sua comparação (não os aconselho a seguir a mesma estratégia de comunicação em países islâmicos, mas quem sou eu para dar conselhos). Só que, mesmo num país de brandos costumes e de católicos não-praticantes, seja lá isso o que for, corre-se sempre o risco de desagradar profundamente a alguém quando se escolhe a religião como assunto de conversa sem ter a mínima noção do que se vai dizer. E esse alguém pode ser o putativo cliente (para não lhe chamar target, coitado) e não apenas um Desinfeliz que nem baptizado é e que vem para aqui escrever coisas.
2 comments:
Irra, pó qu'avia de te dar... logo tu que nem baptizado és... e não sou eu que digo... e pó qu'avia de lhes dar, aos gajos que criaram o dito anúncio, p'a não falar dos que aprovaram...
coisinha idiota .. foi como apelidei a abordagem dos Head Hunters visados.
Argumentação de peso esta sua aqui escrita .. com um pouco de sorte arrisca-se a ser convidado para colocar algum senso na questão ;)
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