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Como referi de passagem há alguns posts atrás, tenho atravessado uma fase de alguma indefinição naquele ponto sensível do "na cama com quem?". Comecei por disfarçar a crise com o roupão do Tolkien, já aviei o Pulido Valente e o Paiva Couceiro e, não sei bem porquê, ainda não me deu para me meter com o Rushdie. Vai daí, eis-me de novo na cama com o Estaline & Cª.
O calhamaçov, para além de incómodo, não é particularmente bem escrito e nem sequer está muito bem estruturado. Mas, daquele mar de sangue, vão emergindo algumas pérolas. Exemplos:
Por alturas de 1937 o camarada Estaline faz uma visita à mãe, que se encontrava adoentada. Seria a terceira vez que ia ver a senhora desde a Revolução (em 20 anos, portanto). O que se segue é uma breve mas elucidativa amostra da conversa entre os dois.
— Por que é que me batias tanto? — pergunta o filho.
— Foi por isso que te saíste tão bem — responde a mãe. E pergunta, por sua vez: José, o que és tu exactamente, agora?
— Bem, lembras-te do czar? Sou uma espécie de czar.
— Tinhas feito melhor indo para padre.
O comentário terá deliciado Estaline.
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Outro exemplo, sem sair do seio familiar: Artyom Sergeev, filho adoptivo de Estaline, recorda ouvi-lo gritar com Vassili (filho de sangue e de matrimónio) por este explorar em benefício próprio o nome do pai.
— Mas eu também sou um Estaline — protestava Vassili.
— Não, não és — respondia-lhe Estaline. — Tu não és Estaline e eu não sou Estaline. Estaline é o poder soviético. Estaline é aquilo que é nas notícias e nos retratos. Não és tu, nem sequer eu!
Alargando um pouco o círculo para os amigos mais chegados, chegamos ao ambiente de descontracção de umas férias primaveris, numa qualquer dacha. Estaline e Pavel Alliluyev jogavam bilhar com Alexander Svanidze e Stanislav Redens. Quem perdia tinha, tradicionalmente, de gatinhar por baixo da mesa. Quando o par de Estaline perdeu, Pavel sugeriu, diplomaticamente, que os filhos, Kira e Sergei, gatinhassem por baixo da mesa em vez deles. Sergei não se importou, talvez por ter apenas 9 anos, mas Kira, que tinha 18, recusou terminantemente. Insistiu em que Estaline e o pai é que tinham perdido e por isso deviam ser eles a passar por baixo da mesa. Pavel ficou histérico e bateu-lhe com o taco de bilhar.
Última pérola do dia (esta é do velho e bom Béria, a propósito de algum desinfeliz que para o caso não importa quem era):
— Deixem-me tê-lo durante uma noite, e eu faço-o confessar que é o rei de Inglaterra.
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Mais pérolas virão, eu temo.
2 comments:
Com um Béria destes aqui por estas paragens, e o Apito Dourado já tinha passado à história. Era vê-los a confessar tudo e mais alguma coisa. Até a Fátima Felgueira, às mãos do competente Béria, confessaria que era a Monica Belluci.
Esse até te punha a ti a garantir que eras do Benfica desde pequenino...
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