O que se segue é um excerto de um excerto de um discurso imaginado para a boca de Barack Obama, na sua tomada de posse, amanhã, 20 de Janeiro. Não, não fui eu que o inventei, e não, não foi tirado da imprensa portuguesa, que como se sabe é toda controlada pelos judeus e só veicula propaganda sionista, anti-palestiniana e anti-democrática. Encontra-se aqui, no Haaretz, e é da autoria do narigudo do costume, Bradley Burston (tradução e edição da exclusiva desresponsabilidade do Desinfeliz).
Estes dias são dias negros para aqueles que acreditam na paz na Terra Santa. Mas a História já mostrou que a violência pode dar lugar à razão, a novas realidades e a oportunidades insuspeitadas. Cabe-nos a nós procurá-las, explorá-las e acarinhá-las.
Ao povo Palestiniano: neste dia declaramo-nos vossos aliados. Aliados, porque sabemos que o vosso desejo de paz, de um futuro estável e produtivo, de liberdade e auto-determinação, é um desejo real. A vossa causa é justa. O vosso desafio é monumental. Os vossos sacrifícios têm sido heróicos. Mas se queremos que os vossos filhos conheçam a paz, numa Palestina independente, haverá novos sacrifícios a fazer, que não exigirão menor bravura da vossa parte e talvez exijam muito mais.
Tal como escolheis as vossas batalhas, assim tereis de escolher os vossos sonhos. Escolhei a paz. Renovai o vosso compromisso com a coexistência. Fazei essa escolha e nós comprometemo-nos solenemente a ser mais que um intermediário. Seremos vossos defensores.
Aprendemos a vossa história, aprendemos a compreender as tragédias que sofrestes e a dor que suportais. Admiramo-vos pela vossa determinação. Valorizamos a vossa profunda ligação à Terra Santa. Sabemos que não podeis ser quebrados. Sabemos que não podeis ser forçados, que não sereis vergados.
Sabemos que a grande maioria dos Palestinianos ainda deseja uma paz de dois estados para dois povos, mas que deixou de acreditar nessa paz. A nossa própria história, as nossas próprias lutas e sofrimentos mostraram-nos que uma casa onde reina a divisão não se pode manter de pé. Mas aprendemos, ao mesmo tempo, que a cura é possível e renova as forças e a esperança. A cura promove a unidade e, com o tempo, responde à raiva.
Não ficaremos inertes. Comprometemo-nos, em primeiro lugar e acima de tudo, a ouvir-vos. Juntamente com outros parceiros na comunidade internacional, comprometemo-nos a ajudar-vos a reconstruir. Comprometemo-nos, também, a ajudar-vos a reconstruir uma ponte para a paz. Sabemos que muitas pontes para a paz cederam e caíram no abismo. Fazei a escolha, e nós nos comprometemos a ficar ao vosso lado nos vossos primeiros passos sobre essa ponte ainda incerta.
Ao povo de Israel: neste lugar, nesta hora difícil, afirmamos livremente a nossa gratidão pela vossa continuada amizade e sublinhamos o nosso compromisso para com a vossa segurança.
Tomamos a liberdade de vos falar com a franqueza de velhos amigos. O conflito exige, a quem o quer resolver, novas ideias, um novo entendimento e uma renovada vontade de consenso.
Sabemos que, para uma grande maioria dos Israelitas, o objectivo da paz é primordial. Durante os anos 90, Israelitas e Palestinianos aproximaram-se com passos corajosos, tornando-se aliados na busca de um fim para uma guerra sem fim.
Desde então, no entanto, ganhou assinalável terreno uma minoria de extremistas dos dois lados, de inimigos da paz, cujas acções ensombram as vidas da maioria. Floresceram aqueles cujas acções visam ferir o entendimento e a crença na paz.
Para que os Israelitas iniciem a travessia de uma nova ponte para a paz é preciso que haja confiança, e é preciso que haja amigos em quem confiar. Declaramos este compromisso: não ficaremos inertes, a assistir. Estaremos ao vosso lado sobre essa ponte.
Aos Israelitas e aos Palestinianos, a ambos:
Povo algum sobre a terra lutou mais tenazmente ou durante mais tempo pela liberdade, pela justiça e pela segurança. Só por esse facto, enquanto ambos os vossos povos não tiverem uma paz que inclua a liberdade, a justiça e a segurança, nenhum dos dois a terá.
A Terra Santa é, de sua própria natureza, um legado sagrado. Pertence-vos a vós, e também ao mundo. A vossa paz é a paz do mundo.
Acreditar na paz é estimar as crianças, ajudando a criar o seu futuro. Iremos pedir a vossa opinião, e dar-lhe-emos todo o seu valor. Queremos ouvi-la, não só dos dirigentes, mas dos pais, dos filhos, dos netos, do clero. Digam-nos e escrevam-nos o que pensam.
Digam-nos o que sentem, o que temem, o que acreditam que pode ser a solução.
Nós escutar-vos-emos. Não vemos maior honra nem maior imperativo diplomático do que apoiar-vos, a vós, Palestinianos e Israelitas, numa luta tenaz, numa luta contra todos os obstáculos, numa luta pela paz.
- Fim de tradução -
Naturalmente, não se pode esperar que o homem — Obama — dedique tanto tempo do discurso inaugural a uma só questão internacional, mesmo que seja esta. Mas eu — eu José, o Alfredo, o Bradley, o Burston, dirá da justiça dele, se assim o entender e se não lhe cair nenhum qassam na tola — eu cá não me admiro que o homem diga mais ou menos isto, ainda que em menos palavras.
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"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
19.1.09
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