"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália
19.1.09
A isenção em pessoa
Já não é a primeira vez que, a propósito da tendência para a convergência de pontos de vista aparentemente opostos, como por exemplo os da extrema-direita e os da extrema-esquerda, vou buscar este moço. Mas o moço justifica o privilégio de surgir como figura anexa.
Não sei se mais alguém sem ser eu se penitencia a ver o Eixo do Mal. Quando vejo aquilo, que não é sempre e nunca é na totalidade, tenho dificuldade em imaginar que haja mais tontinhos a fazer o mesmo. Mas nunca se sabe. Se é o seu caso, consulte o seu médico de família (a minha não recomendo a ninguém) e/ou passe a dedicar a hora do Eixo do Mal (os 50 minutos, na realidade) à Playstation.
Na última sessão, o assunto-Gaza proporcionou mais alguns momentos de indignação ao moço Oliveira, que esteve a pontos de chamar narigudo ou coisa pior ao Henrique Cymerman. O acesso de cólera vinha a propósito da escandalosa falta de isenção dos meios de comunicação social na cobertura e análise do conflito israelo-palestiniano.
Israelo-palestiniano, note-se bem, nunca israelo-árabe. Na cabeça dos moços como o Oliveira, tal como noutras cabeças ainda mais rapadas, o que Israel tem feito é bater furiosamente nos palestinianos. Qualquer teoria de defesa perante os estados árabes é pura fantasia da propaganda sionista.
Perante a incontida fúria do moço Oliveira, e mesmo antes que este chegasse ao ponto de insultar o Cymerman em termos pessoais, o outro moço gorducho, o Marques Lopes, lá tentou chamar a atenção para qualquer coisa, mas o formato do programa impõe que nunca haja menos de três pessoas a falar ao mesmo tempo, de modo a que o eventual espectador possa receber a todo o momento o máximo de opiniões. Pérolas do pluralismo aos porcos deitadas, é o que é. O exemplo que Marques Lopes queria referir, e bem, era o do Expresso da Meia-Noite da semana passada, em que os quatro convidados competiam para ver quem era mais anti-israelita: Clara Ferreira Alves, Miguel Portas, uma sujeita angariada por ter vivido em Israel e um sujeito da Liga dos Amigos do Peito do Islão.
Vista através da retina do moço Oliveira, a nossa imprensa é um departamento de propaganda sionista. Não sei como é que os narigudos (que como se sabe controlam todas as televisões, os jornais e as próprias revistas de culinária) deixam passar aquelas imagens todas de palestinianos mortos, feridos, desalojados e aterrorizados. Deve ser mais uma pérfida manobra, uma maneira de amplificar audiovisualmente o terror infligido in loco.
Não me admiro que um dia destes o moço Oliveira, ou outro careca qualquer, venha comparar o efeito dessas imagens com as sirenes dos Stukas. Deve ser das poucas comparações que ainda não lhes ocorreu para equiparar os judeus aos nazis (paralelo que, curiosamente, equivale a dar uma espécie de um bocadinho de razão aos nazis... como se alguém de esquerda fosse capaz de uma coisa dessas... silly me). A menos que o moço Oliveira até já tenha falado nisso, mas alguém estaria a falar ao mesmo tempo e eu é que não ouvi. Ou teria ido passear o cão, quiçá.
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2 comments:
Mas não deve andar longe a chegada desse dia. Ou se calhar já aconteceu, estavas tu a passear o cão e eu sei lá onde.
Sabemos lá onde, mas nunca é suficientemente longe desta canalha.
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