"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

1.7.08

Silly season, silly me (Tuguíadas, anyone? II, 7/10)


E quando é que veremos condenados
Aqueles que, por feitos tenebrosos,
Se vão fazendo sempre tão falados?
Mil casos, mui diversos, copiosos,
Os quais as mais das vezes arquivados
Acabam, em processos pantanosos;
Equidade e justiça só desejam
Os Tugas, que entretanto já bocejam.

Se acaso vais à disco Sarabanda
E a noite, que tão calma se mostrava,
Acaba c’um qualquer de cara à banda,
Se alguém dá noutro alguém com uma clava,
A bófia vem mostrar quem é que manda
E quem não for a tempo já não cava:
Assim, com os pequenos são temidos,
C’os grandes ficam sempre adormecidos.

Deu-se o caso, que todos relataram,
Dos MacCanns que de filhos três traziam,
E enquanto c’os amigos se ajuntaram,
Comeram e beberam como queriam,
Até que finalmente repararam
Que as coisas afinal mui mal corriam,
Pois a pequena Maddie já não veio
Levada, dizem eles, pelo meio.

Terá sido descuido ou por maldade?
Procurou-se um raptor desconhecido,
Tomando cegamente por verdade
O que podia ser mui bem fingido,
Sem admitir que muita alarvidade
Vem de quem nos parece mais querido.
No alheio a culpa se buscava
Que no materno seio se encontrava?

(...)

4 comments:

CPrice said...

..terá sido descuido ou por maldade? .. encerra tanta sapiência como todo o poema Caro José .. uma verdadeira questão existencial nos dias que correm.
Gostei de ler.

José, o Alfredo said...

Obrigado pelo incentivo. Havendo quem aprecie, ainda não é desta que arquivo os Tuguíadas de vez. Não sei se não deveria mudar o título para A Última Obra de Santa Engrácia...

Anonymous said...

Não te ponhas com silly ideas. Não arquivas coisa nenhuma, José. Os Tuguíadas já não te pertencem, meu caro. São de quem te lê.

Xica said...

Zezito,
O António Aleixo ao teu lado é um menino (para não falar no Camões que escreveu coisas numa espécie de esperanto que já ninguém consegue traduzir).
Gostei dos Tuguíadas. É o que tenho a dizer neste comentário que te deixo.

Viva a poesia algarvia!