"Pode ser que sim. Pode ser que não. Não posso garantir." - in Astérix, A Volta à Gália

29.9.08

Olhão mete água


Chuvas torrenciais em Olhão, com efeitos especialmente nefastos na Fuzeta e Alfandanga, impediram o Olhanense de se concentrar devidamente na tarefa que tinha em mãos (e pés). Mais preocupados com a segurança e o bem-estar das respectivas famílias e haveres, os moços sucumbiram perante o Varzim. Não sem antes se terem adiantado no marcador, note-se. Ao intervalo, valia o golo de Djalmir. Deve ter sido nessa altura que chegaram ao balneário as inquietantes notícias lá de baixo, envolvendo inundações e consequentes perdas de bens e de sossego. Na segunda parte, Toy arranjou maneira de acumular dois amarelos, provavelmente para poder ir mais rapidamente acudir a alguma situação de emergência, e o Varzim aproveitou-se para dar a volta e fazer 2-1.

Aqui fica o registo, para não dizerem que o Desinfeliz só aborda estes assuntos quando as coisas correm bem. Imaginem que o Olhanense tinha ganho com tudo a seu favor: a jogar em casa, contra o Portimonense, por exemplo, e que só dava 2-0. Em circunstâncias dessas, provavelmente o Desinfeliz nem tocaria no assunto. Nada disso. No Desinfeliz impera o fair-play e não se entra facilmente em euforias de celebração da normalidade.

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24.9.08

Trio reduzido a três

Isto não é nada meu hábito (nem meu nem de ninguém), mas acho que vou dizer bem de qualquer coisa e de alguém que nem sequer conheço. Peço desculpas a todos os desenvolvidos, até porque antevejo que isto pode alongar-se bastante, mas vai ter de ser.

Ontem, o Trio d'Ataque (creio que o apóstrofe não é apócrifo) acabou com uma substituição na posição de pivot. Saíu Carlos Daniel, entrou Hugo Gilberto. Dir-se-ia que foi troca por troca, e foi; que o Hugo Gilberto merece uma oportunidade, e não sou eu que vou dizer o contrário; que isto e que aquilo. Tudo muito certo. Mas nem o Trio d'Ataque é um programa como os outros nem o Carlos Daniel é um pivot como os outros.

Sem desprimor para o Hugo Gilberto, e muito menos para o Miguel Vítor, fiquei com a sensação de que este último tinha acabado de entrar para ocupar o lugar do Mozer ou do Ricardo Gomes. A coisa é a esse nível.

Para mim, o Trio d'Ataque foi durante muito tempo o único programa decente sobre bola. Mais que decente: óptimo. Dir-se-ia que muito do mérito cabe ao trio strictu sensu (Rui Moreira, António-Pedro Vasconcelos, Rui Oliveira e Costa — por ordem de entrada em cena, da esquerda para a direita). Dir-se-ia muito bem, mas não se diria tudo.

Dir-se-ia muito bem, quanto mais não fosse, porque nunca o Benfica tinha estado representado num destes painéis por alguém que não me envergonhasse um pedacito. António-Pedro Vasconcelos está à altura da responsabilidade, e só isso chegaria para elevar o nível de qualquer painel destes. Os três grandes com o único verdadeiramente grande dos três em sub-rendimento não tem grandeza nenhuma. Não vou citar nomes (o único que quero ressalvar é o de Leonor Pinhão, que muito me custa ter de meter no mesmo saco dos outros todos), mas em todos os restantes programas do género de que me lembro o/a representante do Benfica era uma espécie de Moreto ou de Bossio que estava ali mais para ajudar as partes contrárias do que propriamente para defender fosse o que fosse.

Os Ruis, o azul e o verde, por sua vez, conseguem algo de raro nas colectividades que representam, que é não deixar o seu anti-benfiquismo toldar-lhes totalmente o discernimento e falar de bola como as pessoas (não vou ao ponto de dizer que não são anti-benfiquistas, porque não quero ser acusado de incitamento à violência se por alguma razão os Super Dragões ou a Juve Leo vierem aqui e depois coiso).

Mas por muito bem que se tivesse dito isto tudo, não se teria dito tudo sobre isto. Ou seja: os atacantes são bons, porque são, mas só isso não me chega para me explicar o quanto tenho gostado de ver o Trio d'Ataque. O Kempes também era muito bom e o Canniggia não era nada mau, mas a malta lembra-se é da Argentina do Maradona. Os outros dez eram, todos e cada um, óptimos — mas era o Benfica de Eusébio. E o Portugal de Eusébio. A Alemanha do Beckenbauer. A Holanda do Cruyff. O Olhanense de Messi. Não há equipa nenhuma, daquelas que nos enchem, que não contenha um primus inter pares.

No Trio d'Ataque, esse alguém era inegavelmente o Carlos Daniel. Talvez por vivermos na época em que se discute com quantos trincos se deve jogar, ele tem sido o tal pivot dos sonhos de qualquer equipa. Não é ele que vai para as primeiras páginas, mas é ele que vai às dobras. Não marca mas dá a quem dá a marcar. Não é só ele que ganha mas é o único que nunca se perde. E não tem necessariamente que ser discreto ou invisível. Mesmo numa equipa em que brilha um Figo, um Rui Costa e um João Pinto, ele (o Carlos Daniel) é um Paulo Sousa. Até o Pacheco Pereira, se visse um jogo (perdão, um programa), perceberia de que é que eu estou a falar.

No caso concreto do Trio d'Ataque, vou um pouco mais longe. Vou ao ponto de dizer que o trio A-PV-RM-ROC não chega propriamente ao nível de um trio Figo-Rui Costa-João Pinto. Mas quem é que chega a esse nível? Será possível chegar lá, num simples estúdio de televisão, a dizer coisas? Creio bem que não. O trio A-PV-RM-ROC é o melhor possível, tanto no plano individual como em equipa, mas só consegue as exibições e os resultados que consegue porque há ali no meio um CD, esse sim, verdadeiramente genial (não, não há que recear o exagero nos adjectivos; o tema é bola e bola sem exaltação é curling, não é futebol).

O meu ponto é o seguinte: não chego ao absurdo de dizer que o Carlos Daniel conseguia agora pegar no Seara, no Aguiar e no Dias Ferreira e pôr aquilo a funcionar decentemente. O próprio Maradona, se tivesse lá o Fernando Aguiar (perdão, Seara), o Fernando (perdão, Guilherme) Aguiar e o Dias Ferreira (perdão), nunca teria conseguido chegar à final do Itália 90. Há limites para tudo. O meu ponto é que, com outro pivot qualquer, sem a tal qualidade Paulo Sousiana de Carlos Daniel, o trio RM-A-PV-ROC, ao invés de nos chegar a fazer recordar Figo-Rui Costa-João Pinto, poderia facilmente atingir um nível de Rentería-Pesaresi-Purovic.

Posto tudo isto, teremos então os Três Mosqueteiros sem o D'Artagnan, sem o único que daqui a umas dezenas de anos toda a gente recordará como O mosqueteiro. O homem diz que tem mais que fazer, que a RTPN agora não sei o quê e mais qualquer coisa que me escapou. Resta-me reprogramar o cérebro para deixar de evitar não fugir ao Domingo Desportivo, ou seja, lembrar-me de ver aquilo. Três craques não garantem uma boa equipa, ou o Benfica a esta hora já seria quase campeão, mas CD+LFL+JVP tem tudo para poder dar certo, apesar do nome... Domingo Desportivo... não terá ocorrido a ninguém dar outro nome àquilo?

Claro que também continuarei a ver o que se passa no Trio e posso até estar a cometer uma enorme injustiça no que toca ao Miguel Vítor (perdão, Hugo Gilberto). Mas o que é que querem? Deu-me para dizer bem do Humberto Daniel.

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23.9.08

Foi só por um, mas lá ganhámos

Pois é. Foi à rasquinha, foi quase de aflitos, foi pela diferença mínima, mas foi. Valeu o Messi. Sim, o Messi. Não esse outro em que podem estar a pensar, mas sim o africano. Georges Parfait Mbida Messi, natural dos Camarões, 28 anos, médio ofensivo, nº 8 na camisola rubro-negra do Olhanense. Foi ele que, já para lá dos 90, pôs justiça naquele marcador do José Arcanjo: um-zero ao Vizela.


Pensavam que eu ia falar dos 4-3? Não. Isso já lá vai. Isso foi a 31 de Agosto. Rezam as crónicas que foi uma grande injustiça, que ganhou o Sporting errado, que o de Olhão é que merecia, mas o que é que se vai fazer, deu 4-3 para o Covilhã.

São estas coisas (as vitórias à tangente, os Messis, os quatro a três) que atraem público para a modalidade.

16.9.08

Poesia McCannica


Father heard his children scream,
So he threw them in the stream,
Saying, as he dropped the third,
'Children should be seen, not heard.'


Harry Graham (Ruthless Rhyme)

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15.9.08

De volta às frases dos outros

"Except somebody sometimes he liked everybody always."

De um cavalheiro chamado Gerald Kersh, a ler sempre e às vezes também.

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9.9.08

Corsaro mio




Por acasos que não vêm ao caso, reacenderam-se na minha memória os ecos das aventuras de Emilio Salgari. Daí partilhar com vós outros este texto de Paulo Varela Gomes.

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Claro que, entre as minhas memórias e as de Paulo Varela Gomes, há pequenas diferenças de pormenor. Eu comprava-os e posso assegurar que custavam 8$00. 15 mil réis seria um absurdo, uma extravagância, quase uma bicicleta.

Mas, ínfimos detalhes à parte, soube-me tão bem ler estas memórias como me sabia, na altura, chegar a casa com um novo Salgari, acabadinho de sair das penumbras da própria Romano Torres, na Rua Nova de São Mamede, ali à Escola Politécnica, rasgar-lhe as folhas que ainda vinham por abrir (nem sempre com um corta-papel, nem sempre com muito cuidado, que a ânsia era muita e os oito paus desinibiam bastante), e pespegar-me a lê-lo numa postura que não faço ideia onde fui arranjar mas que pratiquei durante bastante tempo e era assim: o livro no chão da sala, aos pés daquilo a que na altura chamávamos um maple, eu também no chão, de joelhos, com a cabeça apoiada no assento do dito maple. Também era nesta figura que me punha para ler outras coisas, evidentemente, mas poucas com tanta voracidade como o Corsário Negro e os irmãos Verde e Vermelho, e a filha, a Iolanda de Vintemilhas, e o Carmaux e o Van Stiller, e o Morgan e o Pedro, o Picardo, e Maracaíbo e as selvas e as tascas e aquilo tudo que este texto veio desassossegar.

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Mamma mia!


Se a minha mãe frequentasse a internet, o que felizmente não acontece, não sei se teria a coragem ou o desplante de partilhar isto aqui.

É o seguinte.

Ontem fui ver o Mamma Mia!! (Este último ponto de exclamação é meu.)

Para além do título italiano, a receita inclui: um libretto sueco; uma ilha grega; uma produção norte-americana; a Meryl Streep; o Pierce Brosnan; uma t-shirt do Johnny Rotten.

Vi e fiquei, como o falecido Américo de Deus Rodrigues Tomás, reduzido a um único adjectivo: gostei.

Ontem, finalmente, percebi o fenómeno do cinema indiano.

8.9.08